Conte sua história › Décio Issamu Nakagawa › Minha história
Eu, Décio Issamu Nakagawa nasci em 13 de janeiro de 1951, em Tupã, interior do Estado de São Paulo. Meu pai, Mitsunori Nakagawa, o primogênito de nove filhos de Mitsuji Nakagawa e Tome Nakagawa, nasceu na província de Kumamoto, situada ao sul do Japão - região rica em história de bravos guerreiros. Meu avô paterno manteve em toda a sua vida o rigor da disciplina na educação de seus filhos. Meu pai tinha 9 anos quando, em 1931, veio para o Brasil. A família se estabeleceu na zona rural e , posteriormente, abriu um restaurante no centro da cidade de Tupã.
Minha mãe, Yuki Nakagawa, nasceu na província de Fukushima, situada no nordeste do Japão. Era a quarta, de onze filhos, de Sanosuke Ono e Matsue Ono. Ela tinha 2 anos, quando, em 1934, a família decidiu imigrar para o Brasil. Encontraram na região noroeste do Estado de São Paulo seu lugar e vocação para a agricultura.
Durante minha infância morei na cidade de Adamantina, interior de São Paulo, às margens da estrada de ferro. Em 1960 meus pais migraram para São Paulo. Chegamos com as malas de roupa e o coração repleto de esperança. Meu pai começou a trabalhar no Mercado Municipal de São Paulo e depois acompanhou a transferência do comércio local para o CEAGESP. O tino comercial de meu pai se aflorou, permitindo que se tornasse proprietário de seu negócio naquele entreposto comercial.
O fascínio que a cidade de São Paulo me provocou na meninice é uma sensação que nunca se apagou. A cidade da garoa, seus arranha céus, bondes, papa filas e o viaduto do Chá. As luzes da cidade, os cinemas da avenida São João, Largo de Paissandu e avenida Ipiranga. Meu pai me recomendava (em vão) para que não olhasse para cima, para os arranha-céus, nos raros passeios: isso denunciaria a condição de caipira deslumbrado.
Em São Paulo moramos por muitos anos no bairro do Jabaquara, nas cercanias da Igreja de São Judas e próximo ao Aeroporto de Congonhas. Nessa época o bairro estava situado na periferia e, o então, Aeroporto Internacional de Congonhas era cercado por terrenos baldios e era, para alegria da molecada, o nosso grande quintal. No início da adolescência as atividades se resumiam a ir à escola, jogar futebol e brincar nesse imenso espaço aberto. Nós, da então periferia, começávamos a trabalhar em torno dos 14 anos e freqüentávamos o colégio noturno.
Quando estava no segundo colegial revelei para alguns amigos que pretendia ser médico: não puderam conter a explosão de risos. Como alguém fazendo o curso noturno de uma escola pública e que até então sequer mostrava um bom desempenho escolar, poderia pretender sonhar com isso? Estudei como um condenado no curso preparatório para conseguir ingressar na Faculdade de Medicina (talvez milagre de São Judas).
Tirando algumas oportunidades de conversa com meus pais tive muito pouco contato com a cultura japonesa até chegar à vida adulta. Foi somente depois de iniciar a minha vida profissional que tive oportunidade de aprender a dialogar, em língua japonesa, com meus pacientes. No final década de 80 é que pude viajar; pela primeira vez, como turista, ao Japão. O primeiro contato não foi muito agradável: o Japão estava vivendo a plenitude de sua bolha de prosperidade e os japoneses ostentavam uma arrogância de embrulhar o estômago. Impressão desfeita pela cordialidade dos familiares e em viagens posteriores. Confesso que o Japão não me provocou o fascínio que a cidade de São Paulo me despertou na infância.
Atualmente, quando viajo pelo Japão, acabo reencontrando o Brasil naquele arquipélago. Ruas com várias lojas ostentando a bandeira brasileira, o cheiro do frango assado e o som da batida de nossa terra. Como bom brasileiro, amo nossas coisas e gosto de passar uma temporada no Japão.
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil