Conte sua história › José Carlos Inada (Tim) › Minha história
Nasci numa cidade do interior do estado de São Paulo, Tupã, distante aproximadamente 520 km. da capital, no dia 15 de junho de 1945, porém, não sei por que cargas d’água fui registrado em 02 de junho de 1946. Naqueles tempos, isso era comum. Talvez por ignorância dos meus pais que eram imigrantes japoneses e tinham a pretensão de voltar, algum dia, à terra natal.
Era uma época difícil para os imigrantes japoneses, italianos e alemães devido à 2ª Guerra Mundial. Em Tupã, esses imigrantes eram proibidos de falarem os idiomas deles, e como mal falavam a língua portuguesa ficavam calados diante dos brasileiros, senão acabariam na cadeia.
A repressão era tão grande que minha mãe para se locomover de Tupã para Marília, cidade onde moravam os pais dela, (meus avós), existia um documento chamado Salvo Conduto necessário para essa locomoção. Preenchia-se todos os dados tais como: data da viagem, destino, data e horário de retorno e era assinado por um delegado de polícia.
Não era permitido a eles a posse de rádios ou quaisquer tipos de aparelhos que transmitissem notícias oriundas do Japão.
Meu nome, José Carlos, foi dado pelo escrivão porque não se permitia nomes japoneses. O nome que meus pais tinham escolhido, Hiromi, o qual sou tratado pelos meus parentes.
Meus pais eram colonos e cultivavam o algodão numa fazenda no distrito de Universo. Diziam que eram tempos difíceis aqueles e para fugir da repressão mudamos para a Capital, onde, em sociedade com um senhor, também japonês, abriram uma lavanderia no bairro do Tucuruvi, na Rua Claudino Inácio Joaquim, 01.
Minha Infância
Sou o filho homem mais velho de uma família de cinco irmãos, quatro homens e uma mulher. Minha irmã, Iolanda (1943), era mais velha que eu dois anos, faleceu em 1997. Meus irmãos todos nascidos no Tucuruvi são: Paulo Minoru (1950), Cláudio Osamu (1952) e Luiz Mitsuru (1953).
Aos cinco anos de idade eu e minha irmã fomos matriculados no Educandário São Paulo da Cruz, um colégio das Irmãs Passionistas. Ela no 1º ano e eu no Jardim da Infância.
Lembro-me que tínhamos dificuldades de conversar com os professores e os colegas devido ao desconhecimento da língua, pois, dentro de casa, só se falava o idioma japonês e devido à repressão, meus pais não permitiam que tivéssemos relacionamentos com os brasileiros (Gaijins). Não entendia o porquê daquilo. Confesso que sofremos muito com aquilo.
Tínhamos um vizinho que morava na casa em frente, cujo apelido era Nenê, único amiguinho que eu tinha quando criança. Os pais dele eram o “seu” Laurindo -fiscal da CMTC, e a dona Irene. Tinha dois irmãos mais velhos: o Antonio e a Inês. O Antonio era um Sampaulino fanático, que graças a Deus, teve grande influência para que meu coração se tornasse também Tricolor.
Nessa época brincávamos com os carrinhos de rolemã, espeto, bolinhas de gude, pião, futebol, empinar pipas, etc. Nas festas juninas confeccionávamos “lanternas” (eram feitas com latas vazias de óleo de cozinha) nas quais queimávamos gravetos e por meio de um suporte de arame rodávamos ao longo do braço para que se formasse um círculo de fogo. Era muito legal!!!
No dia 03 de abril de 1954, mudamos para a Av. Mazzei, 1113 no mesmo bairro. Era uma casa assobradada, com um quintal muito grande, onde plantávamos milho e mandioca. Na divisa com o terreno dos fundos, havia algumas bananeiras que a cada cacho que apanhávamos, era cortado o pé. Juro que até hoje não entendo o porquê daquilo, também não interessa.
Depois de ter concluído o curso primário, meu pai, matriculou-me numa escola japonesa da Associação Cultural e Esportiva do Tucuruvi. Nessa escola, além do idioma japonês, praticávamos também, o judô. Sou graduado faixa preta 2º Dan.
Meu Apelido
Meu irmão Minoru, assim que começou a falar, não conseguia me chamar de Nii-tchan, que quer dizer mano mais velho e sim de Tim-tchan. Daí o apelido e eu gosto muito dele.
Minha Adolescência
Nessa época, quando tinha aproximadamente 15 anos, levávamos uma vida muito difícil, na qual tínhamos que ajudar meu pai na lavanderia.
Às 2ªs feiras, era recolhida as roupas da freguesia em todos os bairros próximos do Tucuruvi. Na época, íamos a pé de casa em casa, onde andávamos mais ou menos uns 10 quilômetros; às 3ªs era dia de lavar as roupas recolhidas; às 4ªs e 5ªs as roupas eram passadas a ferro e nas 6ªs e sábados as roupas eram entregues nos domicílios.
Ansiava pela chegada dos domingos, porque era dia de feira; e minha mãe me convocava para ir junto com ela. Gostava de ir porque a gente comprava esfirras (Na época eram novidades) e eu me esbaldava. Lógico, levava também para meus irmãos.
O judô fez parte da minha vida por muitos anos. Fiz muitos amigos durante essa época. Quando tinha mais ou menos 17 anos, conheci o Norio. Era um menino de 14 anos, porém, aparentava aproximadamente 18 anos. No judô, ele era forte e era faixa marrom, isto é, anterior à faixa preta graduação máxima antes dos “Dans”.
Íamos aos bailinhos promovidos pela associações Nikkeis, ou seja, associações formadas pela colônia japonesa (kaikans) espalhadas por quase todos os bairros de São Paulo. Não perdíamos nenhum final de semana.Divertíamos-nos muito. Arranjamos muitas namoradas. Éramos terríveis.
Nessa época, todos meus amigos estudavam. Uns faziam o ginasial outros o colegial. Eu não estudava. Então, me matriculei num curso de Admissão ao ginásio e com muita dificuldade consegui entrar no Ginásio Estadual de Vila Mazzei, onde me formei em 1968.
Em 1965, fui convocado para servir o Exército. Fiz o serviço militar no período de maio de 65 a março de 66 num quartel em Quitaúna, no município de Osasco no 2º Grupo de Canhões 90 mm. Anti-Aéreo (2º GCan90AAe), saí como reservista de 1ª categoria.
Em abril de 1968, conheci a Cecília, durante a festividade do “Undo-Kai”, na qual se comemora o aniversário do Imperador japonês, Hiroito. Era uma menina bonita que foge aos padrões das japonesas. Apaixonei-me por ela. Namoramos por mais ou menos nove meses. Foi difícil esquecê-la. O tempo, é o melhor remédio para curar as feridas do coração.
Depois do ginásio, em 1969, entrei na Federal de São Paulo, onde me formei como técnico em Eletrotécnica em 1971, para daí, realmente, começar a minha vida profissional. Devo muito a meus pais e irmãos pela oportunidade que me deram de apenas estudar. Durante esse período, fui sustentado por eles. Durante o curso, dei algumas aulas de judô na academia do grande mestre Prof. Massayoshi Kawakami no período matutino.
Meus filhos
As duas grandes emoções que vivi, sem dúvida nenhuma, foram os dias de nascimento dos meus dois filhos: Midori e Koiti, os quais eu tenho muito orgulho.
A Midori nasceu em 16/04/76, numa sexta feira santa. Na época, não se fazia ultra-som para saber do sexo da criança, e Deus me agraciou com um lindo presente: uma menina.
O Koiti nasceu em 04/05/77. Como já tinha uma menina, estava torcendo que viesse um menino: e pela segunda vez, fui agraciado por Deus!
Não sei demonstrar minhas emoções perto dos meus filhos, porém quero deixar registrado aqui o carinho e o amor que sinto pelos dois! Obrigado por vocês existirem!
Meu neto
Em um dia de agosto ou setembro de 2006, não me lembro bem a data, minha filha namorava o Lincoln, um rapaz também descendente de japoneses, vieram à minha casa nos visitar. Percebi no semblante deles, um ar de preocupação, porém, não comentei nada. De repente, a Midori anunciou: “Pai, você vai ser avô!”. No primeiro momento, juro que não entendi nada, aí ela repetiu: “Estou grávida, você vai ser avô!”. Acho que ela esperava uma reação negativa da minha parte, pensando que eu não aceitaria e a repreendesse ou qualquer coisa assim. Posso dizer que realmente, fiquei surpreso, porém, FELICÍSSIMO com a notícia. Dei-lhes os parabéns e brindamos à “Boa notícia”!
A partir daí, lembro do corre-corre deles providenciando os preparativos do casamento. Casaram-se em novembro de 2006. Ela teve uma gravidez tranqüila. Esperava-se o nascimento através de parto normal, mas não foi possível e através de uma cesariana nasceu o FELIPE KENZO ONOE em 01/05/2007.
Hoje, o Felipe está com 9 anos e cinco meses, é uma criança sadia, alegre, simpática, puxou o avô, com certeza será mais feliz se for torcedor do Tricolor do Morumbi!!! Infelizmente, o pai é corinthiano.
Minhas netas
No final do ano passado, o Koiti, meu filho e a Paula, minha nora, me deram uma grande noticia, estão grávidos! Imaginem minha alegria. A minha ansiedade e muito grande. Deverá chegar no começo de agosto.
Vai se chamar Rafaela Aya! Que venha com muita saúde, você vai alegrar ainda mais nossa família e o Dada Tim!
Nasceu em 25/07/2014. É uma menina muito simpática, linda, sapeca...
Um dia, fui ao salão dos meus filhos e minha filha Midori me chamou pra conversar em particular na rua. Vi seus olhos lacrimejando. Perguntei, " o que aconteceu?". "Pai, estou grávida!" Dei lhe um abraço carinhoso e choramos...
Nasceu a Lis Naomi em 15/11/2016, linda, esperta...
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil