Conte sua história › Daniel Jun Hashimoto › Minha história
"Apesar de haver muitas escolas destinadas ao ensino de brasileiros no Japão, ainda é raro se deparar com dekasseguis nos bancos de ensino superior ou cursos tecnológicos.
E eu sonhava em integrar esta minoria. Apesar da cordialidade típica do japonês, a presença de estrangeiros que emigram para esta Terra do Sol Nascente como mão-de-obra barata ainda é vista com ressalvas. Preconceito existe, o grandioso é driblá-lo, vencê-lo. E isso em qualquer lugar, seja em sua própria nação ou em um novo país.
Uma das grandes barreiras enfrentadas pelos nipo-brasileiros ao sonharem com o ensino superior no Japão é que, enquanto no Brasil a educação obrigatória é formada por uma grade de 11 anos, no país oriental, são necessários 12 anos para completar este ciclo. E esse único ano que falta pode levar dois, três, quatro anos, já que o candidato estrangeiro é obrigado a aprender um nível gramatical e lingüístico muito mais culto e erudito, conhecer literatura, história e geografia tão bem como qualquer aluno nativo deste arquipélago.
No meu caso, foram três anos percorridos até ser aceito. Cada dia era
uma nova esperança, mas muitas noites foram de escuridão. Muitas horas de incerteza e lampejos de alegria. A cada manhã, eu chegava no balcão da Kuretake Shinkyu Jusei Senmon Gakkou, reconhecida como a melhor escola de ensino de acupuntura da cidade de Yokohama, segunda maior cidade do Japão em termos de densidade demográfica localizada na província de Kanagawa.
Aprovado no exame de entrada e com os documentos necessários em ordem, lá se vão mais três longos anos. Agora, as palavras eram técnicas, havia estágios obrigatórios em clínicas e hospitais. Cada dia era um escalar entre o céu e inferno de Dante Aliguieri. Porém, como as mais belas estrofes presentes na obra “A Divina Comédia”, vi minhas mãos agarrarem uma oportunidade de sabedoria e aprendizado para elevar-se em um novo mundo.
Hoje, já estou formado e clinicando. O meu sonho de riqueza se manteve. No entanto, ao invés de dinheiro poupado em uma conta bancária, meu capital floresceu e se tornou conhecimento. Um bem que hoje busco compartilhar com meus pacientes brasileiros e japoneses".
DEPOIMENTO À JORNALISTA JULIANA KIYOMURA
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil