Conte sua história › Monja Coen/ Cláudia de Souza › Minha história
O zen-budismo entrou no Brasil com os primeiros imigrantes japoneses. Essa primeira geração é toda budista e xintoísta. E eles trazem seus altares familiares. Todo budista tem seu altar familiar com os tabletes memoriais onde estão escritos os nomes dos parentes ou da família. Oficialmente, não vieram monges. Era proibida a imigração de religiosos não-cristãos. Eles entravam como agricultores. E o budismo era feito escondido. Ainda mais na época da guerra, quando era proibido até falar japonês.
Com a segunda geração, começou o choque cultural entre os valores dos pais e os valores das outras crianças na escola. Se os amiguinhos vão todos para a Igreja, os filhos dos japoneses vão junto. E como eles faziam para se tornar amigos dos não-japoneses? Viravam católicos. Punham as crianças para serem batizadas, e escolhiam padrinhos e madrinhas de fora de colônia. Com isso, eles esperavam ser aceitos.
No interior, por exemplo, faziam cruzes. Nos túmulos do Japão, se põe uma coisa chamada toba, que é um pedaço de madeira que simboliza os vários elementos da natureza, onde se escreve o nome do morto. Isso foi trocado no interior de São Paulo por uma cruz. E por que isso tudo acontece? Porque o povo japonês é muito de harmonizar-se com os outros. Eles não querem ser diferentes dos outros.
O templo zen lá na Liberdade existe desde 1956. Nosso primeiro superior foi o reverendo Shingu, que foi também quem começou a abrir o zazen para não-japoneses ali. Só que tinha um detalhe: na época, estrangeiros não podiam entrar na sala de Buda, só na sala de zazen, que era no subsolo. Então surgiu Ricardo Mário Gonçalves, que foi o primeiro monge brasileiro. É ele quem começou a traduzir as palavras do reverendo Shingu para o português, foi o primeiro a fazer a ponte entre Brasil e Japão no zen-budismo.
Depois veio o monge Tokuda Igarashi, que fortaleceu essa ponte. Ele veio do Japão com o reverendo Shingu e depois começou a abrir centros e mosteiros zen-budistas pelo Brasil todo: no Rio Grande do Sul, em Brasília, em Salvador, Minas Gerais. Foi Tokuda Sensei quem espalhou o zen-budismo pelo Brasil. Ele é muito importante.
O que acontece com o budismo é que nós não temos a idéia de evangelização, como existe em outras religiões. Essa casa que a gente tem aqui somos nós, brasileiros, que alugamos. Nossa sede no Japão não manda dinheiro. E é riquíssima. Eles acham bom que haja interesse pelo zen-budismo no Brasil. Mas, se não houver, também não tem importância. Não existe investimento no Brasil. Eles esperam que a maior parte do trabalho seja feita por aqui.
Depoimento ao jornalista Xavier Bartaburu
Fotos: Carlos Villalba e arquivo pessoal da Monja Coen
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil