Conte sua história › Grace Suzuki › Minha história
Nasci sashimi de mozarela (a nova ortografia que me desculpe, mas “muçarela” ainda não me convenceu), não tem jeito. Falo com as mãos, não levo desaforo para casa e respondo na lata quando me fazem qualquer tipo de pergunta.
Quem me conhece diz que de “japa” só tenho a fachada e o nome estampado no documento, brincando que fui feita em Taiwan ou Cingapura. Infelizmente faltou a dose da famosa paciência oriental no meu lote de fabricação, heheheh. Em troca disso, sobrou um humorzinho um tanto ácido... mas não se pode ganhar sempre, né? Sei que minhas ancestrais são famosas pela delicadeza, só que não faz parte do meu ser proferir as palavras como um sussurro e tapar a boca toda vez que sentir vontade de rir. Mas já pintei o meu cabelo de vermelho.
Assim como muitos de minha geração - que floresceu em plena “flower power” -, os “sansei”(netos de japoneses), crescemos no vai-e-vem entre “ter cara de japa” e ser aceitos nessa terra verde-amarela pelos “gaijin” (não japoneses), ou manter à risca uma tradição severa e milenar. E muito fechada, acima de tudo, principalmente para meninas com certa “curiosidade acentuada”. Portanto, nem vamos discutir o quão desastroso foi o meu curto contato com o “nihongakko” (escolinha de japonês).
Juro que por duas vezes tentei voltar a estudar japonês. Mas o piano chegou primeiro. E depois o inglês. E lá foi a raiz pra baixo da terra de novo. Veio a faculdade, o sonho do marketing, o primeiro estágio, o primeiro emprego, o segundo, o terceiro, sei lá quantos até mergulhar na área criativa no coração da maior editora da América Latina. O tempo passou tão rápido que eu, para variar, não percebi.
Hoje me arrependo por esse abandono. Ainda mais como diretora de arte vejo o quanto perdi renegando minhas origens por tanto tempo. Sim, essa arte que está no sangue, o amor pelas linhas simples e concisas, o horror pelo degradê.
Minha obatian alguém lá em cima já levou, sabe-se lá quantas histórias a mais ela me contaria se eu entendesse perfeitamente o que ela se esforçava tanto em traduzir em seu parco português. Mais vergonha ainda...
Mas aos poucos vou me redimindo. Fazer parte, pelo menos de um tiquinho dela, com esse superprojeto que comemora o centenário da chegada desses heróis – sim, e porque não? – que atravessaram metade do planeta em busca da realização de um sonho, em condições muitas vezes precárias, já é uma grande honra. Só de criar o logotipo (e conseguir aprová-lo) e mais alguns dos materiais que representam todo esse trabalho é uma honra maior ainda, que conto depois.
O Japão que se segure. Daqui a pouco tô lá!!!
Banzaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaai!!!!!!!!!
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil