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Olga Futemma

São Paulo / SP - Brasil
73 anos, cineasta e diretora da Cinemateca Brasileira

Encontro das origens


A gente não se olha, né? Eu esqueço que tenho cara de japonesa, só quando me chamavam eu lembrava. Acho que estou acostumada, digo que é normal, mas não tenho muita certeza. Não me sentia revoltada por ser japonesa, por não ser loira, mas você sente que é um elemento estranho.

Fui convidada para o Festival de Tóquio em 1995, e precisei de intérprete. Sei lá, a gente se sente meio tonta. Saía com um grupo de cineastas brasileiros, eles olhavam para mim e perguntavam “muito bem, onde vamos?”, e eu respondia “para onde vocês me levarem” (risos). Me sentia tão estrangeira quanto eles. Depois fui para Okinawa, que eu só conhecia de filmes.

Minha criação teve muitos elementos okinawanos, mas só fui entender isso quando estive lá e vi como eles vivem. Tem um mar maravilhoso, e uma soltura, pode ser considerada um desmazelo próprio da cultura, que eu acho muito saborosa. Para você ter idéia, no início da imigração, os próprios japoneses chegaram a encomendar uma carta pedindo para reduzir o número de okinawanos que viriam para o Brasil, pois eles estavam denegrindo a imagem do japonês. Como? Andavam descalços, cantavam por qualquer motivo, falavam alto, enfim, os “Novos Baianos” (risos). E isso causava problemas para a imagem que os japoneses tentavam imprimir aqui no Brasil.

A criação dos meus filhos foi completamente ocidental. Não foi uma decisão, era só o tipo de vida da gente. São dois mestiços muito bonitos. O Bruno é ilustrador, tem interesse por mangás, e teve um movimento de aprender japonês. Fiquei muito feliz, e minha mãe também, pois seria a chance de uma comunicação mais direta. Cada vez mais me sinto parecida com minha mãe, no jeito de andar. O Fernando, o mais novo, em dado momento aprendeu a tocar bateria. Meu pai tocava taiko, não tocava com as mãos mas com o corpo, e eu percebi isso no Fernando. Jeito é uma coisa muito vaga, talvez só eu veja esse traço que vem lá de trás, mas o movimento é igual.

Depoimento ao jornalista Leo Nishihata
Fotos: Carlos Villalba e arquivo pessoal de Olga Futemma


Enviada em: 19/05/2008 | Última modificação: 23/06/2008
 
Costumes e gerações »

 

Comentários

  1. Valdete Shizuko Tamashiro @ 20 Mai, 2008 : 17:11
    Olga Futemma. Esse nome e o filme "Hia Sá Sá – Hay Yah!" há tempos não me sai da cabeça. Como gostaria de assistir a esse filme! Será que está disponível / será exibido em algum lugar? Olga, seu depoimento foi belo! As histórias da família são bastante parecidas com as minhas e creio que de muitos okinawanos, imigrantes e descendentes. E a questão da arte, tão presente nos okinawanos. A festa, a celebração, a alegria que existe em cada casa uchinanchu! Parabéns pelo depoimento! E não descanso enquanto não assistir ao Hia Sá Sá – Hay Yah! Abraços enormes!

  2. Lucas Kenzo Dakuzaku @ 23 Mai, 2008 : 01:02
    Olá Olga! Fiquei contente em saber que exite uchinanchu no ramo da arte do cinema no Brasil. Tenho 17 anos e não conheço seus trabalhos, mas me interessei pelo "Hia Sá Sá - Hay Yah!". Seu depoimento sobre a época em que os ojis e obás se reuniam pra tocar shamisen e cantar, fez lembrar as histórias que meu pai conta de quando ele era garoto. E por acaso, eu toco shamisen e taiko hehehe.... Bom, é isso aí. Parabéns pelo seu trabalho. Saúde e sucesso... até+!

  3. Rita de Cássia Arruda @ 26 Mai, 2008 : 00:14
    Cara Olga: Lendo seus relatos, consegue-se entender bem o significado daquela expressão “alma de artista”. Em sua casa, ao que pude perceber, respirava-se cultura. Essa sua opção pela “sétima arte”, assim, parece um dado natural e decorrente do ambiente em que você foi educada. Adorei ler seus depoimentos. Seu pai deve ter sido uma figura e tanto. Também achei interessantíssimo o que você falou sobre o povo de Okinawa. Eu não fazia idéia dessa alegria esfuziante dos okinawanos. Foi uma grata surpresa tomar conhecimento desse fato. Você foi pioneira, iconoclasta, quebrou regras e apesar de ter rompido com as tradições familiares soube como cativar o afeto de seus entes queridos. Enfim... Virei sua fã. Obrigada por compartilhar conosco suas histórias. Um abraço carinhoso.

  4. Matilde M Y Tanabe @ 28 Mai, 2008 : 18:57
    Olá Olga:Sua história com maiores detalhes foi mostrada na TV Globo.Voce ocupa um espaço que muito me orgulha(diretora da cinemateca Brasileira),família de músicos,vida de muita garra e coragem, hoje podemos dizer "a imigração valeu a pena" abraços Ps.da galeria de fotos o prof de shamissen Seihin Yamauchi era tio do meu pai,ele foi tambem pianista, músico e divulgador da música clássica de Okinawa em vários países (in memoria)

  5. Regina Hara @ 29 Mai, 2008 : 12:42
    Amiga Olga! Seja através da sua história ou da imprensa, continuo tendo uma profunda admiração pelo seu dinamismo e espírito de luta que voce sempre teve. Sinto saudades das suas aulas de Liang Cong que voce fazia com muito carinho. Apesar de ter rompido as tradições, voce tem sempre presente a tal da "paciência oriental" Também escrevi a história da minha avó "a imigrante que viveu 106 anos" neste site. Mande notícias. beijos

  6. Massa Goto @ 10 Abr, 2011 : 17:36
    Olga, quando li a tua estória, do Mercado Municipal, da Rua Cantareira, deu uma saudade daquela época do CESP... Tem um pessoal do CESP fazendo um cadastro dos ex-cespeanos e gostaria de te incluir juntamente com a Rita Okamura, porém não tenho nenhum contato de vocês. O meu e-mail é: gotomassa@gmail.com

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