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  Conte sua históriaTakeshi Misumi › Minha história

Takeshi Misumi

São Paulo / SP - Brasil
78 anos, Administrador de Empresas e Contador

HOMENAGEM AOS IDOSOS


“NÃO RESISTI! AS LÁGRIMAS JÁ ESCORRIAM PELO MEU ROSTO. LEVEI MINHA MÃO DIREITA, TAPANDO MINHA BOCA. COMECEI A CHORAR COPIOSAMENTE. UM SENHOR VEIO CORRENDO JUNTO A MINHA CADEIRA DE RODAS. AGACHOU-SE AO MEU LADO. AMAVELMENTE PERGUNTOU O QUE ESTAVA ACONTECENDO. DISSE-LHE QUE DURANTE TRINTA E CINCO ANOS CANTEI EM CORAL. NAQUELE MOMENTO ESTAVA REVIVENDO MEU PASSADO DE GLÓRIAS. NÃO CONSEGUIA PARAR DE CHORAR; MEU CORAÇÃO ARFAVA. DE ALEGRIA, DE EMOÇÃO, DE TRISTEZA, DE TUDO!
GENTILMENTE O SENHOR EMPURROU MINHA CADEIRA DE RODAS ATÉ PERTO DO PESSOAL QUE CANTAVA. COLOCOU-ME DIANTE DAQUELAS SENHORAS, HOMENS E JOVENS DO CORAL. CANTAVAM MELODIOSAMENTE AS MÚSICAS QUE DURANTE MUITOS ANOS CANTEI. AKA TOMBO, NANATSU NO KO, RIU SHU E TANTAS OUTRAS. E, EU SOLFEJANDO TODAS AS MÚSICAS NITIDAMENTE GUARDADAS EM MINHA MEMÓRIA. PARECIA QUE ESTAVA REGENDO AQUELE MARAVILHOSO GRUPO DE CANTORES DO AMOR, ACOMPANHADO PELOS SONS MELODIOSOS DO VIOLÃO DEDILHADO POR AQUELE GAIJIN-SAN. SIM, AQUELE GAIJIN-SAN, METADE DO ROSTO COBERTO PELA BARBA QUE, NO ANO PASSADO LEVEI ATÉ MEU QUARTO E LHE MOSTREI O MEU VELHO KOTOO QUE NÃO CONSIGO MAIS TOCAR. CONVERSAMOS. NÃO EM JAPONÊS QUE, ELE NÃO ENTENDE, NEM EM PORTUGUÊS QUE EU POUCO ENTENDO. CONVERSAMOS ATRAVÉS DA ALEGRIA NOS OLHOS, DO SORRISO NA BOCA. QUÃO AMÁVEL AQUELE GAIJIN-SAN!
TERMINARAM DE CANTAR. DESPEDEM-SE DE NÓS, INTERNOS DO IKOI NO SONO. LENTAMENTE VÃO SAINDO DO SALÃO ONDE SE APRESENTARAM. PARECE QUE NÃO QUEREM IR EMBORA. QUE QUEREM FICAR CONOSCO. MAS, TÊM QUE IR. DEIXAM CONOSCO UM POUCO DA ALEGRIA, DO AMOR, DA SOLIDARIEDADE. LEVAM COM ELES UM POUCO DA NOSSA SOLIDÃO, DA NOSSA DOR, DA NOSSA TRISTEZA.
POR FAVOR, FALCÕES PEREGRINOS DO AMOR, VOLTEM NOVAMENTE! ESTAREMOS ESPERANDO ANSIOSAMENTE. PARA VER O MOTITSUKI DA AMIZADE E OUVIR O CORAL DO AMOR.”

Comecei a idealizar o texto acima na volta da visita que fizemos ao Ikoi no Sono em 28 de setembro de 2003. Estávamos em dois ônibus fretados. Eram crianças e jovens escoteiros, senhoras, senhores e jovens integrantes do Coral, pais e mães dos escoteiros do Grupo Escoteiro Falcão Peregrino, pessoal do Seicho no Ie de Vila Sônia. Um grupo de pessoas bastante heterogêneo. Mas, uníssono no objetivo que nos levou até aquele longinquo local onde se encontra cerca de uma centena de internos do Ikoi no Sono. O objetivo era levar um pouco de solidariedade, de amor, de alegria para os di-tians e ba-tians (pessoas idosas), através do motitsuki (batida de moti = bolinho de arroz) e do coral.
Todos estavam exaustos pelo dia cansativo. Mas, satisfeitos e com a alma elevada pelo sucesso de nossa empreitada. Sentado na poltrona do ônibus, vendo a paisagem correr pela janela, pensava em como descrever aquelas cenas que tínhamos presenciado. Eram cenas marcantes, fortes, repletas de emoção. Ao sair do salão onde se encontravam os cadeirantes, todos foram tomados de forte emoção; muitos não contiveram as lágrimas; o choro era inevitável. Pensava comigo. Se fosse um pintor, tentaria retratar em tela aquelas cenas emocionantes. Ideal seria que houvesse alguma máquina, algum equipamento eletrônico capaz de captar de minha memória toda sequência das cenas ainda nítidamente gravadas na minha mente, e reproduzi-las em algum filme.
Tentei através das palavras descrever o que poderia estar passando na mente daquela senhora. Seria a visão de alguem presa a cadeira de rodas, rememorando o passado. O passado repleto de sacrifícios e sucessos, de tristezas e alegrias. O passado que volta ao ver as crianças e os jovens dando o abraço caloroso e fraterno. Que volta ao se encontrar com as jovens senhoras e senhores cantando a plenos pulmões as músicas que lhe eram familiares. Sadao Tamari é o gentil senhor que coordena essas atividades anuais de visita ao Ikoi no Sono. A sensibilidade do meu amigo Sadao percebeu no meio de dezenas de cadeirantes, a presença daquela senhora. Clovis Moreno, escultor e professor de música, é o “gaijin-san” que cativou aquela senhora, não somente através da sua admiração pela cultura japonesa, mas principalmente pela alma caridosa e respeitosa para com os mais experientes.
Neste mês em que a Imigração Japonesa completa cento e um anos, não poderia deixar de prestar minha homenagem aos di-tians e ba-tians que tanto sacrifício tiveram, que heroicamente superaram adversidades de várias espécies. Muitos deixaram sua pátria e foram forçados pelas circunstâncias da época a conviver com uma realidade bem distinta. Não bastasse isso, tiveram que sofrer as agruras de uma guerra mundial que colocou a terra natal (Japão) contra a terra que os acolheu (Brasil). Todos tem muita história para nos contar.Todos tem muito a nos ensinar. Esses heróis estão nos deixando. Estão levando essa grandiosa experiência. Será que apreendemos o suficiente com eles?


Enviada em: 17/06/2009 | Última modificação: 17/06/2009
 
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Comentários

  1. Cristiane Y Nakata (ex-escoteira falcão) @ 17 Jul, 2008 : 20:00
    Oi Takeshi! É a Cristiane... lembra de mim? Admiro a educação que dá para sua família... Abraços! Cris.

  2. Denise Misumi @ 30 Jul, 2008 : 00:42
    Tio, muito lindas as suas histórias! Nao consegui conter as lágrimas lendo "Conversando através do coração". Ainda me emociono relendo-a. Já pensou em fazer um livro contando essas e mais histórias?? Abraços, Denise

  3. Takeshi Misumi @ 3 Ago, 2008 : 18:08
    Denise, obrigadão pelos comentários. Fiquei muito satisfeito e feliz em saber que você se sensibilizou com os meus relatos. Aliás, o meu propósito em me expor neste espaço aberto pela Editora Abril foi tão-somente de tentar sensibilizar os descendentes, principalmente os jovens como você, sobre o sofrimento que os imigrantes passaram. Muito do que nós usufruimos hoje foi graças a eles. Todo o passado vivido e sofrido por eles não pode cair no esquecimento. Cumpre a cada um de nós desempenhar o papel que nos cabe. Quem, no presente, souber reconhecer o passado, saberá construir um futuro melhor. Quanto ao livro, até pensei no assunto. Mas, é um projeto muito grandioso para mim. Não sei se teria condições de realizar este sonho. Acredito que essa tarefa seria mais fácil, se for possível contar com a ajuda de outras pessoas. Abração.

  4. Julio Misumi @ 11 Set, 2008 : 19:11
    Oi Takeshi. Li o relato da mesa, em cima dela na chacara. Ao ler aqui, me emociona saber que ela passou por muitos momentos com a familia, bem antes de nascermos. Quantas conversas e refeições foram feitas nela, por nossos avós e seus filhos (nosso pais)? Quanta utilidade para varias gerações? Ela faz parte da familia e suas cicatrizes foram feitas por alguém da familia em algum momento. Representa bem o passado sofrido e a determinação que nossos antepassados tiveram, para que as futuras gerações (nós e nossos filhos) pudessemos ter uma vida melhor que eles. Obrigado pelo que voce faz pela familia e no que eu puder ajudar, conte comigo. Um abraço

  5. Filhos da Satiko @ 14 Dez, 2008 : 23:47
    Oi Tio, Que legal...Sim, ela tinha olhos grandes e um sorriso radiante, característica marcante dela...Ela era linda e foi uma mãe perfeita pra nós. Agradecemos a mensagem e tudo que vc e a tia fizeram por ela e por nós. Um beijão. Duda, Thie, Fabio e Livia

  6. mario katsuhiko kimura @ 14 Fev, 2009 : 15:48
    Sr. Takeshi, Sou leitor das historias contadas neste Site e agora sou também seu fã. O Sr. deveria ser contador de historia e não contador/administrador. A sua maneira de escrever, contar historia da família através da historia da mesa é de altíssima criatividade, mostrando ser uma pessoa erudita, sábia e inteligente. Acredito ter herdado os valores do seu falecido avô. Como disse um dos entes da família no comentário, o senhor deveria escrever livros. Parabéns e continue a escrever para todos nós. Grande abraço

  7. Julio Misumi @ 31 Mar, 2009 : 13:10
    Oi Takeshi. Eu acho que fui ao casamento da Tia Katsuko e poucas vezes a vi depois disso. Me lembro que durante muitos tempo meus foram iam a Jales visita-la. E tenho certeza que ela desafiou e venceu a morte por dezessete anos, pois meus pais diziam que ela os reconhecia a cada visita. Obrigado sempre e um abraço.

  8. Silvio Sano @ 1 Abr, 2009 : 02:38
    Prezado Takeshi, Depois de muito tempo sem abrir este site para ler as histórias dos colegas, "hisashiburini", fi-lo, tarde da noite de ontem, atraído por um leitor seu fora da família (o Mário Kimura, aí, logo acima). Daí, comecei pela leitura da Tia Katsuko. Contente pelo que fui contemplado, prossegui com as demais, debaixo para cima, porque sabia que a seqüência seria essa. A forma como as narra é muito interessante porque torna universais mesmo os seus mais íntimos personagens. Daí porque "tocou" ao Mário, a mim e, com certeza, a todos os que as lerem (não apenas parentes ou pessoas de seu círculo). Em alguns momentos também me emocionei e, por isso achei que não seria o momento adequado para deixar aqui o meu comentário. Conclui que seria injusto com vc, e que deveria fazê-lo sem que me deixasse levar pela emoção. Algo verdadeiramente sincero. Ou seja, para que o tamanho da satisfação que eu demonstrasse não fosse considerada exagerada devido a isso. Assim, aguardando, até este momento, de "cabeça fria", mas garantindo que a emoção pela leitura ainda permanece viva em mim, cumprimento-o principalmente pela sensibilidade e percepção em relação a outrem, que o levaram também a "conversar através do coração", e de forma a "tocar o fundo da alma" de seus leitores. Parabéns e um grande abraço.

  9. Silvio Sano @ 7 Abr, 2009 : 00:37
    Prezado Takeshi, O jeito que vc exagerou nos elogios, na verdade, só veio comprovar para mim, o quão criativo é para escrever textos (rsrs). Mas, agradeço pela parte não exagerada, que sei, foi sincera. E não apenas o parabenizo por suas virtudes, como, pela citação ao Mário Tomita, acabei ligando para ele, a fim de saber um pouco mais sobre a sua pessoa, mas sugerindo-lhe também para que publique algumas coisas suas no jornal. Ele concordou afirmando que, sendo pra vc, um dos primeiros assinantes dele, o faria com imenso prazer. Que tal atendê-lo então com um artigo, ou uma crônica, esporadicamente... pra começar? Não apenas ele, mas, nós também, leitores, ficaremos muito felizes. Yoroshikune. Abs.

  10. Edson Correa Porto @ 9 Abr, 2009 : 00:36
    E eu que pensei que vc só escrevesse relatórios; parabéns pela sensibilidade; vc sempre surpreendendo. Abraço

  11. Mario Katsuhiko Kimura @ 17 Jun, 2009 : 23:43
    Sr. Takeshi, Só o senhor consegue prestar homenagem aos idosos na forma acima transcrita. Isso mostra a sua grandeza, de ser uma pessoa culta, iluminada. Obrigado por proporcionar a este leitor o prazer de ler, sentir e também emocionar. Grande abraço

  12. Takeshi Misumi @ 16 Mar, 2010 : 07:51
    Teste

  13. Silvio Sano @ 16 Mar, 2010 : 09:34
    Olá, Takeshi-san. Bondade sua. Eu é que fiquei muito feliz com a sua presença e, bem como com a de sua esposa. E ainda bem que o Mário estava lá, né. Bom, aproveito para te solicitar para que veja como será o próximo livro. Link em http://www.youtube.com/watch?v=OfULKT3Beqk A propósito, conhece o Nikkeypedia? Lá vc tb poderá colocar a sua, de seus pais, avós e amigos, histórias. A minha está em http://www.nikkeypedia.org.br/index.php/Silvio_Sano

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