Conte sua história › MARIO KATSUHIKO KIMURA › Minha história
Nasceu em Togauchi, município de Hiroshima, no Japão em 15/01/1913, quarto filho de Toyotaro Kawamoto e Kisse Kawamoto. Seu pai era lenhador do interior e Kumaiti costumava acompanhá-lo nos serviços, porém o seu pai, talvez tendo premonição, pediu para não fazer companhia no dia fatídico em que veio a falecer por debaixo de uma árvore que acabara de derrubar, no topo da montanha. Tinha então o Kumaiti apenas oito anos de idade.
Quando tinha quatorze anos de idade, sozinho mudou-se para a capital (Hiroshima), quando teve experiência de atuar numa famosa fábrica de doces ¨Sumidaya¨, que era okashiya-sam que até fornecia seus produtos para o Palacio Imperial, tendo a primeira experiência como auxiliar de confeiteiro/doceiro. Na capital teve também a oportunidade de freqüentar uma escola de desenho e teve a sorte de contar com os ensinamentos do mestre ¨Laisho-sensei¨, famoso desenhista da época e de Uta Dokan, considerado mestre dos mestres. Residiu nessa época ao lado da Escola Naval Kaigun-hei-gakoo.
Com o desenvolvimento do seu tino como desenhista especializou-se em desenhos da natureza, tais como vegetais: suzulan (orquídeas), Bará (Rosa), minerais tais como rocha, cachoeira e água, desenhou também animais, notadamente Laion (Leão).
Além do desenho, gostava muito de escrever, conta que escrevia ¨haiku¨ e ¨senriyu¨, que deve ser poema e poesia, fazia também algumas esculturas, sempre aproveitando as folgas, principalmente em dias chuvosos em que não podia atuar na roça, quando decerto buscava maior inspiração.
Chegou a participar de vários concursos e utilizava o nome artístico de HOORAN.
Por ser introspectivo não acreditava em sua capacidade oratória, porém aceitava prontamente o desafio de escrever discursos para terceiros, para quaisquer eventos.
Conta que um de seus poemas foi premiado num concurso, cuja apresentação feita por sua sobrinha Yuriko Kawamoto.
A sua vinda de Hiroshima para o Brasil, também ocorreu por força da situação econômica financeira do Japão, pós depressão de 1929, mais precisamente em 14/10/1931 (Site memorial de Imigrante- Governo de SP). Veio em companhia de seus dois irmãos Tomoiti- 13.06.1902-(primogênito) e Satomi Kawamoto- 10.09.1916- (quinto filho), deixando para trás sua mãe Kisse- 05.03.1881* 06.06.1953+ e irmãos (Kiyomi- 29.04.1909- (terceiro filho) e Yuiti - 19.12.1903- (segundo filho)). Teve irmão de nome Ryouzou (caçula) que faleceu precocemente com apenas 6 meses (este não consta de documento oficial- Kosseki tohon da Kisse Kawamoto).
Fixou-se na região de Jataí PR e posteriormente em Assaí PR, onde veio a conhecer a Shizuko Kimura com quem consorciou-se em 15.05.1939, pelo regime de YOSHI, casamento normalmente adotado quando a família da noiva não possui filho varão, no intuito de perpetuar o sobrenome. Alterou então o seu sobrenome de Kawamoto para Kimura. Atuou sempre nas lides rurais.
Tinha por costume, aproveitando-se de sua ida à cidade para compra de mantimentos, levar ora um filho ora outro e nessas ocasiões levava-os a restaurantes (udon-yá), comportamento não usual para os imigrantes da época.
Em Assai PR teve oito filhos. Em decorrência da forte geada de 1955, mudou-se para Maringá PR para arriscar como doceiro/confeiteiro, mudança ocorrida de trem (maria-fumaça).
Conta que durante a longa espera da locomotiva na estação, convidou a família para almoçar junto a um restaurante de Jataí PR, comportamento muito raro para chefe de família da época.
Consta que quando a filha Eliza pediu ao pai para fazer uma poesia dedicatória, este prontamente escreveu ilustrado por desenho de uma árvore na rocha de uma cachoeira ¨IWA NIMO KI WA HAERU. LEIKO YO (ELIZA) FUKAKU NE O OROSSE¨, bastante profundo que traduzindo fica mais ou menos isso ¨Uma árvore nasce até em rochedos, portanto Leiko (filha), aprofunde cada vez mais as suas raízes¨.
Para a filha mais velha Keiko preferiu desenhar o trevo de quatro folhas e em cada folha escreveu: ¨KIBOU¨= esperança; ¨SHINKOU¨=religião/crença; ¨AIDIYOU¨=amor e ¨SATI¨= felicidade.
As filhas pouco entenderam o significado à época e somente agora depois de idade avançada é que começam a entender a profundidade das frases.
Se de um lado era uma pessoa calma, bondosa e costumava tratar os filhos com carinho, demonstrou também, por outro lado, ser uma pessoa difícil, teimosa e até fanática. Pertenceu a ala dos imigrantes que não acreditava/aceitava que o Japão tivesse sido derrotado na Guerra (KATI-GUMI). Não respeitava e aceitava sequer a opinião de sua esposa.
Seu sonho, como o da maioria dos imigrantes, decerto era de retornar para o Japão e os dois primeiros filhos (Atsushi e Keiko) foram registrados no consulado e possuem dupla nacionalidade.
À época, chegou a impedir que os primeiros filhos freqüentassem a escola brasileira e exigia que estudassem NIHONGO e chegou a comprar lampião a gás para pessoalmente lecionar a língua japonesa.
Depois do fracasso no comercio/confeitaria em Maringá PR, mudou-se para Cianorte PR, onde atuou como empreiteiro do Sr. Takeo Shinnae, cuja esposa chamava-se Mitsue Shinnae, em um sitio entre São Tomé e Cianorte PR, sitio onde nasceu o seu filho caçula (Wilson Teruo Kimura). O Sr. Shinnae possuía uma máquina de beneficiamento de arroz na cidade de Cianorte.
Gostava também de pescar, construía suas próprias redes e tarrafas.
Quando residia em Assai PR, ia até sozinho pescar no rio Tibagi, somente em companhia do seu cavalo ¨Dourado¨, chegando a pernoitar de sábado para domingo, só retornando domingo a tarde.
Gostava muito de bebida alcoólica, tomava pingas (Oncinha, São Jorge, Tatuzinho, dentre outras) e fumava muito (Urca, Mistura Fina e até fumo de corda).
Em Cianorte conseguiu companheiro de pescaria de nome Uchida-sam que tinha comercio de secos e molhados na cidade, seu companheiro até a ultima pescaria ocorrida em 26/03/1960, quando faleceu levado pelas águas do rio Ivaí, morte prematura aos 47 anos de idade.
Tinha então o protagonista desta narrativa apenas nove anos de idade.
Narrativa enriquecida com depoimento da Keiko Kimura Kuniwake, segunda filha de Kumaiti.
Dados do Kosseki tohon de Kisse Kawamoto traduzido pela professora Michiyo Hirano.
Depoimentos de Tadako Kawamoto (prima), filha de Yuiti Kawamoto/Wakako Nomura Kawamoto e Tomika Yamakado (primo), filho de Kiyomi e Masao Kawamura, obtidos pelo amigo Claudio Eimori.
Kimura
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil