Conte sua história › Luana Cristina Ireijo › Minha história
Sou de uma geração chamada de sansei (terceira). Eu me chamo Luana Cristina Ireijo e, aos 24 anos, aprendi a assinar o sobrenome do meu pai com orgulho. Nasci em São Paulo, no dia 12 de março de 1983, mas me considero campo-grandense de coração.
A vida nos leva em direções indefinidas que jamais imaginamos. Aos 8 anos de idade, fui para o Japão com meus pais e irmãos. Estudei em escola japonesa e tive uma educação muito rígida. Aprendi a gostar do Japão, mas, aos 10 anos de idade, tivemos que voltar para o Brasil. Minha mãe dizia que era por causa dos nossos estudos, pois seu sonho era ver seus filhos formados.
Quando voltamos do Japão, percebi que, para ser aceita perante as outras crianças, teria que ter posturas iguais a elas. Pensando nisso abominei o idioma japonês e prestava atenção nas outras crianças. Como elas levantavam a mão na hora da chamada, ficava tão nervosa, porque não queria ser diferente.
O tempo foi passando e, na minha adolescência, a maioria dos meus amigos era descendente de japonês. Para os meus pais, essa era a amizade certa para minha educação. Talvez eles não percebessem, mas eu sim via neles maneiras preconceituosas com amigos que não tinham os pais japoneses. Isso para mim era revoltante, o modo de agir seco com julgamentos errôneos me deixava envergonhada. Nessa fase, tive muitos atritos em casa, posso dizer que eu realmente era revoltada, a famosa “aborrecente”. Por esse motivo, criava laços maiores de amigos não-descendentes e paqueras que os meus pais chamavam de “gaijins”.
Tudo na minha cultura eu não gostava, tinha vergonha de ser descendente de japonês, de ser diferente das minhas amigas, de ouvir cantadas como: “casa comigo pra eu ir para o Japão!”. E principalmente de ter que trabalhar tanto, e seguir a tradição do butsudan. Eu trabalho desde os 10 anos de idade, meus pais, ao voltarem do Nihon, compraram uma barraca na feira e tínhamos que trabalhar de quarta a sábado. Eu, desde pequena, limpava as mesas, atendia, ajudava na preparação do macarrão e dos omeletes para o sobá, e ajudava em casa com os afazeres domésticos. E mesmo assim tinha as melhores notas da sala.
Como entrei nessa fase rebelde, parei de estudar como antes, aprendi a colar e dormir na sala de aula. Mesmo tendo a fama de ser “CDF” por causa dos meus olhos puxados, não queria seguir o estereótipo japonês, gostava de futebol, de dançar no carnaval e de ser brasileira.
Numa das nossas fases, pedi aos meus pais e à minha irmã (que decidia tudo em casa), a compra de um bar chamado Balabuska. Era um bar de sinuca com mesas oficiais e numa localidade nobre da cidade. A compra foi favorável, mas as responsabilidades e afazeres aumentavam para todos.
Minha irmã se desdobrava e meus pais tiveram que tomar conta das barracas. Eu ficava mais no bar, aos 16 anos de idade. Sempre fui em casa a mais mimada, talvez pelo fato de ser a caçula, ganhava tudo dos meus pais.
Certa vez, após dois anos com as propriedades na feira e o bar, descobrimos que não estávamos dando conta e que havia desfalques irreversíveis.
Com a falta de dinheiro, tivemos que conter gastos, mas para mim, na época, não era tão importante. Eu saía com cortesia que ganhava dos amigos e a vida de “baladas” era intensa, de quinta a domingo. Viajava muito também. Sempre tive o sonho de fazer intercâmbio, estudar e morar fora do Brasil.
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil