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O cinema foi o grande revelador da cultura japonesa no Brasil. Lembro de longas filas no Cine República para assistir “Guerra e Humanidade”, do Massaki Kobayashi, que era um filme de 9 horas. Yasujiro Ozu falava sobre os costumes no Japão, a americanização e ao mesmo tempo a manutenção das tradições. Tem uma seqüência especial no filme “Pai e Filha”, ela diz ao pai que vai se casar e deixá-lo sozinho, então ele pára, pensa e diz “acho que vai chover”. É um momento de densidade dramática, ele sabe o que está acontecendo, a mudança, mas se contém.
Normalmente, os grupos que emigram acabam se tornando mais conservadores do que o povo que ficou, pois ali o movimento continua: a Segunda Guerra Mundial, a ocupação dos americanos, o rock, a cultura. Aqui, tudo era feito para conservar as tradições. A casa do japonês imigrante sempre foi uma bagunça muito grande, um acúmulo de coisas que o instinto de sobrevivência e não-desperdício impede de jogar fora.
Nossa geração vem paralela ao que os livros de história vão contar. Os caminhos são sempre diferentes, mas há uma constante no percurso dos descendentes que hoje têm 55, 60 anos, que é sair de uma cultura mais rígida, mais fechada, e buscar compreender a realidade brasileira mais ampla. Nesse percurso, até os anos 80, há outro fator, a valorização da imagem do Japão, da tecnologia, economia, e tudo isso vai compondo sua imagem. São as circunstâncias que fazem de você quem você é.
Depoimento ao jornalista Leo Nishihata
Fotos: Carlos Villalba e arquivo pessoal de Olga Futemma
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil