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Olga Futemma

São Paulo / SP - Brasil
73 anos, cineasta e diretora da Cinemateca Brasileira

Costumes e gerações


O cinema foi o grande revelador da cultura japonesa no Brasil. Lembro de longas filas no Cine República para assistir “Guerra e Humanidade”, do Massaki Kobayashi, que era um filme de 9 horas. Yasujiro Ozu falava sobre os costumes no Japão, a americanização e ao mesmo tempo a manutenção das tradições. Tem uma seqüência especial no filme “Pai e Filha”, ela diz ao pai que vai se casar e deixá-lo sozinho, então ele pára, pensa e diz “acho que vai chover”. É um momento de densidade dramática, ele sabe o que está acontecendo, a mudança, mas se contém.

Normalmente, os grupos que emigram acabam se tornando mais conservadores do que o povo que ficou, pois ali o movimento continua: a Segunda Guerra Mundial, a ocupação dos americanos, o rock, a cultura. Aqui, tudo era feito para conservar as tradições. A casa do japonês imigrante sempre foi uma bagunça muito grande, um acúmulo de coisas que o instinto de sobrevivência e não-desperdício impede de jogar fora.

Nossa geração vem paralela ao que os livros de história vão contar. Os caminhos são sempre diferentes, mas há uma constante no percurso dos descendentes que hoje têm 55, 60 anos, que é sair de uma cultura mais rígida, mais fechada, e buscar compreender a realidade brasileira mais ampla. Nesse percurso, até os anos 80, há outro fator, a valorização da imagem do Japão, da tecnologia, economia, e tudo isso vai compondo sua imagem. São as circunstâncias que fazem de você quem você é.

Depoimento ao jornalista Leo Nishihata
Fotos: Carlos Villalba e arquivo pessoal de Olga Futemma


Enviada em: 19/05/2008 | Última modificação: 23/06/2008
 
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Comentários

  1. Valdete Shizuko Tamashiro @ 20 Mai, 2008 : 17:11
    Olga Futemma. Esse nome e o filme "Hia Sá Sá – Hay Yah!" há tempos não me sai da cabeça. Como gostaria de assistir a esse filme! Será que está disponível / será exibido em algum lugar? Olga, seu depoimento foi belo! As histórias da família são bastante parecidas com as minhas e creio que de muitos okinawanos, imigrantes e descendentes. E a questão da arte, tão presente nos okinawanos. A festa, a celebração, a alegria que existe em cada casa uchinanchu! Parabéns pelo depoimento! E não descanso enquanto não assistir ao Hia Sá Sá – Hay Yah! Abraços enormes!

  2. Lucas Kenzo Dakuzaku @ 23 Mai, 2008 : 01:02
    Olá Olga! Fiquei contente em saber que exite uchinanchu no ramo da arte do cinema no Brasil. Tenho 17 anos e não conheço seus trabalhos, mas me interessei pelo "Hia Sá Sá - Hay Yah!". Seu depoimento sobre a época em que os ojis e obás se reuniam pra tocar shamisen e cantar, fez lembrar as histórias que meu pai conta de quando ele era garoto. E por acaso, eu toco shamisen e taiko hehehe.... Bom, é isso aí. Parabéns pelo seu trabalho. Saúde e sucesso... até+!

  3. Rita de Cássia Arruda @ 26 Mai, 2008 : 00:14
    Cara Olga: Lendo seus relatos, consegue-se entender bem o significado daquela expressão “alma de artista”. Em sua casa, ao que pude perceber, respirava-se cultura. Essa sua opção pela “sétima arte”, assim, parece um dado natural e decorrente do ambiente em que você foi educada. Adorei ler seus depoimentos. Seu pai deve ter sido uma figura e tanto. Também achei interessantíssimo o que você falou sobre o povo de Okinawa. Eu não fazia idéia dessa alegria esfuziante dos okinawanos. Foi uma grata surpresa tomar conhecimento desse fato. Você foi pioneira, iconoclasta, quebrou regras e apesar de ter rompido com as tradições familiares soube como cativar o afeto de seus entes queridos. Enfim... Virei sua fã. Obrigada por compartilhar conosco suas histórias. Um abraço carinhoso.

  4. Matilde M Y Tanabe @ 28 Mai, 2008 : 18:57
    Olá Olga:Sua história com maiores detalhes foi mostrada na TV Globo.Voce ocupa um espaço que muito me orgulha(diretora da cinemateca Brasileira),família de músicos,vida de muita garra e coragem, hoje podemos dizer "a imigração valeu a pena" abraços Ps.da galeria de fotos o prof de shamissen Seihin Yamauchi era tio do meu pai,ele foi tambem pianista, músico e divulgador da música clássica de Okinawa em vários países (in memoria)

  5. Regina Hara @ 29 Mai, 2008 : 12:42
    Amiga Olga! Seja através da sua história ou da imprensa, continuo tendo uma profunda admiração pelo seu dinamismo e espírito de luta que voce sempre teve. Sinto saudades das suas aulas de Liang Cong que voce fazia com muito carinho. Apesar de ter rompido as tradições, voce tem sempre presente a tal da "paciência oriental" Também escrevi a história da minha avó "a imigrante que viveu 106 anos" neste site. Mande notícias. beijos

  6. Massa Goto @ 10 Abr, 2011 : 17:36
    Olga, quando li a tua estória, do Mercado Municipal, da Rua Cantareira, deu uma saudade daquela época do CESP... Tem um pessoal do CESP fazendo um cadastro dos ex-cespeanos e gostaria de te incluir juntamente com a Rita Okamura, porém não tenho nenhum contato de vocês. O meu e-mail é: gotomassa@gmail.com

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