Desisti da academia de ginástica japonesa e resolvi apostar numa brasileira. Fiz minha matrícula, mês passado, e comecei a malhar logo em seguida, animadíssima! Só tenho uma preocupação e fui logo avisando ao instrutor: - Pelo amor de Deus, eu não quero ficar gostosa! Sei que a mulherada quer popozão, pernão, mas eu quero o contrário. Anota aí: diminuir o bumbum e afinar as pernas.
Ele deu risada e tentou, em vão, me convencer de que essa não é a melhor escolha. Expliquei que estamos no Japão e, aqui, gostosura não é sinônimo de beleza, mas de quilinhos extras e indesejáveis. Sim, a Juliana Paes e todas as mulheres-frutas que andam fazendo sucesso no Brasil são “cheinhas” do ponto de vista japonês. E eu concordo com eles. Não concordava, mas passei a concordar. Mulher melancia, nem pensar!

Será a idade (cheguei aos 31 em maio)? Ou muito tempo no Japão (quatro anos e mais de meio!)? Sei lá. De repente, comecei achar as mulheres magrinhas mais bonitas e me bateu aquela inveja. Talvez, a grande culpada seja a dificuldade de comprar roupas. Sem engordar, troquei o P (pequeno) e o M (médio), do Brasil, pelo L (grande; large, do inglês) e LL (extra-grande; double large), daqui.
No inverno passado, cheguei a comprar um casaco masculino porque nenhum feminino do shopping perto de casa serviu em mim. Entrei em todas as lojas, juro! E depois de irritada, fiquei chateada. Queria comprar aquele lindinho, cor de uva, superfofo e saí de lá com um quadradão, preto, super sem graça.
Comprar botas de cano longo também não é fácil. Eu e a Angélica, uma amiga peruana, passamos horas e horas num outro shopping, em Tokyo, experimentando todas as botas: baratas, caras, bonitas, feias, com salto, sem salto, t-o-d-a-s! No final das contas, comprei um par com zíper que não fecha completamente. Faço de conta que é fashion usá-las assim. A Angélica faz o mesmo.
Meias-calças, aqui, uso LL e elas ficam certinhas nas minhas pernas. Espero que seja pelo comprimento e não pela espessura! Mas engraçado é comprar blusa de manga comprida em loja japonesa. O tamanho M fica bom no corpo, mas as mangas ficam curtas. No caso do L, as mangas ficam boas, mas a blusa fica larga. Daí, escolho o M e faço de conta que a manga é 3/4, aquela que passa um pouco do cotovelo. Com o casaco masculino, o meu modelito fica ótimo!

Eu acho até divertido ser fora do padrão (japonês!), porém, bate aquela tristeza na hora de comprar calças jeans. Acreditam que nunca comprei jeans aqui? Ok, comprei sim. Duas vezes, em quase cinco anos! A minha primeira e única calça jeans made in Japan foi comprada na Uniqlo, a C&A do Japão. Usei uma ou duas vezes e a despachei para o Brasil: - mãe, veja se alguém aí quer essa coisa horrorosa.
A danada não encaixava no meu corpo. Se eu ficasse parada, de pé, parecia bonitinha. Era só eu andar ou sentar, para o estresse começar. A calça andava mais do que eu! Desisiti, claro. Então, resolvi apostar numa made in USA. Depois de várias tentativas, encontrei duas que me agradaram. Incrível!
As do Brasil sei que servem em mim. O problema é que "calça da Gang" não é a minha cara...
Depois de anos no Japão, passei a admirar a moda japonesa. Não gosto do exagero de flores e rendas, mas gosto de muitas outras coisas daqui. Fico louca para usar aqueles vestinhos, aquelas botinhas, aqueles casaquinhos e quase nunca dá certo! Ou fica apertado, ou fica curto, ou fica feio! Imagino, então, a mulher melancia!

Não queria ser tão magra quanto a cantora Mika Nakashima (os bracinhos dela parecem de criança!), nem ouso sonhar com o corpo perfeito da ubermodel Gisele Bundchen (dela, eu queria os cabelos). Apenas, ser esbelta como a maioria das mortais japonesas (e a Namie Amuro, aí da foto). Sem celulite, sem estria, sem barriga e sem popozão. Um corpo assim cai bem em toda roupa, não acham?
Se eu não faltar à academia e encarar todos aqueles pesos e exercícios abdominais com seriedade, acredito que chego lá. Também estou tentando comer menos fritura e esquecer de vez a infelizmente deliciosa Coca-Cola. A mulher melancia, coitada, teria de malhar o dobro e comer a metade. Sorte dela de morar no Brasil.
(texto publicado na revista Alternativa Higashi Ed. 15, do dia 18 de setembro de 2008)