Conte sua história › Marcelo Issamo Hayashi › Minha história
Embora nunca tivéssemos uma vivência pura da cultura japonesa, eu sinto que fomos criados de maneira rígida mas legal, melhor que meus avós criaram meus pais.
Eu e minha irmã nunca fomos ao nihon-gakko. Então nunca aprendi a falar japonês, e nem a escrever. Falávamos algumas palavras em casa por costume (e isso até me atrapalhou em alguns momentos na escola, vejam só) e às vezes perguntava algo do que meus pais conversavam com meus avós (eles sim, quase sempre em japonês).
Apesar de morar em um bairro com bastante colônia, nunca nos envolvemos muito, pois não tínhamos muito contato e, entendo eu agora, não tínhamos também condição financeira de participar de clubes e associações. Por outro lado, nas escolas em que frequentamos existiam vários descendentes de japoneses, com quem até fiz amizades muito fortes, mas não exatamente por conta da identificação cultural ou de etnia. Tive (e ainda tenho) muitos amigos ocidentais, e grande parte dos meus melhores amigos de verdade são "gaijins".
Todos os ingredientes de uma educação tradicional japonesa com certa rigidez fizeram parte de minha vida. A principal cobrança sempre foi por bom desempenho na escola. Mesmo sendo um aluno acima da média, dava minhas derrapadas, as quais costumavam ser castigadas, algumas de modo severo. Sentia bastante inveja de meus amigos que viajavam para acampamentos ou com outros amigos (coisas que me foram proibidas até os 18 anos, junto da saída para as baladas, mesmo os bailes nikkeis). Não brinquei na rua até os 12 anos de idade (mas essa falta era suprida pela visita constante dos primos de mesma idade). Além de tudo, sempre senti que a cobrança era maior comigo, o filho mais velho, que tem que "cuidar" dos mais novos, segundo a tradição.
Mas não posso reclamar tanto, visto que havia outros amigos e conhecidos japoneses que passavam por coisas "piores". Choros e gritos na vizinhança quase toda noite eram bem comuns. Apanhei de palmadas e até de cinta algumas vezes, mas havia gente que apanhava de vara ou levava tapas e socos no rosto.
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil