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Meus irmãos pegaram bastante a fase de festas de jovens japoneses. Eu achava meio estranho, porque as moças ficavam sentadinhas, beirando as paredes, e os rapazes iam tirar as moças, o que as deixava numa situação desfavorável, né? Eles é que escolhiam. No colégio, comecei a fazer teatro, minha vida já estava em outro lugar. Houve um momento no fim da adolescência, um pouco antes da universidade, em que fui para o lado oposto. Não queria contato com japoneses, queria a imersão no mundo ocidental.
Entrei na universidade em 1970, com toda a experiência de 1968 ainda muito forte. Alguns grupos continuavam com a movimentação política estudantil, e eu fiz muito contato com esse pessoal. Queria pensar como cidadão brasileira, entender pelo o quê eu deveria lutar. Mas nunca me distanciei da minha família. Eles deviam achar muito esquisito, não tinham idéia do que eu fazia na faculdade, mas era uma coisa de confiança. Davam orientações, tipo “casar é com okinawano, não vai me casar com japonês”.
Mal sabiam eles que eu me atraía bastante por não-descendentes. E é engraçado como a minha família foi evoluíndo. Meus três irmãos se casaram com japoneses de família não-okinawana. Aí, quando chegou minha vez, eu primeiro não casei, fui companheira do (jornalista e cineasta) Renato Tapajós durante 24 anos e ele era desquitado e brasileiro. Isso foi sendo incorporado com apreensão, mas sem traumas. Teve só um dia em que minha mãe falou “mas ele é barbudo!” (risos).
Sobretudo quando nasceu o Bruno, meu primeiro filho, meus pais ficaram muito próximos de nós. Quando meu pai ficou doente, tínhamos longas conversas na sala de espera do médico. Ele era um homem de grandes gestos, e minha mãe não, minha mãe é a resistência. Eles se completaram muito bem. Apesar de ter sido um casamento de miai, no final da vida, certa feita meu pai me disse “não conhecia, né? Mas foi loteria, eu ganhei na loteria”. Acho que, depois de 50 anos de casados, um homem falar assim de sua mulher é muito bonito.
Depoimento ao jornalista Leo Nishihata
Fotos: Carlos Villalba e arquivo pessoal de Olga Futemma
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil