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  Conte sua históriaLuana Cristina Ireijo › Minha história

Luana Cristina Ireijo

Campo Grande / MS - Brasil
41 anos, Estudante e empresária

Minha geração é sansei


Sou de uma geração chamada de sansei (terceira). Eu me chamo Luana Cristina Ireijo e, aos 24 anos, aprendi a assinar o sobrenome do meu pai com orgulho. Nasci em São Paulo, no dia 12 de março de 1983, mas me considero campo-grandense de coração.

A vida nos leva em direções indefinidas que jamais imaginamos. Aos 8 anos de idade, fui para o Japão com meus pais e irmãos. Estudei em escola japonesa e tive uma educação muito rígida. Aprendi a gostar do Japão, mas, aos 10 anos de idade, tivemos que voltar para o Brasil. Minha mãe dizia que era por causa dos nossos estudos, pois seu sonho era ver seus filhos formados.

Quando voltamos do Japão, percebi que, para ser aceita perante as outras crianças, teria que ter posturas iguais a elas. Pensando nisso abominei o idioma japonês e prestava atenção nas outras crianças. Como elas levantavam a mão na hora da chamada, ficava tão nervosa, porque não queria ser diferente.

O tempo foi passando e, na minha adolescência, a maioria dos meus amigos era descendente de japonês. Para os meus pais, essa era a amizade certa para minha educação. Talvez eles não percebessem, mas eu sim via neles maneiras preconceituosas com amigos que não tinham os pais japoneses. Isso para mim era revoltante, o modo de agir seco com julgamentos errôneos me deixava envergonhada. Nessa fase, tive muitos atritos em casa, posso dizer que eu realmente era revoltada, a famosa “aborrecente”. Por esse motivo, criava laços maiores de amigos não-descendentes e paqueras que os meus pais chamavam de “gaijins”.

Tudo na minha cultura eu não gostava, tinha vergonha de ser descendente de japonês, de ser diferente das minhas amigas, de ouvir cantadas como: “casa comigo pra eu ir para o Japão!”. E principalmente de ter que trabalhar tanto, e seguir a tradição do butsudan. Eu trabalho desde os 10 anos de idade, meus pais, ao voltarem do Nihon, compraram uma barraca na feira e tínhamos que trabalhar de quarta a sábado. Eu, desde pequena, limpava as mesas, atendia, ajudava na preparação do macarrão e dos omeletes para o sobá, e ajudava em casa com os afazeres domésticos. E mesmo assim tinha as melhores notas da sala.

Como entrei nessa fase rebelde, parei de estudar como antes, aprendi a colar e dormir na sala de aula. Mesmo tendo a fama de ser “CDF” por causa dos meus olhos puxados, não queria seguir o estereótipo japonês, gostava de futebol, de dançar no carnaval e de ser brasileira.

Numa das nossas fases, pedi aos meus pais e à minha irmã (que decidia tudo em casa), a compra de um bar chamado Balabuska. Era um bar de sinuca com mesas oficiais e numa localidade nobre da cidade. A compra foi favorável, mas as responsabilidades e afazeres aumentavam para todos.

Minha irmã se desdobrava e meus pais tiveram que tomar conta das barracas. Eu ficava mais no bar, aos 16 anos de idade. Sempre fui em casa a mais mimada, talvez pelo fato de ser a caçula, ganhava tudo dos meus pais.

Certa vez, após dois anos com as propriedades na feira e o bar, descobrimos que não estávamos dando conta e que havia desfalques irreversíveis.

Com a falta de dinheiro, tivemos que conter gastos, mas para mim, na época, não era tão importante. Eu saía com cortesia que ganhava dos amigos e a vida de “baladas” era intensa, de quinta a domingo. Viajava muito também. Sempre tive o sonho de fazer intercâmbio, estudar e morar fora do Brasil.


Enviada em: 31/10/2007 | Última modificação: 31/10/2007
 
Paixão na adolescência »

 

Comentários

  1. Marcos Lomba @ 13 Nov, 2007 : 12:22
    Que felicidade ter tido essa meio japonesinha e muito brasileirinha passando pela minha vida! E por estes depoimentos da Luana concluo o quanto ela cresceu nestes últimos quatro anos. As circunstâncias da minha vida sempre me fizeram estar muito próximo dos orientais e seus descendentes aqui no Brasil. Também sou descendente de imigrantes(italianos, espanhóis e portugueses) e meu pai trabalhou por mais de 11 anos com família japonesa e com isso cresci no meio deles, basta dizer que minha primeira grande paixão também foi uma sansei... e é isso tive a oportunidade de estar ao lado por algum tempo dessa pessoa cheia de brilho e entusiasta pela vida e pelo que faz, batalhadora, guerreira como seus ancestrais e que tornam este país mais produtivo, colorido e diversificado culturalmente. Parabéns por ter chegado até aqui Luana!!! Te quero muito bem, hoje e sempre!!! Marcos Lomba

  2. luan @ 21 Nov, 2007 : 15:29
    eu perguntei foi de emigração

  3. Luci Suzuki @ 5 Jun, 2008 : 08:25
    Cara Luana, apreciei muito a sua abordagem do tema, ao observar com equilíbrio e honestidade o processo histórico do qual poucos conhecem: a questão da identidade dos primeiros nisseis, as repressões durante o período Vargas, até a lenta e recíproca assimilação inter-racial alcançada pela nossa sociedade. Frequentemente somos lembrados como uma nação sem memórias, - em grande parte pelo baixo nível escolar que o Estado nos reserva, e por outra, porque temos múltiplas referências culturais, com uma enorme vocação de olhar o umbigo alheio e não o próprio. Mas causa grande conforto saber que há muitos acadêmicos – como é o seu caso - que estejam registrando estes fragmentos históricos sobre um papel. Seria auspicioso que brasileiros de diferentes origens – sobretudo as distintas culturas africanas, mas como tbém a italiana, portuguesa, alemã, libanesa e tantas outras - registrassem seus fatos históricos. Por que afinal, fazemos parte de uma sociedade única que ocupa fisicamente um território, no qual os únícos brasileiros, continuam sendo os índios. Os únicos que ainda não provaram a tão desejada coesão. Um grande abraço e bons estudos, Luci.

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