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Grace Suzuki

São Paulo / São Paulo - Brasil
60 anos, diretora de arte

Sashimi de mozarela


Nasci sashimi de mozarela (a nova ortografia que me desculpe, mas “muçarela” ainda não me convenceu), não tem jeito. Falo com as mãos, não levo desaforo para casa e respondo na lata quando me fazem qualquer tipo de pergunta.

Quem me conhece diz que de “japa” só tenho a fachada e o nome estampado no documento, brincando que fui feita em Taiwan ou Cingapura. Infelizmente faltou a dose da famosa paciência oriental no meu lote de fabricação, heheheh. Em troca disso, sobrou um humorzinho um tanto ácido... mas não se pode ganhar sempre, né? Sei que minhas ancestrais são famosas pela delicadeza, só que não faz parte do meu ser proferir as palavras como um sussurro e tapar a boca toda vez que sentir vontade de rir. Mas já pintei o meu cabelo de vermelho.

Assim como muitos de minha geração - que floresceu em plena “flower power” -, os “sansei”(netos de japoneses), crescemos no vai-e-vem entre “ter cara de japa” e ser aceitos nessa terra verde-amarela pelos “gaijin” (não japoneses), ou manter à risca uma tradição severa e milenar. E muito fechada, acima de tudo, principalmente para meninas com certa “curiosidade acentuada”. Portanto, nem vamos discutir o quão desastroso foi o meu curto contato com o “nihongakko” (escolinha de japonês).

Juro que por duas vezes tentei voltar a estudar japonês. Mas o piano chegou primeiro. E depois o inglês. E lá foi a raiz pra baixo da terra de novo. Veio a faculdade, o sonho do marketing, o primeiro estágio, o primeiro emprego, o segundo, o terceiro, sei lá quantos até mergulhar na área criativa no coração da maior editora da América Latina. O tempo passou tão rápido que eu, para variar, não percebi.

Hoje me arrependo por esse abandono. Ainda mais como diretora de arte vejo o quanto perdi renegando minhas origens por tanto tempo. Sim, essa arte que está no sangue, o amor pelas linhas simples e concisas, o horror pelo degradê.

Minha obatian alguém lá em cima já levou, sabe-se lá quantas histórias a mais ela me contaria se eu entendesse perfeitamente o que ela se esforçava tanto em traduzir em seu parco português. Mais vergonha ainda...

Mas aos poucos vou me redimindo. Fazer parte, pelo menos de um tiquinho dela, com esse superprojeto que comemora o centenário da chegada desses heróis – sim, e porque não? – que atravessaram metade do planeta em busca da realização de um sonho, em condições muitas vezes precárias, já é uma grande honra. Só de criar o logotipo (e conseguir aprová-lo) e mais alguns dos materiais que representam todo esse trabalho é uma honra maior ainda, que conto depois.

O Japão que se segure. Daqui a pouco tô lá!!!

Banzaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaai!!!!!!!!!


Enviada em: 25/05/2008 | Última modificação: 25/05/2008
 
Pequena grande Sue »

 

Comentários

  1. Rita de Cássia Arruda @ 25 Mai, 2008 : 22:52
    Prezada Grace: São justamente essas singularidades que fazem os relatos aqui deixados tão interessantes. Cada depoente com sua marca própria (sua história pessoal de vida), apesar de um elo comum que a todos une: a cultura japonesa; a saga de avós, bisavós e até tataravós que imigraram do Japão para o Brasil. Quem bem definiu esse sentimento foi o Cláudio Tanno, em seus depoimentos. Assim também, o Kenji Arimura magistralmente relata que "feijoada com sushi" pode sim terminar em samba. E o que dizer então do Luiz Fukushiro? Numa tirada de humor maravilhosa ele pergunta se alguém alguma vez já viu um japonês barbudo de 1.80m. A Luci (que por sinal também tem seu sobrenome) igualmente fala de maneira especial desse "hibridismo" cultural. Isso para não falar do Ricardo Katayama, cuja "batian" tinha que insistir muito para que ele comesse peixe; coisa que para ele, na época, parecia insuportável. Já pensou? Um sansei que não gosta de sashimi? São relatos deliciosos; muitos emocionantes. Tantos outros... Ficaria aqui horas me lembrando de todos que já li. Bato palmas para todos eles. Assim sendo... Japonesa ruiva que não leva desaforo para casa? Hahahaha... Acho o máximo !!! Que Taiwan que nada, menina !!! Você é uma legítima representante da raça !!! Parabéns por seu trabalho e simpatia. Um abraço cordial.

  2. jonas @ 19 Jun, 2008 : 14:23
    parabens vc e luta muito ben

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