Conte sua história › Rosa Miyake › Minha história
Eu sou muito comunicativa, nem parece que fui tão tímida na infância e na adolescência! Acho que só consegui ser cantora e apresentadora porque nunca perdi oportunidades e sempre fui muito focada no que eu queria para minha vida. Aprendi com meus pais, que eram rígidos e davam muito valor à educação. Faziam questão que eu e meus irmãos aprendêssemos o português na escola normal, brasileira, mas não poderíamos de forma alguma deixar de lado o japonês e os costumes do Japão. Só me dei conta do valor que isso tinha quando fui pela primeira vez ao Japão gravar um disco e fui convidada para participar de um programa de televisão.
Fui entrevistada em japonês e respondia no mesmo idioma. Pedi desculpas, dizendo que eu era nissei, mas que tinha aprendido japonês em casa, por isso falava um pouco. Mas todos da produção do programa ficaram muito impressionados por eu poder conversar tão bem. Nessa hora, pensei “puxa, minha mãe e meu pai deram tão duro! Eram tão exigentes comigo, mas olha só, valeu a pena. Estou aqui no Japão e me comunico tranquilamente”.
Meus pais e meu irmão mais velho, Tameo, vieram para o Brasil em 1928. Foram os primeiros da família a virem para cá, não tinham nenhum parente aqui. Foram corajosos! Vieram em busca do sonho que se vendia sobre o Brasil no Japão, de que era uma terra maravilhosa, com muitas oportunidades, um lugar onde se podia enriquecer. Meus pais chegaram e foram direto para a cidade de Lins (SP) trabalhar na agricultura, plantando alface.
Eu e meus outros irmãos nascemos aqui no Brasil. Eu me lembro de pouca coisa de quando era pequena, mas me recordo que até certa idade minha mãe não sabia fazer comida brasileira. Então em casa era sempre comida japonesa. Aquela comida caseira gostosa, feita com carinho. Como minha mãe não encontrava todos os ingredientes japoneses necessários, ela adaptava com temperos daqui. Era tão bom!
Ainda criança, viemos para São Paulo, pois meus pais faziam questão que os filhos estudassem. E na roça isso seria mais difícil. Convivíamos com muitos brasileiros e outros tantos imigrantes, especialmente os italianos. Como conversávamos em japonês em casa, às vezes, eu até me confundia na escola e o misturava ao português. A professora ficava meio assim, mas não dizia nada.
Apesar da exigência da minha mãe sobre manter as tradições japonesas, ela sempre se esforçou para se integrar. Ela e meu pai achavam que já que moravam aqui tinham que aprender a falar muito bem o português. Minha mãe sempre procurou fazer amizade com brasileiros, pois para ela era a única forma de aprender a falar o idioma, já que não ia à escola.
A integração entre os imigrantes naquela época era muito boa. Até os italianos aprendiam um pouco de japonês e cantavam as músicas infantis! Era muito divertido. Só a religião era algo à parte. Minha mãe nunca se tornou católica. Muitos imigrantes japoneses já vinham no navio sabendo rezar o Pai Nosso. Mas minha mãe, não. Sempre foi budista.
Depoimento à jornalista Renata Costa
Fotos: Carlos Villalba
Vídeos: Estilingue Filmes
A primeira vez ao cantar em público
Ouça a versão em japonês de "Namoradinha de um amigo meu", de Roberto Carlos
A cantora interpreta uma música japonesa: Iwaizabe
A apresentadora canta em português a música Urashimataro
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil