Conte sua história › Yukio Shimizu › Minha história
O meu pai, Shigueru Shimizu (1907-1998), nascido em Kumamoto-Ken, Shimo-machi, e minha mãe Kimie, hoje com 94 anos de idade, foram imigrantes interessantes, diferente dos demais, podemos dizer até ousados para a época, pois imigraram primeiramente para Lima, no Peru. Viajaram em 1927 com seus pais, ele com 20 anos e ela com 14, ambos solteiros. Em Lima, se casaram no ano de 1931 e tiveram o seu primeiro filho, Kazuo.
Em sua estada em Lima ele aprendeu a profissão de dentista prático, na época considerada legal. Neste período houve uma epidemia de febre amarela devastadora que quase dizimou a população de Lima e sobrecarregou todos os serviços de saúde. Ele chegou a ficar internado em um leito improvisado nos corredores do hospital, mas conseguiu sobreviver, graças ao Senhor, como ele próprio dizia.
Depois deste episódio, em 1932 meu pai resolveu voltar para o Japão com minhã mãe e meu irmão mais velho. Ficaram no Peru meus avós, bem como uma irmã do meu pai e uma irmã de minha mãe, Saeko Suguiura.
A sua permanência no Japão durou poucos meses, pois com seu espírito aventureiro, a situação econômica difícil em que se encontrava o país e uma extensa propaganda governamental sobre o "ouro verde" (café) a respeito do Brasil, que entusiasmava a todos, meus pais resolveram vir ao Brasil.
Bokuyo-Maru foi o navio pelo qual meus pais viajaram do porto de Kobe no Japão até o porto de Santos no Brasil. Meus pais vieram com meu irmão Kazuo e com o irmão mais novo de minha mãe, que até então havia permanecido no Japão.
Do porto de Santos passou pela imigração e foi ser colono de cafezal em 3ª Aliança, então distrito da cidade de Lins, atualmente cidade de Getulina, no interior de São Paulo. Permaneceu lá por quase duas décadas, onde nasceram os demais filhos: Teruko, Yoshio, Fumiko, Yukio, Tieko, Yoka, Yuriko, Shigueo e Akeme. Lá ele também exerceu a profissão de dentista prático e adquiriu uma situação econômica favorável, adquirindo terras e automóveis, o que nao era comum para a época, principalmente entre os imigrantes.
Na região de Getulina, era enorme a colônia japonesa no local, cuja vizinhança tínhamos o artista plástico hoje conhecido mundialmente Sr. Manabu Mabe, cuja iniciação artística se deu neste local. Ele e o sr. Shigueru Shimizu mantiveram uma bela amizade que perdurou até em São Paulo, no final da vida deles.
Na propriedade do meu pai, havia muitos colonos ocidentais, então a língua falada na nossa residência era o português, o que fez com que, infelizmente, nós não aprendêssemos a língua japonesa. Mas apreciamos a cultura, a tradição, os costumes japoneses.
A educação recebida pelos meus pais foi rigorosa, e quase todos os irmãos estudaram, inclusive fazendo faculdade. Eu fiz odontologia na Unesp em Araçatuba. Eu me formei e fui trabalhar em São Paulo, capital. Casei-me com Thereza, também cirurgiã- dentista. Tivemos três filhos: Mônica, médica; Patrícia, professora de letras e Júlio, engenheiro civil e economista.
Com o tempo, todos os meus irmãos e meus pais também foram morar em São Paulo, onde permanecem até hoje. Eu me mudei para Tres Lagoas, no Mato Grosso do Sul.
Procuro ensinar para os meus filhos a paciência, a dedicação, a perseverança, a alegria, a sabedoria e muito mais dos orientais que muito têm influenciado a minha conduta.
Estive a passeio, ano passado, no Japão e fiquei muito impressionado com a educação do povo japonês, a limpeza, a ponto de ser possível a pescaria num rio no centro de Tokio, a sua riqueza, a tecnologia, a segurança... Enfim, o Japão é um país muito desenvolvido.
O Brasil é um país maravilhoso, e tenho grande perspectiva de um ótimo futuro aos meus descendentes.
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil