Conte sua história › Monja Coen/ Cláudia de Souza › Minha história
Fiquei seis anos cuidando do templo-sede da Liberdade, até 2001. E, quando eu saí, uma das coisas que achei importante era não dividir a comunidade. Seria muito fácil eu dar o endereço novo para as famílias que me pediam missa. Mas eu não fiz isso, porque não achei que era correto. Desde que eu saí, eu tenho um grupo que me segue. Tem alguns japoneses, mas são poucos. A maioria é de não-japoneses. E eles alugam esta sede aqui no Pacaembu, em São Paulo, desde o ano passado.
Eu falo que é um bonsai de templo, coitadinho. Na nossa sala de Buda cabem umas vinte, trinta pessoas. Se fosse no Japão, seria uma sala para duzentas pessoas. Mas fazemos tudo aqui: liturgias, meditação, leitura de textos de mestre Dogen. Fazemos todas as preces como se fosse um mosteiro. É uma comunidade jovem, uma comunidade que está nascendo.
De tudo que eu aprendi no Japão, o que eu achei mais importante de trazer para o Brasil foi o kokoro. Eu acho que nós precisamos mudar um pouquinho esse “eu em primeiro lugar”. Por que o Japão no Pós-Guerra cresce tanto? Porque é “nós”. Nós como povo, nós como nação. E não “eu, indivíduo”. No Japão, eu sou tão bom quanto a minha nação for. Então eu tenho que fazer com que meu país seja um grande país. Eu sou tão bom quanto a empresa onde eu trabalho. Se eu falo mal da empresa onde eu trabalho, então eu sou uma porcaria, né? Isso é típico da educação japonesa.
Eu acho que eu sou uma ponte. Nós fazemos as pontes, mas nós também somos as próprias pontes. A minha superiora no mosteiro sempre dizia: “Às vezes, mais do que ponte, a gente tem que ser barqueiro”. Cabe a nós, às vezes, mostrar que existe uma outra maneira de ser e que é possível ser dessa outra maneira sem perder coisas suas. Como eu, que sou de uma família portuguesa aqui no Brasil e vou encontrar essa afinidade tão grande com a cultura japonesa, esse amor profundo que hoje eu tenho pelo Japão. Eu tenho um pouquinho do Japão dentro de mim.
Depoimento ao jornalista Xavier Bartaburu
Fotos: Carlos Villalba e arquivo pessoal da Monja Coen
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil