Conte sua história › Osamu Takimoto › Minha história
Viver feliz depende da conseqüência do próprio ato. Isto significa que felicidade é feito pelo próprio. Nesse contexto quando não há arrependimento da sua decisão o sujeito é feliz. Eu tive algumas ocasiões que tomei decisão para mudar rumo da minha vida. Algumas vezes fui obrigado a seguir resultado ou conseqüência de outrem. Neste mundo tudo é entrelaçado, portanto, a minha decisão pode provocar a infelicidade de alguém ou vice-versa.
No mês de Agosto de 1966 vim para o Rio de Janeiro por convite de meu tio que morava em Alcântara. Fiquei sem emprego até o fim daquele ano quando surgiu a chance de entrar na Light que era uma empresa canadense sem saber falar português direito ainda. Eu fui entrevistado pelo Sr.Lisbôa que era encarregado da seção de Telecomunicações e Eletrônica. Lógico que ele teve muita paciência comigo para entender e transmitir o tema de entrevista. Ele era uma figura um pouco diferente, bem sistemático e ético como pessoa de antigamente.
Nessa época que comecei a trabalhar, mudei de Alcântara para Tijuca num quarto alugado. Quarto era suficiente para colocar minhas coisas bem arrumadas e armar bancada para revelação de fotos monocromática em cima de mesa pequena. Naquela mesa também serviu de fazer biscate, conserto de rádio de pilha, que era mais para passar tempo. Quarto era um dos cômodos de apartamento de dois quartos. Quem me alugou, dona Ivone, na verdade não era proprietária quer dizer era subalugado. Ela pagava para proprietário um terço da quantia que eu pagava para ela, coisa da época. Dona Ivone tinha uma filha e um amante rapaz mais ou menos da idade da filha. O resto nem precisa contar bagunça que havia naquele apartamento.
Um mês depois que me ingressei na companhia houve desastre ecológico na área de usina, danificando a maior e mais moderna usina do sistema da Light, distante 70km do Rio. Para atender a contingência de serviço eu fui enviado na área da usina em semanas alternadas por ser funcionário solteiro. Eu conseguia me comunicar com os companheiros e cada vez melhorando o domínio da língua portuguesa. No início meu Diretor sempre falava comigo em inglês e eu respondia em português capenga. No período daquele plantão na usina eu recebia horas extras que somava boa quantia. Juntei essa grana extra e adquiri no ano 67 um carro usado modelo 65 que não parava de dar problema.
Eu tinha carteira de motorista internacional, mas, entrei numa auto-escola e tirei carteira de habilitação. Naquele tempo cada técnico dirigia carro da empresa com autorização apropriada. Havia garagem oficina perto da Central do Brasil e lá tinha porteiro que anotava a entrada saída de veículo e nome do motorista. Primeira vez que entrei, ele me mandou parar o carro e pediu a minha autorização. Fiquei bastante impressionado com a boa memória dele, pois, apresentei meus dados só naquela vez e nunca mais ele perguntou nada apesar de ter repetido mil entradas e saídas.
Durante plantão na área de usinas conheci algumas famílias residentes na vila da usina entre elas o tio da minha esposa, Sr.Cesário. Ele era responsável pelo sistema de comunicação telefônica da usina. Já que era do mesmo ramo de comunicação logo ficamos amigos.
Vida profissional não há o que reclamar pois serviu de escola da sobrevivência. A questão salarial eu nunca protestei, apesar de ter injustiçado como carreira dentro da empresa. Concorrer salário prejudicando colega a quem merece mais não era do meu estilo. Vale lembrar que viver feliz não depende só de recursos financeiros.
Meu patrimônio evidentemente não é grande coisa. Melhor patrimônio da minha vida foi educar meus quatro filhos nas melhores escolas e todos concluíram curso superior. Na época que três primeiros filhos, com diferença de idade de dois anos e meio, despesa era grande. Para aumentar o salário abandonei a Fundação, em conseqüência, não tenho complemento da aposentadoria. Vivo com orçamento mensal na medida do possível sem luxo sem supérfluo. Meu carro é de 96 que já rodou 260Km e continuarei com ele até acabar. Nunca senti que sou pobre, porém com essa medida do governo sobre aposentadoria, com certeza, ficarei na classe Baixa/Média, ou seja, classe social “D” em breve se já não estou.
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil