... a gafe do embaixador. Esse é o título da coluna publicada na revista Alternativa Higashi deste mês.
A revista chegou às lojas (brasileiras no Japão) na quinta-feira e já vi que vou ter de encarar aplausos e vaias.
Uma leitora me viu e foi logo falando "morri de rir da meleca do ministro! Adorei o texto". Mas foi só chegar em casa e lá estava o e-mail de outra leitora que disse, entre outras coisas, ter perdido o apetite porque leu na hora do almoço. E terminou o comentário assim: Da proxima vez que for almocar vou deixar ALTERNATIVA para ler em outra ocasiao porque trabalho duro e nao posso deixar de almocar e ficar trabalhando ate tarde de estomago vazio por causa do texto de uma "patricinha".
Crítica dói, mas faz parte do trabalho e serve sempre de lição. E é muito bom saber que as pessoas lêem e, melhor ainda, saber a opinião delas. Não é à toa que eu amo o blog. Essa interatividade é tudo de bom (^o^)/
A coluna:
Não conto o santo, mas o milagre eu conto sim. Deu vontade de falar dos bastidores da notícia e uma história que não dá para esquecer é a que eu mesma apelidei de a “meleca do ministro”. Lá estava eu em Tokyo, num Ministério qualquer – se eu falar qual, vocês matam a charada e eu perco o emprego – para mais uma foto clássica de aperto de mãos. De um lado, o ministro japonês. De outro, o que veio do Brasil. No canto da sala, a imprensa. Fotógrafos e câmeras preparados para registrar o encontro. Eu também.
Única mulher, única estrangeira com cara de estrangeira e, talvez por isso, foi comigo que o ministro japonês puxou papo enquanto esperava seu colega brasileiro. “Você é brasileira?” Disse, em inglês. “Como falo ‘good afternoon’ em português?” Ele queria ser simpático com o visitante e eu estava adorando aquela situação. O outro ministro chegou, ouviu um “boa tarde” muito mal pronunciado, porém muito bem intencionado, e tudo indicava que o encontro seria uma maravilha.
Papo vai, papo vem – entre eles, claro – e aquela gotinha que ameaçava escapulir de uma das narinas do ministro brasileiro começou a me incomdar. “Meu Deus, por que ele não dá uma fungada? Ou pega um lenço? Não para assoar o nariz como os japoneses adoram, mas para limpar discretamente aquela meleca ameaçadora?” Pensei. Não conseguia mais me concentrar nas fotos, nem tentar entender o que eles falavam. Meus olhos não desviavam do nariz do ministro! Pois o desfecho da história foi pior do que eu esperava. Chegou a hora do aperto de mão e os dois políticos, até então sentados, se levantaram.
A meleca? Deve ter tomado impulso naquela hora, pois escapuliu de vez! Impressionante a cena, que ficará gravada para sempre na minha memória. A meleca não caiu, mas ficou pendurada da narina até a altura do queixo! Até o ministro reagir, pegar um lenço e tirar aquela meleca dali, passaram-se segundos que, pelo menos para mim, pareceram uma eternidade. Aliás, não foi só ele quem ficou sem reação. Todos ficaram em silêncio, constrangidos, chocados! E o ministro japonês aguardando o aperto de mão. Eu? Parei de clicar. Meu lado “coitado-do-ministro” falou mais alto do que o lado paparazzo.
Inesquecível também foi a gafe um embaixador. Não perguntem qual, por favor. Lá estávamos numa festa chiquerésima, de uma empresa gigante, num salão de festas do hotel New Otani, um cinco estrelas de Tokyo. Eu conversava com o cônsul e outras autoridades, quando o então embaixador veio me cumprimentar de braços abertos e com toda a intimidade. Detalhe: ele até me conhecia, mas sempre me tratava com a maior formalidade. Achei estranho e cheguei a pensar “será que ele está bêbado?” Pois não estava e foi em frente: “oi, querida! Como você está?” Respondi com um clássico sorriso de conversa de elevador: “Tudo bem. E o senhor?”. Ele continuou, empolgado: “Sua mãe me falou que você está se mudando para os Estados Unidos. Que coisa boa!”
Meus neurônios piraram de vez! Estados Unidos, eu? Minha mãe? Desde quando o embaixador conhece a minha mãe? Ele me confundiu com a filha de uma amiga, claro! Mas e, agora, como sair dessa sem deixá-lo sem graça? Não havia outra opção, fui logo avisando que eu não estava de mudança para os Estados Unidos. Surpreso, ele olhou bem no meu rosto, percebeu o engano e, sem muita diplomacia – ao contrário do que eu esperava de um diplomata –, ficou tão desconcertado, tão desconcertado que baixou a cabeça e buscava um jeito de sair dali o mais rápido possível.
O cônsul, muito simpático, com a elegância e jogo de cintura de um verdadeiro diplomata, avisou que eu, na verdade, era jornalista, repórter de tal veículo de comunicação. “Lembra da Karina?”. Dei outro sorriso clássico de conversa de elevador, mas depois de um “sim” mudo – aquele que se faz com a cabeça – o embaixador saiu de fininho dali. Bastava uma piada para esquecermos a gafe e o ambiente voltar à descontração de antes, mas a inciativa deveria partir dele, certo? Não partiu e o jeito foi esquecer o assunto imediatamente. Depois da festa, porém, é claro que contei para todo mundo.