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Akeo Tanabe

Marília / São Paulo - Brasil
83 anos, engenheiro - aposentado

Minha homenagem a Michiko Tanabe


Em homenagem à minha Mãe
Michiko Tanabe,

Mamãe
Você foi uma grande mulher
Pena que só pude avaliar a dimensão de sua grandeza
Quando você já havia partido.
Você foi a minha Cecília Meireles, em versão japonesa
Quantos escritos, versos, crônicas, poemas você escreveu em sua vida
E só pudemos publicá-los após a sua morte.
Você foi uma mulher à frente do seu tempo
Uma das primeiras feministas a dizer aos homens:
Não somos inferiores a vocês, não existimos só para serví-los.
Quando à mulher era destinada uma existência de segundo plano,
Você estudou, fez faculdade, trabalhou.
Teve a coragem, a ousadia de deixar a vida numa grande metrópole,
E se lançar numa grande aventura
Junto a um outro sonhador como você.
Ele com 22 anos, você com 19,
Casaram e partiram para o outro lado do mundo,
E num distante país chamado Brasil, construíram uma vida,
De muitas lutas e sofrimentos, mas também de muitos sonhos e realizações.
Nunca conheci alguém tão apaixonado por flores e plantas do que você
Você tinha um jardim de inverno que era uma verdadeira poesia.
E lá, no meio de suas avencas, suas flores e samambaias, sua alma se inundava de poesia.
Quanta vezes não a surpreendi conversando com suas violetas: "por que você está triste hoje? Ah, já sei, você está com calor, deixe tirar-lhe algumas folhas para arejá-la
Você cultivava uns crisântemos, que nunca vi mais lindas! Era o seu amor que os tornava tão coloridos e exuberantes. Todo ano vinham até um fotógrafo para tirar fotos dos seus crisântemos amarelos, brancos, bordôs.
Não foi por acaso que o grupo de poesia a que você pertencia se chamava "o Ipê". Com certeza, a escolha do nome foi sua.
Você era "vidrada" em ipês, quaresmeiras, acácias, sua fonte permanente de inspiração.
Você andava sempre com uma caderneta e um lápis na bolsa.
Sempre que alguma coisa tocava a sua sensibilidade, você logo transformava aquela emoção em versos, que registrava em sua caderneta.
Em nossa casa havia um pé raro de "dama da noite", uma estranha flor que só de noite se abria e exalava um perfume muito forte Você fez um "hai-kai" sobre essa flor que fez muito sucesso.
Quase nenhum mariliense sabe, nem reparou que bem no coração de Marília, no jardim do Paço Municipal, existe um cantinho muito especial, o recanto da poesia. Nesse recanto há um pé de ipê amarelo plantado por um príncipe: o príncipe Mikasa, irmão do Imperador do Japão; e junto desse pé de ipê, uma escultura: são versos esculpidos em pedra. Quem os esculpiu foi um poeta-escultor, Sr Hirata, colega de poesia de Mamãe; são versos que falam da saudade da terra natal.
Mamãe, como você amava a poesia! Até no seu leito de hospital, você não deixou de escrever os seus "hai-kais". Não sei de onde você conseguia extrair inspiração naquele ambiente de sofrimento e dor.
Um dia antes de falecer, você ditou a Papai (porque não tinha mais força para escrever), uma comovente carta-testamento aonde fala do seu amor pelo marido, pelos filhos e netos. Suas palavras finais foram para os seus familiares do Japão: "meus entes queridos do meu distante Japão, adeus; vou me transformar num pedaço de terra brasileira". Aos seus netinhos escreveu: “quando contemplarem no céu uma estrela bem brilhante, lembrem-se de mim; de lá estarei olhando por vocês”.
Mamãe, não sei como você conseguiu a proeza de durante 50 anos escrever, diariamente, no seu diário; nele está registrada toda a sua vida e a de sua família; a vida de uma mulher excepcional, de uma sensibilidade e cultura extraordinária.
Mamãe, você foi quem me ensinou os origamis que tanto amo e que se tornaram e minha distração preferida de aposentada.
Foi você quem me ensinou a dedilhar no meu pianinho de criança a canção de ninar de Brahms.
Mamãe, você me ensinou tanta coisa! Mas, mais que tudo, agradeço a você por ter me ensinado a enxergar a beleza e a poesia que existe no mundo.
E. nesse momento difícil que estou vivendo, de muita amargura e tristeza, como preciso de você, Mamãe! Da sua presença, do seu carinho e principalmente da sua poesia para não sucumbir ao desencanto e à descrença na humanidade.

Texto da filha Tamie Tanabe Saizaki


Enviada em: 10/07/2008 | Última modificação: 10/07/2008
 
A saga do casal Michiko e Keizo Tanabe »

 

Comentários

  1. Flávia Rita R. Q. Tanabe @ 10 Jul, 2008 : 15:30
    Infelizmente quando eu entrei para a família Tanabe não pude conhecer "Michiko e Keizo Tanabe", que já tinham se tornado estrelas na imensidão do universo. Porém, pelos relatos da Tia Tamie, pude perceber o quão forte era esse casal, que se lançou em busca do novo, sem titubear, corajosamente. Meus sinceros agradecimentos à Tia Tamie que, com a grandeza das palavras, pode nos passar a história de vida de seus pais. Uma homenagem como essas não sairá nunca de nossos corações. Flávia.

  2. Danshiro Hirata @ 22 Jul, 2008 : 11:36
    Akeo,Parabens por esta justa homenagem a seus pais e por compartilhar conosco a historia de um grande empreendedor e baluarte da comunidade japonesa no Brasil. Tive o privilegio de conhecer seus pais na decada de 60. A Casa Central era uma loja muito conhecida na cidade de Marilia e ali faziamos as compras de material escolar. Eu via o senhor Tanabe como proprietario da loja, uma pessoa simples, calmo e obviamente muito estimado dentro da comunidade. Na epoca eu nao tinha sequer ideia da grandiosidade das obras que ele entao ja havia realizado. Um homem se conhece nao so por suas obras como tambem pelas marcas que deixou em outros individuos atraves de seus atos e palavras. Tamie-san descreveu com muita propriedade a vida e as extraordinarias realizacoes de seus pais em prol da comunidade. Na sua modestia porem ela deixou de registrar o fato de que o casal Tanabe deixou descendentes tambem de igual naipe. Quando eu os conheci, seus filhos ja eram estudantes universitarios e doutores, jovens bem sucedidos e paradigmas na comunidade. A exemplo de seus pais, os filhos procuravam incentivar os mais jovens com conselhos construtivos e ajuda-los na sua educacao e formacao. Muitas vezes gestos singelos mas concretos, como emprestar livros para aqueles que nao podiam comprar, fizeram diferencas tremenda nos resultados academicos. Sou testemunho vivo de tudo isso pois fui um dos que se beneficiaram dessa atitude despretenciosa da familia Tanabe e muito devo ao apoio que recebi particularmente da Maria-san, da dona Isabel e da professora Tamie. Akeo, como primeiro mariliense nikkey a entrar e se formar no conceituado ITA, serviu de modelo e inspiracao para muitos que sonhavam com uma carreira na engenharia. Por tudo isso hoje nos sentimos orgulhosos e agradecidos por ter tido dentro da nossa comunidade individuos do calibre do comendador Keizo e sua esposa Michiko Tanabe. Um grande abraco.

  3. FATIMA KANJI @ 18 Set, 2008 : 21:30
    ESTOU BUSCANDO O CONTACTO DA MIRIAM TANABE ELÁ TERÁ ALGUM LAÇO DE FAMILIARIDADE COMVOSCO? ELA USA AGORA O SOBRENOME FERREIRA DO CASAMENTO OBRIGADA FÁTIMA KANJI-MOÇAMBIQUE-ÁFRICA

  4. M. Masako Y. Tanabe @ 24 Jun, 2009 : 12:48
    Muito memorável a historia de vida de seus pais, me impressionou, pois no decorrer da leitura lembrei com saudade do meu sogro. Chamava-se Tsutae Tanabe(falecido) único filho homem de Denjiro Tanabe(fabricante de saquê em Yamanashi). Casado com Tsuruyo Hashizume(falecida)também de Yamanashi. Veio ao Brasil por volta de 1935. Morou em Sertaozinho, em Morro Agudo próximo a Ribeirão Preto, Apucarana Pr. e por último em S. Paulo. Tiveram 9 flhos todos jogaram beisebol, Kazuo, Kazuhiro, Shoso, Katsumi,Tizuko, Teruo(meu marido)Getúlio Kimio, George e Yukio. Meu sogro era apaixonado por este esporte. Será que as famílias não provem da mesma árvore genealógica?

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