Conte sua história › Tomiko Gimbo › Minha história
Quando eu tinha 13 anos, um nakodo (padrinho) fez uma proposta de casamento para minha mãe. Disse que havia arranjado um bom marido, que seria bom para uma mulher sozinha como ela. Meu irmão Kunisaburo foi contra, mas minha mãe aceitou, confiando no padrinho. Ela me disse: "Vou me casar, quem sabe assim você pode voltar a estudar".
Era época de colheita. Minha mãe contou com a ajuda do vizinho, Sr. Kobata, que comprou toda a safra dela e ajudou na mudança. Pegamos o trem de Santa Cruz
do Rio Pardo até Caçapava. Descarregamos a mudança e fomos até Pindamonhagaba, para um restaurante onde haveria o encontro com o noivo de minha mãe, Sr. Zenju Gimbo.
Eu e meu irmão ficamos escondidos, espiando pela fresta da porta, curiosos para ver quem seria nosso futuro padrasto. Me impressionei quando vi aquele homem enorme, forte, com cara de bravo, que usava um chapéu e sobretudo, que parecia uma capa voadora. (risos)
Subimos a Serra da Mantiqueira, rumo a Santo Antônio do Pinhal, onde ficava a casa onde iríamos morar. A estrada era de terra e o caminhão não era forte, por isso os homens ficavam com pedras na mão para calçar os pneus e ajudar na subida. O motorista gritava: "calça, calça!", e os homens iam lá colocar a pedra (risos). Chegamos lá de madrugada.
Foram combinados mais dois casamentos: meu irmão Toshiji se casaria com a filha de Zenju Gimbo, Sumiko. E eu me casaria com o filho dele, Toru Gimbo. Disseram que, assim, a família ficaria mais unida e forte.
Comecei a trabalhar na roça e achei muito pesado. Plantávamos batata, cenoura, repolho e tomate. Depois, me acostumei com o trabalho. Eu não sabia que minha mãe estava grávida da minha irmã Massako. Ela vivia cansada.
Em Santo Antônio do Pinhal tinha um kaikan que freqüentávamos: íamos assistir aos jogos de beisebol, ao undokai (gincana esportiva).
Aos 19 anos de idade, em 1953, me casei com Toru Gimbo. Eu trabalhava junto com ele, chamava-o de niissan (irmão mais velho). A cerimônia de casamento foi japonesa. Havia símbolos na mesa: o galho de pinho (matsu), já que as folhas caem de dois em dois e representam a união do casal, o bambu (take), pois o broto cresce mais que os pais (significa que os filhos prosperam mais que os pais), e a ameixa japonesa (ume), em que todas as flores da árvore dão frutos. Tsuru (cegonha) e kamê (tartaruga) simbolizavam uma vida longa e feliz. Teve também o ritual do "san san kudo": os noivos tomam três goles de saquê de cada recipiente, um grande, um médio e um pequeno.
Mas, depois do casamento, a vida não mudou. Continuamos a morar na casa dos nossos pais, trabalhando na roça. Como havia muitos empregados na roça, o trabalho era pesado, pois eu tinha que preparar as marmitas para todos. Havia seis moços que vieram do Japão, que trabalhavam e moravam em casa, pois tinham assinado um contrato de quatro anos. Era pesado, ainda mais porque tinha que cuidar dos meus bebês chorando.
Tive três filhos: Mário Takehiko, nascido em 1954, que hoje é perito judicial; Francisco Matsuhiko, nascido em 1956, que é agrônomo, e Wilson Toshihiko, médico. Eles são o que tenho de mais importante na minha vida. Nihonjin (japonês) não demonstra sentimento, não dá abraço, nem beijinho, mas tem muito carinho pelos filhos, sim.
Depoimento à jornalista Kátia Arima
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil