Conte sua história › Osamu Takimoto › Minha história
Na ocasião de plantão em Fontes(área de usina da Light) nos finais de semana quando havia pouca demanda de serviço eu ia à casa do Sr.Cesário para conversar. Naquela casa que eu conheci a minha esposa Ruth, pela primeira vez. Ela estava passando férias com os primos. Após alguns meses Sr.Cesário me convidou para conhecer a cidade de Itajubá no sul de Minas, ele ia para batizar o sobrinho-neto Rogério filho de Lauro. Fomos no meu carro e dormimos na casa do Sr.Cyrillo(sogro). Lá novamente encontrei com Ruth na sala assistindo TV embrulhada no cobertor porque fazia bastante frio naquela noite. Ela veio para conversar comigo no intervalo de programa de TV. Ela tinha cabelo longo bem cuidado isso mexeu com minha química, porém, aquele dia ficou por isso só.
Voltei naquela cidade com passageiras(caronas) que arrumei na casa do Sr.Cesário. Pernoitei na casa do Sr.Cyrillo mais uma vez. Desta vez tive bastante tempo para conversar com Ruth e resolvemos intensificar a nossa amizade. Sai de Itajubá com destino a São Paulo com Jefinho e Rubinho no carro. Eu não tinha noção de conhecimento deles sobre a cidade então parei na Av. São João bem no centro de São Paulo e sugeri que fosse andando o resto. Eles aceitaram e desceram por lá. Se foi bem ou não aquela carona para eles não fiquei sabendo até hoje. Objetivo daquela viagem era para buscar meus pertences que deixei na casa de meu parente quando me mudei de São Paulo para Rio.
Quando éramos noivos, eu morava no Rio e ela em Itajubá no Sul de Minas Gerais. Eu ia na casa dela de carro nos fins de semana. Apesar de ter dado muitos problemas no carro continuei encontro semanal ou quinzenal. Algumas vezes cheguei em Itajubá rebocado. Durante o namoro eu correspondi pela carta com a noiva, uma forma de tentar familiarizar mais com a língua portuguesa. Ela me entendia e corrigia as minhas cartas, era uma pequena aula bem sutil. Com a família dela também conseguia me entender e aprendi algumas modas mineiras de falar. Todos da família da Ruth são gentis e carinhosos, me receberam de braços bem abertos. Creio que no início devia ter sentido estranheza a minha presença.
A família dela era grande. Na casa dos pais dela moravam tios paternos e maternos às vezes sobrinhos também se juntavam. Ela tinha no total de 12 irmãos de cima pra baixo Cidinha, Lauro, Isa, Nélson, Neusa, Gefferson, Ruth, Rubens, Jairo, Marcos, Saulo e Levi. Apesar do grande número de pessoas não havia tanta confusão, são irmãos unidos e harmoniosos. O Saulo estudou curso técnico de eletricidade. Quando concluiu ele, sem falar comigo, veio para Rio e prestou exames de admissão na Light e alguns dias depois me solicitou ver o resultado. Eu fui no setor correspondente e pedi o resultado do Saulo. Funcionário me perguntou “Qual é o nome completo dele?” Eu respondi prontamente “Saulo Rodrigues de Souza”. Ele me disse que não há candidato com esse nome mas tem “José Saulo Rodrigues”. Fiquei na dúvida porque todos os irmãos tem o sobrenome de “Rodrigues de Souza”. Depois soube que era único que tem nome diferente entre doze irmãos. Curiosamente Ruth também não sabia o nome certo do irmão Saulo. Infelizmente ele não havia conseguido pontos mínimos de aprovação.
O meu casamento aconteceu menos de um ano de namoro por decisão dela. Estamos juntos ainda porque não há arrependimento, portanto somos felizes. Na ocasião de nosso casamento confesso que meu domínio da língua portuguesa ainda era péssimo, para dizer a verdade até hoje. Para transmitir o que tem na mente, as vezes, não precisa de muitas palavras nem tampouco gramática correta. Importante é falar com poucas palavras e escutar mais.
Na ocasião do nosso casamento Cidinha, Lauro, Nélson e Neusa já eram casados. Os demais casaram depois da gente exceto Isa, Saulo e Levi, esse último teve problema sério de saúde mental e com 33 anos ele faleceu. Com o Levi nos convivemos bastante tempo. Ele vinha na nossa casa, de vez em quando com o pai, e tratava sua saúde no Rio durante muitos anos, por isso, sentimos muito a morte dele.
O meu sogro aposentou se poucos anos depois do nosso casamento. Ele era uma pessoa rígida, religiosa, rigorosa, sistemática e gostava muito de falar sobre a vida passada dele para quem estivesse na frente. Isso continuou até o momento da morte dele aos 94 anos. Antes ele passou pela vida política e chegou a ser prefeito. Durante bom tempo ele foi Juiz de Paz de Itajubá. Ele contava nos com bastante orgulho da amizade que teve com Aureliano Chaves quem morou em Itajubá no tempo passado. Segundo história dele, ele não tinha tempo na adolescência pois trabalhava além da imaginação. Então após aposentadoria resolveu aproveitar a vida principalmente quando nos íamos a Itajubá ele saía comigo para pescaria e a noite era sempre jogo de baralho até amanhecer.
A minha sogra era uma pessoa super simples. Essa rara simplicidade passou para Ruth. Tanto ela como meu sogro veio de família numerosa que na época era tão normal. Meu pai também teve oito irmãos e a minha mãe teve apenas quatro irmãos. A família da sogra era de Rio Manso um lugarejo que fica a cinco kilômetro de Itajubá. Nessa família tinha muito patrimônio contudo com o decorrer do tempo dissipou quase na sua totalidade. A geração da sogra hoje não há mais ninguém.
As opiniões emitidas nesta página são de responsabilidade do participante e não refletem necessariamente a opinião da Editora Abril
Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil