Conte sua história › Luiz Fukushiro › Minha história
Como bom japonês falsificado, eu tardiamente resolvi aprender a língua dos meus avós, que já haviam falecido quando eu ainda nem o português falava. Por isso eu não sabia nem mesmo aquele conhecido “japonês de batchan”, que incluem expressões como “abunai”, ”baka” e ”urusai”, já que não houve o convívio. Meu pai, nissei, entendia o japonês, mas nunca o ensinou aos filhos, não por má vontade, mas porque a casa era uma mistura nipo-italiana – e ele respeitava isso. Portanto, o interesse tinha que ser individual.
Após encerrar o obrigatório inglês, eu resolvi partir para uma nova língua. Sempre me atraíram as línguas que utilizam alfabetos que não o nosso romano. Aí meu sobrenome pesou na escolha: me matriculei na escola de japonês da Associação Cultura Nipo-Brasileira de Bauru.
Diferentemente da escola de inglês, o nihongakkou proporciona muito mais atividades. Mal lembro dos meus colegas anglófonos, mas do pessoal do gakkou muitos ainda são amigos próximos. Isso porque haviam festas, festivais, encontros. E todo mundo queria ir.
Na minha turma, eu era o mais velhos, pois no geral os descendentes começam cedo. Mas nos níveis mais avançados tinha gente da minha idade na época. Formou-se uma turma.
E mesmo com nossos dezesseis, dezessete – e até mesmo vinte e poucos – anos, íamos aos encontros regionais da escolas de japonês, os famosos rinkangaku. Juntavam várias escolas das cidade da Alta Paulista, como Araçatuba, Birigüi, Lins, Pereira Barreto e Bauru. Era uma infância japonesa que eu nunca tive: tinha gincana, teatro, concurso de oratória, todo mundo cozinhando. Era uma beleza.
Até os dezoito eu estive lá, cantando "Haru ga Kita", ou fazendo o Lobo Mau em uma Chapeuzinho Vermelho versão nipônica (que era "Akatzukinchan"). Além de aprender o japonês (que rendeu um 4-kyuu no Nouryoku Shiken), foi uma introdução à cultura japonesa. Daquela, que se fala "urusai", sacaneia o amigo chamando-o de "baka", come churrasco guardado no isopor com oniguiri e pepino fatiado.
As opiniões emitidas nesta página são de responsabilidade do participante e não refletem necessariamente a opinião da Editora Abril
Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil