Conte sua história › Celso Kamura › Minha história
Minha mãe nasceu no Mato Grosso, mas logo depois ela e uma irmã mudaram-se para Lins, no interior de São Paulo. Elas tiveram um bar na rodoviária da cidade. Meu pai na época era motorista de ônibus. E conheceu minha mãe lá.
Meu pai morreu quando eu tinha um ano. Quando ela ficou viúva, pegou os cinco filhos e os levou para a casa da minha avó, em Lins. Depois minha mãe veio sozinha para São Paulo. Chegando aqui, ela arranjou emprego em um restaurante japonês. Só depois, quando eu fiz 10 anos, ela trouxe todo o mundo para São Paulo.
Minha infância mesmo foi no interior, brincava na rua. Brincava com a minha vizinha, a Lúcia. Tinha uma amiguinha. Quando ia brincar com os meninos, dava confusão. Meu irmão não gostava de me levar para brincar. Então brincava com ela de boneca, de casinha...
Minha convivência com a minha avó era maravilhosa, ela me adorava. Eu era o caçula. Eram minha avó e minha tia solteirona, brava para cachorro. Mas ela me adorava também. Para resumir, eu era o único que não apanhava dela.
Desde que conheço minha mãe, ela foi devota de São Benedito. Ela morreu há nove anos, mas lembro que sempre dava o primeiro café da manhã para ele. Hoje, a empregada sempre põe o primeiro cafezinho para São Benedito. Ele está todo quebrado, mas foi minha mãe que me deu. Ninguém era muito católico. Fui coroinha quando era pequenininho porque eu queria usar o vestidinho... Foi no interior, quando eu tinha uns 7, 8 anos. Dia de semana era preto, de domingo era vermelho. Nunca fui muito católico. Mas eu rezo.
No primário, sempre fui o primeiro aluno da escola. Era ótimo no desenho. Sempre que tinha concurso de desenho, eu ganhava. Fazia bicho, paisagem, carinha de mulher. Sempre tinha carinha de mulher, penteadinho... E mangá. Adorava desenhar mangá!
Minha infância foi meio esquisita, porque a gente precisava de dinheiro. Comecei a trabalhar com 13 anos, como office-boy, auxiliar de escritório, e foi assim até os 16. Estudava à noite. No segundo grau, comecei a trabalhar com beleza e me desinteressei pelos estudos. Tanto que fui estudar turismo porque era o curso mais fácil. Já sabia o que queria ser.
Depoimento à jornalista Mariane Morisawa
Fotos: Carlos Villalba e arquivo pessoal de Celso Kamura
Vídeos e áudios: Estilingue Filmes
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil