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16 Jan, 2008

Misoshiru de interior


How To Make Miso Soup

Ontem aconteceu a Abertura Oficial das Comemorações do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil, evento realizado pelo Consulado Geral do Japão em São Paulo. 15 de Janeiro (uma data bonita, 15 e 1, números bons). Fomos lá, encontramos algumas figuras conhecidas, ouvimos os discursos distantes. A formalidade quebrada pela breve e bela apresentação de shamisen, que finalmente diminuiu o burburinho da platéia.

Desde pequena, cultivei a fuga da descendência pura, da colônia e seus maneirismos, da opressão velada. Lembro dos meninos me xingando no recreio, quando estava na primeira série, rindo de mim, japonesa. Lugar comum na vida de qualquer descendente, ouvir estereótipos ao se referirem aos japoneses no Brasil. E, por outro lado, cresci e sempre achei que era a versão feita de japa ocidental. Refúgio na literatura e na música brasileiras, realidade em dança e teatro, sou brasileira. E aí veio o texto, durante o curso de Jornalismo, em que contei a história do meu avô, imigrante pré-1908, criado no Rio por portugueses, formado agrimensor, que lia, todos os dias, O Estado de S. Paulo na cadeira de balanço, já casado com minha avó miúda e de família de samurais. Ser diferente, essa é a marca que escolhi da minha herança. Mas foi só no Japão, morando em Tóquio, com minha filha sansei falando japonês fluente, que reencontrei de fato a paz com as raízes dos meus pais. Como contou a jornalista Erika Kobayashi quando também foi pra lá, tudo fez sentido. E vi que sou, dos fios do cabelo ao olhar, do compromisso silencioso com o melhor impossível aos ataques de fofura, japonesa brasileira, como tantos outros.

Os estereótipos devem ficar lá, no passado, conceitos equivocados.

E o presente tem como abre-alas um amor declarado à descoberta do Japão e de outras tantas culturas que nos fazem brasileiros. E, desde então, cozinhar faz parte, porque traz no sabor as lembranças que importam.

. . : : : . .

E abram alas ao conforto que um misoshiru quentinho dá. Sozinho servido com wakame e cebolinha, com um ovo, nhami. Ou misoshiru com gohan, o clássico das crianças que não comem mais nada. Em todas as refeições, do café da manhã ao jantar. Seguem aqui algumas fotos do meu misoshiro de interior, que, como conta minha mãe, era como se fazia no sítio, cada dia com um legume diferente. Este aqui, de batatinha (jaga imo). Rapidinho.

Para fazer o dashi (caldo), no Brasil, usamos sardinhas secas salgadas como estas. Quando não achamos, usamos katsuobushi (bonito/atum seco em flocos) mesmo.

Os peixes são quebrados com os dedos e depois fervidos em duas águas. O caldo deve ser bem peneirado para não deixar passar espinhos. Com uma colher, retiramos o excesso de espuma.

Batatinhas cortadas em losangos bonitos devem ser cozidas antes (eita, na tábua de legumes em forma de carrinho, homenagem à Quatro Rodas).

E uma cebola em meias-luas. Tudo bonito e zás trás. Nada deve ficar muito cozido: a batinha fica com sabor, mas não desmancha nem perde a forma. Aqui, mantendo a classe do caldo, escolha um novo ingrediente em novas tentativas: o clássico tofu, cenoura, beringela, gobo (bardana), moyashi, vagem ou inhame.

Ao colocar o miso, siga a dica mostrada no videojug.com, lá em cima: dilua antes numa vasilha à parte e, depois de acrescentá-lo ao dashi, não deixe ferver. Gosto de usar o miso caseiro que não é muito escuro.

Um owan bem bonito de cerâmica japonesa.

E capricho na cebolinha e no wakame, enfeitando as nuvens do misoshiru.

Nhami :)

Sadao, este post é dedicado a você, meu companheiro de nippon ryori, no frio de Tóquio.

Postado por Gabi Yamaguchi | 16 comentários

Comentários

  1. sadao @ 16 Jan, 2008 : 05:11
    nossa, nao poderia imaginar homenagem melhor! eu, que sou fa numero um de misoshiru desde pequeno, fiquei mais do que feliz! no brasil, era o item essencial ajudar a aliviar o cansaco da volta de viagens e passeios, ou mesmo a ressaca no dia seguinte. santo remedio. no japao, descobri as infinitas variedades dos ingredientes: de misso branco a vermelho, de cebolinha a cogumelo nameko, de batatinha a carne de porco, passando por pescados, broto de feijao e de bambu ou mesmo espinafre. e saiba que tokyo e eu estamos sempre a espera de sua volta um dia. abracos e muitas saudades! sadao

  2. Karen @ 16 Jan, 2008 : 12:02
    Eu adoro missoshiru com gohan a qualquer hora: para acompanhar um bom prato japonês, quando estou doente, cansada ou quando não tem mais nada para comer em casa :-). Eu já conhecia o missô branco e o vermelho, mas no fim do ano conheci o missô preto (!). Ah, mas sou preguiçosa: para o dashi, compro aqueles saquinhos (dashi em pó) que são vendidos nas lojas de produtos brasileiros.

  3. Mari Mari @ 16 Jan, 2008 : 21:11
    Gabi, Que lindo o post. Parabéns. :) Bj

  4. Pat Giu @ 17 Jan, 2008 : 13:27
    Gabi, eu também adorei o post!!! Bjus

  5. Claudia Yoscimoto @ 17 Jan, 2008 : 13:52
    Hummm, missoshiru, tudo de bom! hehehe Confesso que ainda não sei fazer o missoshiru da minha batyan, que leva omelete fatiado bem fininho, bastante cebolinha e, também, aqueles peixes bem pequenininhos, que eu não sei como se chama em nihongo. O meu é mais simples mesmo, à moda brasileira, com missô sem sal, caldo de carne ou peixe em tabletes (daqueles brasileiros mesmo), omelete, tofu e tikuwa ou kamaboko. Mas uma hora em aprendo fazer um bem à moda japonesa rs. Bj e parabéns pelo blog!

  6. Célia @ 17 Jan, 2008 : 14:47
    Gabi, simplesmente fantástica a reflexão que faz em relação às vivências da infância e juventude. Quando conseguimos fazer as pazes e viver de forma integrada com a nossa história, tudo vai ficando mais harmonioso e belo. Quanto ao Missoshiro, nada mais autêntico e impregnado de simbolismo. Parabéns. Célia

  7. Raquel Hoshino @ 17 Jan, 2008 : 16:56
    Gaby, duas palavras: que fome! Beijos, Raquel.

  8. adoro sashimi @ 18 Jan, 2008 : 18:36
    eu adoro peixe cru,ja comi até sashimi de galinha crua.

  9. Helio @ 18 Jan, 2008 : 21:09
    Misoshiru... muito bom, acabei de tomar o meu instantâneo (aquele que vem em saquinhos individuais já com tudo: dashi, miso, wakame...) aqui na minha mesa, usando a minha caneca e a água quente da máquina de café. Um pequeno tributo aos meus tempos de ryugakusei, quando passava madrugadas no laboratório tomando misoshiru instantâneo e comendo cup-lamen :)

  10. Celina @ 19 Jan, 2008 : 14:03
    Escrevo esta mensagem com um nó na garganta...Missoshiru e gohan quentinho tem cheiro e gosto de casa da mãe, de infância... Gosto muito dos seus textos, mas este superou todas as expectativas! Como estamos em janeiro, acho que ainda dá tempo de lhe desejar um Ano Novo repleto de alegrias e realizações!

  11. Ewerthon @ 22 Jan, 2008 : 01:43
    Nossa Gabi, adorei esse post também. E, como não poderia deixar de ser, adoro missoshiro também!!! Parabéns!

  12. Tittus @ 29 Jan, 2008 : 15:40
    Espetacular! Quero comer isso todos os dias!

  13. sushiman @ 29 Jan, 2008 : 20:09
    o pessoal adoram comida japonesa.adoro comer 1 japones(restaurante japones)

  14. PatPat @ 6 Fev, 2008 : 11:43
    q puxa, q didático! qdo vc vai nos ensinar a fazer "o melhor kareraisu do mundo?" parabéns, Gabi. Seu texto é delicioso, como sempre o foi. Só não sabia de seus talentos culinários...

  15. Flávia Matoba X @ 10 Mar, 2008 : 22:15
    Adorei este texto! Ainda mais quando você diz "E vi que sou, dos fios do cabelo ao olhar, do compromisso silencioso com o melhor impossível aos ataques de fofura, japonesa brasileira, como tantos outros." E me identifiquei, pois também sou mestiça e mesmo não tendo uma família que segue o tradicional eu gosto muito da cultura (acho que meu avô ficaria muito feliz com isso, com certeza!) e querendo ou não, nós descendentes sempre "puxamos" o jeitinho (uns poucos, outros mais) japonês! ^^ né?! Um abraço! ^^

  16. Hanae @ 22 Mai, 2011 : 09:35
    Missoshiru com sabor original mesmo é com dashi de Iriko (peixe seco miúdo) encontrado nas lojas de produtos Orientais.Sai bem mais barato que hondashi e katsuobushi.Sabor da Batyan,pode conferir!!! Abçs

 

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Perfil

Gabi Yamaguchi é jornalista da ECA/USP, paulistana e morou no Japão por dois anos, trabalhando como repórter em Tóquio. Sua filha adora estrelas e sua mãe faz o melhor kareraisu do mundo. Hoje está no marketing, fala sem parar mexendo muito as mãos e não tem a menor disciplina na cozinha, só usa receitas de lembranças.
 



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