Conte sua história › Cristina Sano › Minha história
Tive muitos namorados, japoneses, brasileiros, negros, só não namorei índio. Casei-me em 1989, com o ator Carlos Mani, descendente de italianos, meu amigo na EAD – Escola de Arte Dramática, e companheiro de muitas batalhas. Por sermos atores, dispensamos o casamento na igreja. Não era importante, pois, hoje em dia, acho que é mais um ato cênico do que propriamente religioso. Aquela vontade de ser o centro das atenções, por um momento, com padrinhos, gente, fotógrafos, tudo isso tínhamos e de graça, no teatro. Como estávamos fazendo a peça “Doze atos de Nelson Rodrigues”, não tivemos nem tempo, nem vontade de casar na igreja. Acho que a benção divina já estava conosco. O Carlos Mani é uma pessoa sensibilíssima, talentoso e extremamente trabalhador. Atualmente trabalha em uma ONG. Ele é um pai total! É ele quem acorda há 9 anos, às 5 hora, prepara o café da manhã para o nosso filhoYugo e o leva à escola. Temos temperamentos muito diferentes, ele é muito mais prático e eu, meio preguiçosa!!! (Risos)!!!
Nosso filho, Pedro Yugo Sano Mani, tem 15 anos. Já é artista, pois desenha maravilhosamente e acabou de ilustrar, num trabalho profissional (o primeiro), o livro “O Enigma das Amazonas”, de Luís Galdino. Seus desenhos mesclam aquarela com mangá. Ele estuda mangá há dois anos, na Liberdade. Praticou aikidô durante uns três anos, depois fez kung fu e agora natação e violão. No 8º ano na Waldorf, no ano passado, ele protagonizou a peça “Os meninos da Rua Paulo”. Fiquei embasbacada! E não é que ele é mais talentoso do que o pai e a mãe juntos!!! Mas ele diz que não quer ser ator, porque ele não quer ser pobre!!!(Risos)!!!
O Yugo é lindo, inteligente, generoso e um artista nato. Temos uma relação belíssima, pois tive a sorte de o Yugo ser quem ele é. Conversamos muito, considero que somos uma família espiritualizada, sempre atentos às conseqüências de nossos atos. Acreditamos que todos os seres são almas, num processo de evolução. Acredito que nossa consciência é como um bumerangue e tudo o que fazemos reverbera no tempo e no espaço.
Dou tudo o que posso em relação ao meu filho, nada material, mas um legado educacional e espiritual. Ele sabe que pode contar conosco, por pior que seja o enrosco!!! (risos)! Mas claro que eu sempre tenho a sensação de que ele merecia mais. Sem eu nunca ter cobrado nenhum tipo de interesse da parte dele pela cultura japonesa, ele espontaneamente resolver buscar uma escola de mangá! Percebo que esta geração não viveu conflitos de identidade (não que eu tenha sofrido, pra dizer a verdade, sempre gostei muito de ser descendente de japoneses, com influências das múltiplas culturas). O Yugo sempre diz, com muito orgulho, que ele é mestiço e adora elementos da cultura japonesa. Sobre o Ossamu Tezuka, por exemplo, o expert do mangá, foi ele quem me falou a respeito. E pediu-me para ensiná-lo a escrever em japonês. O alfabeto hiraganá ele já sabe e noto um genuíno interesse de sua parte.
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil