Conte sua história › Cristina Sano › Minha história
Sou nissei, nascida em São Paulo, no bairro da Lapa em 1965. Minha mãe nasceu em Miyasaki, Japão, em 1929, filha de Tsuneharu Nishi e Sai Nishi. A família imigrou para o Brasil com os sete filhos e chegou ao Porto de Santos, depois de uma viagem sem fim, (como diz minha mãe), em 1937. A família do meu pai imigrou para o Brasil um pouco antes, em 1927.
Como a maioria dos imigrantes japoneses da época, eles vieram em busca de soluções financeiras, uma vez que as oportunidades no Japão andavam escassas.
Vieram para trabalhar em fazendas de café. A vida era dura e os rígidos costumes da família não facilitaram a vida de minha mãe. Como era a única mulher e os irmãos trabalhavam na roça, era ela quem cuidava de quase tudo em casa.
De sua vinda ao Brasil, o que mais me impressiona é o flash de memórias do relato da viagem de navio. Foram 40 dias de viagem e ela não sabe exatamente porque, mas algumas pessoas faleciam no caminho e, apesar de pequena, ela diz que ainda se lembra do som agudo das cordas descendo em velocidade, rumo às águas, quando o corpo, envolto numa espécie de tina, era lançado ao mar.
Minha mãe conta que não foi fácil a adaptação no Brasil. Na escola que freqüentava, ela levava como lanche oniguiris – bolinho de arroz japonês, e as outras crianças não compreendiam o que ela falava e, irritadas, jogavam os bolinhos no chão!!!
A rotina de trabalho era espartana, mas ela se lembra da imensidão de árvores e frutas, colhidas dos galhos! Paradoxalmente, ela nunca quis voltar ao Japão, nem a passeio, e não sente a menor nostalgia em relação ao país.
A família de meu pai veio para cá em 1927. Meus avós casaram-se no Brasil e, dois anos depois, nasceu meu pai. Minha avó faleceu muito jovem, aos 26 anos, meu pai tinha 4 anos e foi criado pelos tios, a família Mori. Ele voltou a ver o pai com 18 anos de idade. Meu avô então, já casado novamente, teve 4 filhos do novo casamento.
Meus pais se conheceram em São Paulo e se casaram em 1956. Tiveram duas filhas. Meu pai tinha uma tinturaria e depois abriu uma loja de autopeças. Hoje ele é aposentado, tem 78 anos e adora pescar!!!
Ele sempre foi uma grande referência para mim, pois, como pai, ele sintetiza valores como dignidade, lealdade, paciência, bondade, generosidade. É, sem dúvida, uma das melhores pessoas que conheci!!!
Minha mãe tem uma energia incrível, aos 78 anos, ela faz ginástica duas vezes por semana, anda quilômetros, desce o pico do Jaraguá no mesmo pique que meu filho de 15 anos e ainda, quando vem até a minha casa, dá uma geral (risos)!!!
Ao contrário da maioria das mulheres japonesas, ela não tem nada de submissa e paciente, acho que herdei dela o potencial dramático, pois ela é extrovertida, brava, fala alto e não tem papas na língua. Brinco com ela, que para compor o meu personagem na novela “Pé na Jaca”da TV Globo, a Dona Mitiko, que na sinopse era um dragão, eu me baseei nela (risos)!!!
Meus pais são casados há 52 anos! Sou casada há 20 anos, com o ator Carlos Mani, e temos um filho de 15 anos, o Pedro Yugo Sano Mani.
Outro dia, um primo meu foi ao Japão e entrou em contato com nossos parentes de lá. Trouxe um vídeo maravilhoso, em que mostra uma espécie de mausoléu da família Sano. As cinzas de meu avô foram enviadas para lá e ergueram uma espécie de pequeno totem em sua homenagem. Achei belíssimo!
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil