Conte sua história › Luciene Shirado › Minha história
Conhecer a terra natal dos meus avós foi a realização de um grande sonho. Morar no Japão, aprender mais sobre a cultura e costumes, foi uma experiência extraordinária.
No primeiro mês, eu fiquei na casa de parentes e, juntamente com os outros sete estagiários de países diversos, tive aulas de língua japonesa, em período integral. Nos meses seguintes morei em um apartamento alugado pelo governo de Okinawa no centro da capital Naha e fiz estágio em postos de saúde, clínicas odontológicas e hospitais. Com isso, tive um contato mais direto com os japoneses, conheci sua dedicação e a rotina de trabalho.
Além das aulas de língua japonesa e do estágio profissional, as atividades incluíam visitas aos pontos turísticos da província e uma viagem a Tokyo, Kyoto e Kobe. Nos horários livres, atividades extras eram permitidas e, com isso, tive a oportunidade de participar de aulas de eisa, koten taiko e odori.
O modo de vida japonês é cercado de regras e rituais, muito diferente do brasileiro, que vive de uma forma menos sistemática. A preocupação com a limpeza, como tirar os sapatos antes de entrar na casa, e a forma de apresentação da comida, separadas em porções e em recipientes diferentes, transmitem a idéia de zelo e reverência ao lar e ao alimento.
Apesar de ser descendente de japoneses, foi necessário um período de adaptação às diferenças de costumes. O clima subtropical de Okinawa é muito parecido com o do Brasil. Apreciei a comida e estava disposta a me integrar ao modo de vida japonês. Viver perto do mar foi uma experiência nova e encantadora para mim. Um trecho de uma das canções de Okinawa diz que “...o mar que une o mundo é um só...”
Meus parentes, tios e primos dos meus pais, me receberam muito bem e mesmo no primeiro contato me senti acolhida como em minha família no Brasil.
Durante a minha infância e adolescência, sempre quis conversar com meus avós sobre o Japão e sobre a vida deles. Mas, por respeito ou vergonha e pela dificuldade da língua, nunca tive oportunidade de falar sobre isso. Através do contato com meus parentes no Japão, senti como se tivesse uma segunda chance de estar com meus avós e perguntar sobre diversos assuntos. Foi o resgate de algo muito valioso para mim.
As pessoas andando pelas ruas de Okinawa tinham feições familiares e amistosas. Muitas têm parentes aqui no Brasil e, durante uma conversa, a recepção era calorosa e agradável.
O sentimento que se solidificou depois dessa experiência foi a de que conheci minha segunda pátria... A cultura é riquíssima, o povo, acolhedor, e as belezas naturais, sem igual. Meus avós, quando vieram para o Brasil, sempre quiseram voltar para lá. Hoje eu entendo o porquê.
Depoimento ao jornalista Luciano Shakihama
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil