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A gente não se olha, né? Eu esqueço que tenho cara de japonesa, só quando me chamavam eu lembrava. Acho que estou acostumada, digo que é normal, mas não tenho muita certeza. Não me sentia revoltada por ser japonesa, por não ser loira, mas você sente que é um elemento estranho.
Fui convidada para o Festival de Tóquio em 1995, e precisei de intérprete. Sei lá, a gente se sente meio tonta. Saía com um grupo de cineastas brasileiros, eles olhavam para mim e perguntavam “muito bem, onde vamos?”, e eu respondia “para onde vocês me levarem” (risos). Me sentia tão estrangeira quanto eles. Depois fui para Okinawa, que eu só conhecia de filmes.
Minha criação teve muitos elementos okinawanos, mas só fui entender isso quando estive lá e vi como eles vivem. Tem um mar maravilhoso, e uma soltura, pode ser considerada um desmazelo próprio da cultura, que eu acho muito saborosa. Para você ter idéia, no início da imigração, os próprios japoneses chegaram a encomendar uma carta pedindo para reduzir o número de okinawanos que viriam para o Brasil, pois eles estavam denegrindo a imagem do japonês. Como? Andavam descalços, cantavam por qualquer motivo, falavam alto, enfim, os “Novos Baianos” (risos). E isso causava problemas para a imagem que os japoneses tentavam imprimir aqui no Brasil.
A criação dos meus filhos foi completamente ocidental. Não foi uma decisão, era só o tipo de vida da gente. São dois mestiços muito bonitos. O Bruno é ilustrador, tem interesse por mangás, e teve um movimento de aprender japonês. Fiquei muito feliz, e minha mãe também, pois seria a chance de uma comunicação mais direta. Cada vez mais me sinto parecida com minha mãe, no jeito de andar. O Fernando, o mais novo, em dado momento aprendeu a tocar bateria. Meu pai tocava taiko, não tocava com as mãos mas com o corpo, e eu percebi isso no Fernando. Jeito é uma coisa muito vaga, talvez só eu veja esse traço que vem lá de trás, mas o movimento é igual.
Depoimento ao jornalista Leo Nishihata
Fotos: Carlos Villalba e arquivo pessoal de Olga Futemma
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil