Aconteceu: virei gente. Assumi, nos dias atribulados de preparação das ceias de Natal e Ano Novo, um dos pratos oficiais japas das comemorações: o nishime. E mais do que isso: ficou bom! Ficou bonito e saboroso. Fiquei feliz de ver meu pai comendo bem e, crítico austero de temperos mal feitos, ele concedeu o silêncio de aprovação. E repetiu.

Fico pensando séculos antes de postar aqui, porque o grilhão do costume editorial que construí fica me cobrando pacotinho completo. Queria contar aqui com detalhes como fiz, mostrar as fotos, falar como o kombu ...

Do que me lembro: minha mãe preparando furikake em casa. O furikake quebra o sabor branco sobrepondo cores, e é o enfeite mais alegre que pode ter o gohan, alma da comida japonesa. Por isso é o nome deste blog: é a alegria da alma.

Furikake é um tempero à base de peixe seco salgado, servido sobre o arroz. Seja numa porção simples, em onigiri ou ochazuke. Muitas vezes, essa é a refeição do café da manhã, do almoço ou do jantar: uma tigelinha de arroz com furikake, tsukemono e misoshiru. Quentinho, gostoso, 5 minutinhos e fim. Hoje há mil e uma ...

A combinação perfeita e singela do arroz com seus adereços em sushis esconde quem é a estrela. A textura perfeita do ohtoro, do unagi, do iwashi fresquíssimo com gengibre, do tako cozido no ponto certo, do ikura brilhando? Hum... a estrela é aquela essencial. Sem a qual não há. E nenhuma iguaria pode proporcionar o seu sabor completo sem que o gohan esteja perfeito. O arroz errado, mal temperado, mal cozido, ah, muitos, muitos pontos a menos para qualquer sushiya.

A essência: arroz. 

Quando Chihiro estava triste e assustada, Haku, o assistente da feiticeira Yubaba, lhe oferece oniguiris.

Em A Viagem de Chihiro, de Hayao Miyazaki. Tem em DVD. Se ainda não assistiu, não perca.

Olhem só que bonitinha essa ilustração de como fazer um onigiri. Veio deste site aqui, em inglês. Quando era pequena, minha mãe assinava as revistas japonesas para crianças numa Livraria na Liberdade, e que vinham com suplementos para as mães. Receitas, dicas de psicologia, educação e comportamento, uma mini Claudia.

(Essas ilustras são, nesses traços, Japão, inconfundível. E esse gatinho, então?)

Quando finalmente aprendi a fazer onigiri, estava longe da minha mãe, em Tóquio. Fazia pra minha filha, mini-mini-onigiris. E nem bate com a receita dessa ilustra ...

Tenho uma memória de antes dos 5 anos muito, muito vaga. Mal me lembro do tempo da pré-escola. Lembro que, crescendo na Zona Leste de São Paulo, numa casa afastada com meus quatro irmãos, minha mãe saía pra trabalhar e não dava muito tempo de ficar batendo papo, não. Somos cinco em escadinha, com diferença de 2 a 3 anos entre cada um, então nós éramos o bando todo. A gente não saía pra rua, ficava em casa, brincando no quintal, vida muito simples.

Mas tem aquelas ...

Nos dois anos em que morei no Japão, senti falta, muita falta, de duas coisas na mesa. A primeira, todos os dias, era pãozinho francês de padaria. Que saudade. Pãozinho com manteiga. Na chapa. E a segunda, era chuchu. Refogadinho com alho, ou no vapor, salada.  Contra os que acham que chuchu não tem gosto de nada, eu gosto muito de chuchu. Tem gosto de comida de casa. E eu estava tão longe de casa.

Quando os japoneses chegaram no Brasil, com que fazer os pratos a que estavam acostumados? Outras verduras, legumes, outra ...