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Sim, descobri que o Shindo Renmei também esteve presente em nossa família. Só que nela estava também Kanetaro Ogura, aquele que queria “dar mais asas aos filhos”. O seu irmão Shogoro, que o acompanhara na vinda para o Brasil, aderiu ferrenhamente aos “kachigumi” (vitoristas) e queria que seu irmão fizesse o mesmo, além de parar de fabricar hortelãs. Sim, Kanetaro Odiitchan, e até o meu pai, “chegaram a fabricar hortelãs, que eram utilizados para armamentos americanos”, segundo os meus tios. Não souberam precisar que tipo. A verdade, é que, o tino comercial do odiitchan levou-o à fabricação deste produto rentável em tempo de guerra... e o Japão ainda não havia aderido aos alemães e italianos, conforme descrito neste mesmo site, nas “Aventuras na História”, de Cecília Selbach (As várias faces do Imperador). E tanto o meu odiitchan quanto o meu pai pararam a fabricação de hortelãs, mais pelas ameaças que recebiam dos próprios consangüíneos.
E a insistência do irmão Shogoro levou-os ao rompimento definitivo. Odiitchan lhe dizia: “Não vim aqui (ao Brasil) para brigar, mas para que os meus filhos tivessem possibilidades de crescerem!” A personalidade do irmão era forte. Tanto, que até abandonou a esposa no Japão porque não queria acompanhar o marido na vinda ao Brasil. E Shogoro deve ter sido atuante no meio Shindo Renmei porque chegou a ser preso na Ilha Anchieta, por muitos anos, quando a Polícia Federal resolveu intervir. Não era um líder destacado, mas estava dentre os oitenta, acusados de serem mandantes ou executores que foram presos na ilha, até terem as penas comutadas pelo presidente Juscelino Kubitschek, no Natal de 1956, após terem cumprido mais de dez anos de prisão. Mas, após solto, tinha de se apresentar semanalmente à PF. Então, “ainda teimoso, ia constantemente à Capital solicitar ao Presidente da República para que o deportasse para o Japão, já que um recurso judicial protelou a execução dessa pena, e porque não admitia pagar sua própria passagem para isso, como fizeram alguns de seus companheiros”, segundo as tias. Até que, finalmente, conseguiu seu intento, no governo Sarney, em fins da década de oitenta. E foi para o Japão, onde veio a falecer.
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil