“O que você, como jovem, está achando das comemorações do centenário?”
A pergunta, feita a mim, por uma jornalista em algum desses eventos em comemoração ao centenário, não teve uma resposta pronta e deve ter sido cortada da matéria final. Na verdade, ainda estou procurando algo a dizer.
O que eu to achando? Não sei, sinceramente.
Fala sério, nenhum jovem (digo alguém de 20 e poucos anos como eu) gosta muito de discursos intermináveis e eventos burocráticos, certo? Aliás, aposto que muitos não tão-jovens também.
Ma até aí. O que está sendo feito para atingir a terceira, quarta, quinta – e até sexta – geração? Como mostrar para esse pessoal mais novo, que, muitas vezes, nem teve contato com o avô ou o bisavô que veio do Japão?
E é óbvio que tem aqueles eventos jovens por natureza – como a festa junina da Abeuni que, neste ano, vai ser no dia 7 de junho – que acontecem todo ano e que, é óbvio, este ano vão ser mais focados no centenário. E sempre tem uma ou outra coisa da própria Abeuni, da Comissão de Jovens, do Seinen Bunkyo, da Asebex... mas não são muito numerosas, se levarmos em conta a quantidade de eventos que vem ocorrendo...
Onde está a programação jovem do centenário?
Tirando o show sempre esperado, nunca confirmado e oficialmente cancelado da Namie Amuro, o que mais foi programado? Teve o show da Tigarah, o Yukidaruma, o Miss Centenário e o show do Miyavi...Algo mais?
O que fazer para que pessoalzinho mais novo se interesse, perceba e seja influenciado por tudo aquilo que anda ocorrendo?
Sabe, como eu já disse na minha história, eu mesma nunca tive muito interesse pelo Japão dos meus avós. Não que eu não admire tudo o que eles fizeram – longe disso!
Mas acho que só fui começar a gostar mais da cultura e me interessar de verdade quando conheci o Japão moderno, aquele pós-guerra. E que vai muito além dos animes e mangás que todo mundo gosta de enfatizar.
E bem, todo mundo devia saber que Japão dos imigrantes não existe mais hoje. Mas, de alguma forma, ele sobrevive no Brasil e norteia muitos costumes por aqui: quem nunca ouviu um amigo ou parente falar que não gosta de coreanos? Ou ainda que tem preconceitos contra os negros? Mais: japoneses sempre são pessoas de confiança.
Ou seja, têm certas coisas que, infelizmente, permanecem. Preservar origens é bom. Dar espaço ao novo também. Difícil é equilibrar os dois. Talvez devamos aprender com os japoneses do Japão, que convivem com o moderno e o tradicional cotidianamente.
Talvez seja isso, preservar o antigo sem se fechar para o novo. Conviver com os dois mutuamente, sem excluí-los. Tradicional e moderno. Velho e novo. Ying e yang.
Mais do que uma cultura japonesa que não existe mais ou uma brasileira sem influências, talvez o maior mérito da imigração seja essa mistura criativa, num país onde o bon odori dos festivais é seguido de matsuri dance. Com as obassans e as crianças dançando junto. E, sim, acho matsuri dance uma coisa genial, é como se fosse “a baladinha” que os jovens inventaram para se adaptar aos festivais tradicionais.
Post enorme, eu sei. Que conclusão eu quero chegar nisso tudo? Não sei.
Acho que mesmo neste clima de festa, não podemos esquecer tudo os que os primeiros imigrantes passaram. Desde a ilusão da terra em que o dinheiro dava em árvores, das inúmeras dificuldades com o idioma e com a cultura, do preconceito da época da guerra, da Shindoo Renmei até a vitória posterior, o respeito adquirido em 100 anos.
Aqui no site, uma coisa que nós percebemos é que quem mais se cadastra para contar a história da família é o pessoal mais velho, talvez, mais da segunda geração. Então meu recado é para quem tem uns 20 e poucos anos: que tal sentar e bater um papinho com a batyan? Aproveitar enquanto ainda é tempo, antes que a história de sua família seja perdida. Aproveite e acrescente o que você pensa sobre esse negócio de centenário (quem sabe você não me ajuda a achar uma resposta pra pergunta lá de cima?).
Depois de tudo, que tal compartilhar sua história com a gente?