Conte sua história › Hugo Hoyama › Minha história
Quando eu tinha 8 anos, um amiguinho do kaikan (clube) me chamou para conhecer o lugar onde ele treinava [Estádio Primeiro de Maio, em São Bernardo do Campo]. Quando abri a porta do salão e vi os melhores jogadores batendo bolas rápidas, de efeito, me apaixonei pelo esporte.
O técnico, Maurício Kobayashi, viu que eu tinha talento, principalmente porque era canhoto. Então, desde os 8 anos de idade, eu treino firme o tênis de mesa. Eu saía da escola brasileira, ia para o kaikan estudar japonês e depois vinha para o Estádio Primeiro de Maio treinar, das 18 às 22 horas.
Quando entrei no ginásio, comecei a treinar de 7 a 8 horas por dia, geralmente das 14 às 22 horas. O Maurício exigia muita disciplina, colocava objetivos. Também dava punições. Eu gostava de treinar, mas também de bagunçar. Se fazia alguma coisa errada, ele dava castigo, 30 abdominais! Fez cara feia? 100 abdominais! A gente reclamava por instinto, mas sabia que ele estava certo, pois ele sempre mostrava o motivo da bronca. (Assista ao vídeo em que Hugo fala da importância da disciplina para sua carreira)
Naquela época, tinha um japonês ajudando a gente, o Sr. Kasahara. Foi um dos principais jogadores do Japão. Ele mostrou vídeos para o Maurício sobre como era o treino no Japão. O Maurício começou a implantar essas técnicas e dizia que se a gente treinasse firme, ele ia mandar a gente para treinar no Japão.
Em 1985, fui treinar no Japão, na Nihon Daigaku. Tinha 15 anos. Dormia no alojamento dos universitários e tinha que trabalhar das 9 às 15 horas. O treino era das 15 às 21 horas. Quase fui mandado embora, pois chegava atrasado. O chefe logo cortou meu barato. Eu obedeci na hora, pois não queria decepcionar meus pais e o Maurício. Eles confiaram em mim e eu não podia desapontá-los.
No começo chorava por estar longe dos familiares. Mas, depois, foi uma experiência muito legal. Eu era bem tratado pelos universitários, como se fosse aluno do primeiro ano. Até hoje sou amigo do capitão da equipe na época, o Sato Kei. Também não tive problemas com a comida, pois estava acostumado aos pratos japoneses em casa: o gohan, aquele arroz grudadinho, eu comia até no café da manhã.
Também fui jogar na Suécia [treinar no clube Ranas BTK, em 1988], para a Bélgica [clube Pantheon Royal Smash, de 1994 a 1996]. Em 1996, voltei para a Suécia [clube Falkenberg].
Minha primeira grande conquista no tênis de mesa foi nos Jogos Panamericanos de 1991, em Havana (Cuba). Cláudio Kano era o grande nome, um ídolo do tênis de mesa brasileiro, e eu o venci na final do individual. Nesse momento, me tornei o número 1 do Brasil.
Em julho de 1996, há 3 semanas das Olimpíadas de Atlanta (EUA), o Cláudio Kano sofreu um acidente de moto e faleceu. Foi duro, uma tristeza muito grande, pois o conhecia desde os 11 anos. Resolvi batalhar por mim e por ele na Olimpíada. E o nono lugar que obtive foi graças à força que ele me deu. Tenho certeza de que ele estava junto comigo, torcendo por mim.
Depoimento à jornalista Kátia Arima
Fotos: Everton Ballardin e arquivo pessoal de Hugo Hoyama
Vídeos e áudios: Estilingue Filmes
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil