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Oi,
Eu sou a MESA, a MESA MISUMI.
Já estou velha! Nasci em .... Talvez 1929..., 1930... ou 1931. Não me lembro direito quando nasci.
Nasci pelas mãos do Sr. Nakamura que morava em Araçatuba-SP, na mesma colônia rural chamada Cafezópolis, onde residia a família MISUMI. Fui morar com esta família. Era o Sr. Tadao Misumi, chefe de família, Haru Misumi e seus filhos Iku, Tadahide, Tatsuo, Fussae, Noboru, Tokiko e Daishiro que viria a nascer em 1930. A caçula da família, Katsuko nasceu anos mais tarde, em 1938.
Na família MISUMI tive momentos alegres, felizes, mas também de muita tristeza, muito sofrimento.
A Iku casou-se com o Sr. Umeichi Shimaoka em abril de 1932, e foi morar em Pereira Barreto. Houve alguns anos que o Tadahide foi morar em São Paulo, mas logo retornou.
Fiquei feliz quando o Tadahide casou-se com a Matsuyo da família Amano, que morava além-córrego. O casamento foi um acontecimento muito comemorado. Era foguetório de um lado do córrego anunciando a despedida da noiva de sua família, e transmitindo a mensagem para o pessoal do outro lado do córrego de que estava a caminho da família Misumi. O casamento do primogênito da família Misumi foi comemorado com muita pinga. Foi uma festa de arromba para aqueles japoneses sofridos. Muitos se esbaldaram tanto que foram encontrados no amanhecer do dia seguinte, dormindo no meio do pasto e do cafezal. Era o dia 15 de agosto de 1939. No dia 31 do mesmo mês a Fussae casou-se com o Tadashi Sawada.
A grande tristeza aconteceu em 1940. Logo após a morte da Iku em fevereiro, deixando viúvo o Sr. Shimaoka e três crianças pequenas - Yoshiko, Shiroshi e Eiko, faleceu a mamãe Haru em junho de 1940. Coitadas. Sofreram tanto nesta terra tão distante do Japão e desconhecida que é o Brasil.
E quando aconteceu a II Grande Guerra Mundial?! Foi uma tristeza enorme. O Japão de um lado e o Brasil de outro. Os japoneses no Brasil sofreram muito. Quanta perseguição! Quanta humilhação! Era um sofrer cotidiano. Mesmo depois que acabou a guerra. Era japonês perseguindo japonês. Por causa da comunicação precária, alguns japoneses acreditavam que o Japão tinha vencido a guerra e perseguiam aqueles que achavam que o Japão tinha perdido a guerra. Nem gosto de lembrar dessa época.
Foi muito triste também quando o Sr. Tadao faleceu. Foi em setembro de 1944. Ele era o líder da região. Foi Presidente do Kaikan de Cafezópolis por muitos anos, e Vice-Presidente da Noroeste Rengo Kai (Confederação das Associações Japonesas da Noroeste) trabalhando muito pela colônia japonesa.
O casal Tadahide e Matsuyo assumiu a incumbência de cuidar da família Misumi. Aos poucos outros irmãos foram se casando. Vi muita mudança. O Tatsuo casou-se com a Fumico Nishioka em dezembro de 1948, a Tokiko com o Chuichi Sakaya em junho de 1946, e o Noboru com a Hideko Hatanaka em janeiro de 1951. O Daishiro viria a casar anos mais tarde com a Júlia Yamada (janeiro de 1969) .
Moramos em Araçatuba até 1950. Mudamos para Andradina, onde vivemos até 1960. Era a família Tadahide e Matsuyo que crescia. Passei a ter a companhia não somente da Katsuko que permaneceu na família, mas também dos filhos do casal, Hideko, Teruko, Takeshi, Kiyoshi, Jorge, Yoshiaki e Akemi. A filha Nobuko tinha falecido em Araçatuba aos 5 anos de idade.
Foi em Andradina que encolhi de tamanho. Além de cortarem o meu tampo, trocaram as minhas pernas. Diminui quase um metro; fiquei diferente. Fiquei triste também, mas era o meu destino. Era necessário.
A grande guinada aconteceu em 1960, quando a família se mudou para São Paulo. Fomos morar na Vila Madalena. Lá fiquei com a família do casal Tadahide e Matsuyo até 1979. Nesse período a família foi diminuindo. A Katsuko casou com o Paulo Yamashita e foram para Jales. A Hideko casou-se com o Arthur Matsumoto. O Takeshi com a Norika Sato. Mudamos então para o bairro do Butantã. Depois o Jorge casou com a Luci Ohara, e o Yoshiaki com a Toshimi Shimbo.
Hoje vivo aqui na Chácara dos Misumi. Espero continuar para sempre aqui junto com o “itchoo” (ginkgo biloba) que nasceu em 1980 pelas mãos da mamãe Matsuyo e foi replantado aqui na chácara em 20 de agosto de 2000.
Foram tantos anos vividos que a minha memória não se lembra de muitas coisas que vi. Fui usada para muitas utilidades. Mais do que mil e uma utilidades. Em cima de mim teve época de muita comida. Época de pouquíssima comida. Que tristeza! Fui usada também para os estudos, para corte e costura - vejam as marcas que ficaram. Até como proteção contra tempestades! Quando as telhas da casa começavam a cair, as pessoas ficavam embaixo do meu tampo. Ouvi muitas discussões, muito choro, muito riso.
Se você se lembra de algumas histórias, ajude-me a contá-las para quem quiser saber.
Quero continuar junto com o “itchoo” para representar a longevidade da família Misumi. Quero que os descendentes nunca se esqueçam do sofrimento, da luta, das tristezas, das dores, das alegrias que os precursores tiveram que passar para que a família Misumi pudesse progredir tanto.
Eu vi tudo isso!
1º de maio de 2002
Assinado: A MESA
P.S. Desde que escrevi este relato, vários acontecimentos marcaram a vida dos Misumi. Fatos alegres e tristes que em breve pretendo contar a vocês.
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil