Conte sua história › Luana Cristina Ireijo › Minha história
Meu objetivo anteriormente era voltado para área rural, mas, com o passar do tempo, acabei me envolvendo pelos projetos da minha professora e orientadora Solange Bertozi. Apesar de ser descendente de alemães, ela é muito envolvida e admiradora da cultura japonesa, e fez com que me interessasse pelo tema. Fiquei surpresa comigo mesma por não ter rejeição como antes, e fui assim de “cabeça” nessa empreitada.
Debatíamos em todos os nossos encontros sobre como seria apresentado este projeto, ela com a parte teórica e eu, com a parte prática. Éramos sintonizadas pela mesma paixão, essa que eu estava desvendando aos poucos para mim mesma.
Tem uma parte do projeto que devemos coletar informações históricas, ler tudo o que fala sobre a chegada dos imigrantes ao Brasil e ao sul de MT, atualmente MS.
Essa parte fez com que eu resgatasse no tempo as dificuldades da época, como foram as difíceis adaptações no país, a falta de entendimento da língua e de comunicação. A chegada ao poder do nacionalista republicano Getúlio Vargas proibiu aos imigrantes qualquer tipo de veiculação estrangeira, proibindo o ensino da língua.
Na época as humilhações por preconceito eram muitas, vinda desde crianças e adolescentes que jogavam pedras nos imigrantes japoneses, e em suas casas. Minha mãe conta que chamavam ela de “bode” e que ela tinha medo das ameaças.
Estudando o comportamento e atitudes de quem ficou no Brasil pela falta de opção e pela necessidade daquela ocasião, observei que muitos desses orientais faziam de duas formas para manter protegidos seus filhos, a terceira geração. Uma era de segregação, não ensinando a língua japonesa e fazendo seus filhos se tornarem realmente brasileiros. E a outra de coesão, em não deixar seus filhos terem influências de “gaijins” em sua educação e comportamento, tendo um isolamento de agrupamento apenas da colônia.
Pergunto aos meus pais, quais dessas atitudes eles adotaram comigo? Porque ao mesmo tempo em que eles não me incentivavam a fazer aulas de língua japonesa e ter apenas a panela de “gohan” como forma de cultura do nihon, mas comendo arroz temperado e feijão. E de certa forma, eles não queriam minha aproximação com “brasileiros”, preferindo sempre amizades com filhos de famílias japonesas.
Como entender essa geração que passou por humilhações e preconceitos no país, e por ser japonês no Brasil e “gaijin” no Japão? É confuso para eles saber como proteger e defender das diferenças seus filhos e manter viva as tradições dos seus pais.
Eu acredito que os estudos e aperfeiçoamento do que chamamos de segregação e coesão da cultura japonesa possam ajudar na construção de futuros descendentes mais focalizados em suas raízes milenares, na miscigenação de raças, e na auto-afirmação no país tropical abençoado por DEUS, chamado Brasil.
E foi com a aproximação de um ex-namorado “gaijin” que meus pais aprenderam a admirar, fizeram com que o comportamento preconceituoso fosse eliminado na minha família. Minha mãe diz: “quero ter um netinho mestiço!”
E para finalizar, posso dizer que me sinto orgulhosa em ser descendente direta da família Ireijo, herdar o sangue e traços orientais, e ter a alegria e sensualidade de uma brasileira.
O percurso da minha vida até aqui me ensinou a gostar de ser assim... Porque sou assim! E meu objetivo agora é estudar no Japão, aprender fluentemente a língua e continuar a manter a rica identidade japonesa no meu país.
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil