Conte sua história › José Maria Filardo Bassalo › Minha história
Devo ao Shozo Motoyama [12], além da grande amizade e de seu estímulo para eu escrever as Crônicas da Física [13], dois grandes acontecimentos em minha vida acadêmica. O primeiro, foi a oportunidade de haver conhecido, em sua residência em Campinas, em 31 de março de 1973, levado pelo amigo Kazuo Watanabe, os físicos Edson Shibuya e Yoichi Fujimoto, integrantes da famosa Colaboração Brasil-Japão [14], e o engenheiro Ayami Tsukamoto, um dos perseguidos por ocasião em que o Brasil entrou na Segunda Guerra Mundial, amparado, no entanto, por seu amigo o Conde Matarazzo. Naquele dia, soube da origem daquela Colaboração. Nessa reunião na casa do Shozo, Tsukamoto contou o seguinte. Por volta de 1950, existiam no Brasil muitos japoneses que não acreditavam que o Japão tivesse perdido a Segunda Guerra Mundial. Então, alguns eminentes japoneses morando no Brasil resolveram trazer o físico japonês Hideaki Yukawa, que acabara de ganhar o Prêmio Nobel de Física, de 1949, pela sua proposta da existência dos então mésons pi [15], e estava visitando os Estados Unidos, para conversar com esses japoneses. Para isso, fizeram uma grande coleta de dinheiro. Como o Físico do Imperador não pôde vir ao Brasil, e ao ser consultado sobre o que fazer com o dinheiro arrecadado, ele então sugeriu que se criasse uma Colaboração entre físicos brasileiros e japoneses para financiar o trabalho que Lattes havia iniciado em São Paulo, dando, assim, prosseguimento as suas pesquisas sobre raios cósmicos, que ele fizera nos Alpes Franceses, nos Andes Bolivianos e no sincrociclotron de Berkeley [16]. Aliás, é oportuno dizer que essa Colaboração descobriu os famosos eventos tipo bola-de-fogo: mirim, açu, guaçu, centauro, mini-centauro, geminion e chiron [17].
O segundo fato devido ao Shozo, foi a minha indicação, ao saudoso Professor Simão Matias, para ser um dos fundadores da Sociedade Brasileira de História da Ciência (SBHC), em 1984.
Agora, destacarei a importância das aulas dos professores Osada e Shigueo na minha função de professor-pesquisador, no então NFM e, posteriormente, no Departamento de Física da UFPA, entre 1961 e 2005. Em 1969, fui aluno das disciplinas: Introdução às Partículas Elementares, com o professor Osada, e Dosimetria e Física das Radiações, com o professor Shigueo. Com o primeiro, aprendi a maneira de testar a criatividade dos alunos. Na prova, realizada em junho de 1969, as questões foram as seguintes: Formule e Resolva: Um Problema de Interação Eletromagnética, Um de Interação Fraca, e Um de Interação Forte. Ele desejava saber o quanto de criativo existia de minha resposta (e, também, nas dos meus dois colegas: Coaracy Malta e Luís Carlos Campelo Cruz). Pois bem, quando voltei para Belém, ao retomar minha atividade de professor e até ser aposentado, pela compulsória, em setembro de 2005, uma das questões que sempre apresentei aos meus alunos, por ocasião das provas que passava para eles, era a seguinte: Formule e Resolva um Problema sobre ... O tema escolhido, dependia da disciplina que ensinava no momento.
Com o professor Shigueo, meu aprendizado foi outro. Ele ensinou-me a importância da Física para a Medicina. Sobre esse amigo, é oportuno registrar que, apesar de seus 84 anos de idade, ele continua ativo no IFUSP, sendo o Coordenador do Laboratório de Cristais Iônicos, Filmes Finos e Datação LAFICID [18].
Por fim, na conclusão deste artigo, gostaria de falar sobre a minha recente amizade com mais um nikkei, o físico Vitor Oguri, professor da Universidade Estadual do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Essa amizade, aconteceu por intermédio da amizade com um outro amigo meu, o físico Francisco Caruso, também professor da UERJ e do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF). Inicialmente, essas amizades decorreram de minha participação, a convite do Caruso e de outro grande amigo, o físico Alberto Santoro, também da UERJ, nas LISHEP93/01, realizadas no CBPF/UERJ, cujos textos por mim apresentados, foram lidos e comentados por Caruso e Oguri, que, em retribuição, pediram-me que fizesse uma leitura cuidadosa do livro por eles escrito em 2006, Física Moderna: Origens Clássicas e Fundamentos Quânticos, editado pela Elsevier/Campus, cuja primeira edição está esgotada, com a segunda já no prelo. O sucesso desse livro os levaram ao segundo lugar do Prêmio Jabuti/2007.
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil