Conte sua história › José Maria Filardo Bassalo › Minha história
Uma das minhas primeiras lembranças sobre a presença dos imigrantes japoneses em Belém remonta à época em que o Brasil entrou na Segunda Guerra Mundial, em 1944, quando eu tinha cerca de nove anos de idade. Como se sabe, essa guerra acontecia na Europa, entre os Aliados (Inglaterra, França, Rússia e Estados Unidos), contra a Alemanha, Japão e Itália. Pois bem, com a participação brasileira nessa Guerra, houve uma perseguição aos imigrantes e seus descendentes daqueles “países inimigos”. Como eu era um desses descendentes, pois minha mãe era italiana, me recordo bem das perseguições que foram perpetradas, em Belém contra esses descendentes.
Um ano depois, em agosto de 1945, um outro fato que me chamou a atenção sobre os imigrantes japoneses, foi a preocupação deles com os parentes que moravam no Japão, em conseqüência das explosões das bombas atômicas em Hiroshima, no dia 06, e Nagasaki, no dia 09, daquele mês. Eu só vim a entender bem a razão dessa preocupação quando, muitos anos depois, estudaram os processos físicos e seus efeitos devastadores que aconteceram naquelas explosões atômicas [1].
Durante o final da década de 1940 ou começo da década de 1950, tive uma outra informação sobre a presença dos imigrantes japoneses no Pará, pois, nessa época, se falava muito da excelente qualidade da pimenta do reino de Tomé-Açu, um município localizado no nordeste do Estado do Pará, pimenta essa que fora cultivada por imigrantes japoneses que lá chegaram, em 1929 [2].
A partir daí, minha convivência com imigrantes japoneses e seus descendentes (nikkeis), quer em Belém, quer em outros estados brasileiros, foi se estreitando. Vou seguir uma ordem cronológica para falar um pouco dessa convivência. Quando eu era aluno da então Escola de Engenharia do Pará (EEP), entre 1954-1958, uma lembrança que ainda guardo na memória foi a presença de uma loja que vendia e ainda vende, dentre outras coisas, eletrodomésticos, a Y. Yamada, cujo proprietário era um imigrante japonês, Yoshio Yamada, que chegou ao Pará, com sua mulher Aki Yamada, em 1931, loja que se localizava na Rua Manoel Barata, próximo da Travessa Campos Sales, rua onde ficava a escola de Engenharia. Guardo uma boa lembrança do “Seu Yamada”, por ocasião da Copa do Mundo de 1958 pedíamos ao “Seu Yamada” que aumentasse o volume do rádio que transmitia os jogos da seleção brasileira, para que pudéssemos acompanhá-los enquanto realizávamos as provas semestrais. Lembro-me muito bem do jogo que ganhamos da França, por 5 x 2, pois estávamos fazendo a prova da Cadeira de Portos de Mar, Rios e Canais, ministrada pelo saudoso professor Angenor Porto Penna de Carvalho, de quem, mais tarde, me tornei um grande amigo. Tínhamos os olhos na prova e os ouvidos e o coração voltados para a narração do jogo. Note-se que hoje, aquela pequena loja do “Seu Yamada”, se transformou em uma rede de Supermercados, graças ao trabalho de seus descendentes, com lojas no Estado do Pará (nos municípios de Ananindeua, Barcarena, Belém, Bragança, Capanema, Marabá, Paragominas e Santarém), além da loja no Estado do Amapá (em Macapá).
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil