Cada coluna publicada na Alternativa Higashi é um capítulo da minha história no Japão.
Tô contando tudo! Inclusive que tomei banho de gato porque esqueci de pagar as contas de gás.
Acho que vou parar de falar da minha vida e começar a falar da vida dos outros! Hihihi...
Bom, aí vai a coluna deste mês. PARÊNTESE: tô devendo milhões de respostas aqui no blog, eu sei. Mil desculpas! Eu ainda coloco em dia, vocês vão ver (^_^)v
PARÊNTESE 2: não sei porque deu vontade de ilustrar este post com a foto do meu conterrâneo Itamar Franco. É, aquele ex-presidente da República e ex-governador de Minas que ficou famoso com a tal da moratória.
Caloteira, eu?
Quando toca a campainha, eu não atendo. Ninguém me faz visita surpresa e eu não quero fazer assinatura de jornal japonês (até gostaria se eu soubesse ler), pagar a taxa da NHK (o que é um erro né? Tô querendo pagar a partir de agora), nem ouvir histórias dos religiosos que saem em busca de fiéis (sou religiosa sim, mas não gosto dessas visitas). Só agora que a campainha do meu apartamento tem monitor, passei a atender. Desde que não seja nenhuma das alternativas anteriores, claro. E dia desses, pela segunda vez, tive de abrir a porta para um cobrador. Que vergonha!
“Você pagou os meses de junho e maio, mas não pagou o de abril”, explicou o funcionário da companhia elétrica. Dei risada. Esse tipo de coisa é a minha cara. Vivo me atrapalhando com tantas contas. Perguntei se poderia pagar para ele mesmo e, felizmente, ele disse sim. O rapaz me deu recibo e tudo. Meses atrás, outro funcionário da mesma companhia também veio me cobrar. Ou seria da empresa de gás? Sei lá, só sei que não tinha dinheiro suficiente na carteira (uns 6 mil ienes, eu acho) e combinei de ir logo a uma loja de conveniência quitar a dívida.
E vou confessar o que até então era segredo de Estado. Já fiquei dois dias sem tomar banho porque não paguei a conta de gás e odeio água gelada! Quer dizer, tomei “banho de gato”. Sabem o que é “banho de gato”, né? Aquele no qual só lavamos as partes mais necessitadas, sem molhar o corpo inteiro. Terrível! Só não foi pior porque era final de semana, eu não tinha trabalho e cancelei todos os passeios. Fiquei contando as horas para a segunda-feira chegar, pagar a conta e o gás voltar. A idéia era ligar para um super-amigo e tomar banho na casa dele mas, por azar, ele estava viajando. E fiquei com vergonha de ligar para os outros.
Isso foi quando eu morava em Chiba e, mês passado, depois de uma semana fora de casa, cadê a água quente? “Não acredito que cortaram o gás de novo!”, pensei. Deu vontade de chorar! Sábado à noite, depois de horas de viagem e dias tomando banho sem o meu xampu e a minha bucha querida, ter de tomar “banho de gato”? Vi na caixa de correio a carta de aviso. O prazo para quitar a dívida já havia terminado há quatro dias e o atendimento era de segunda à sexta, das 8h às 17h. Liguei assim mesmo, afinal, levo a sério o ditado “A esperança é a última que morre”. E ela não morreu! Mas antes que atendessem o telefone, pedi socorro a um amigo que domina a língua japonesa. O plano era fazer drama e com o meu vocabulário precário seria impossível.
“Fala que eu sou estrangeira, não sei ler, nem falar japonês, que me atrapalhei com as contas e, ainda, estava fora de casa. Diz que eu preciso tomar banho, que eu não sou caloteira! E também que achei as contas aqui e já fui à loja de conveniência pagar. Faz um drama, por favor! Tenho certeza de que eles vão ficar com pena e me ajudar!”. O meu amigo seguiu as instruções ao pé da letra e, pasmem, meia hora depois eu já podia tomar banho quentinho, do jeito que eu gosto! O atendente abriu uma exceção e não esperou a segunda-feira chegar para religar o gás do meu apartamento. Incrível! Fiquei feliz de saber que também existe jeitinho japonês.
Mas a minha lista de “calotes” não pára por aí. Fiquei três meses sem pagar a academia, em Tokyo. Disseram que era débito automático e não me preocupei. Não tenho mesmo o costume de verificar o extrato da minha conta e estava crente de que o pagamento estava em dia. Só descobri que não, quando cancelei a matrícula. Tive de chamar outro amigo-intérprete que deu o maior sermão (educadamente, claro!) na atendente e no final das contas, a academia reconheceu que a falha não era minha e paguei quase nada. Houve erro na papelada e por isso a mensalidade não estava sendo debitada na minha conta, nem eu havia recebido qualquer aviso ou cobrança. Ou será que recebi? Só Deus sabe...
E, por falar em débito automático, é isso que vou fazer (já deveria ter feito há séculos) com as minhas contas de água, energia elétrica e gás. Essas contas são muito confusas! Chega aviso, chega a conta. Um mês chega, outro não. Nunca sei o que paguei, quando paguei, o que falta pagar. Mas sei que não sou caloteira. Talvez, entre aspas sim. Se não paguei, foi sem querer. Juro! Tem aquele ditado “Devo, não nego. Pago quando puder”. No meu caso, seria “Devo? Não sei. Pago quando souber”. E prometo ficar mais atenta. Caloteira, nunca mais!