Conte sua história › Japinha Ricardo Di Roberto › Minha história
O pessoal do CPM22 acha importante ter um japonês na banda. Eles já falaram isso. É o lado calmo, o lado paciente. Não que todo japonês seja zen, mas eu sou. Eles gostam que a banda tenha um cara tranqüilo, careta, porque na hora em que precisam lidar com a mídia, com algum empresário, é importante ter alguém para fazer essa parte.
O meu lado japonês me dá uma certa quantidade de paciência oriental. E eu costumo cultivar isso. Tenho bastante paciência com nossos fãs. Até o pessoal meio afoito, que vem pulando em cima de você, eu dou uma acalmada neles. Os caras da minha banda talvez não tenham tanta paciência quanto eu. Eu sou quem mais lida com isso, com fã-clube, com internet, eu sou o cara que responde todos os e-mails. Em dia de show, eu sou o primeiro a sair lá fora para atender os fãs. Lido numa boa isso. Talvez tenha a ver com o lado oriental.
Eu vi amigos que se deram bem na música e não conseguiram segurar a onda. Ficavam bravos quando vinha alguém pedir autógrafo num restaurante. Por mais que eu esteja comendo com uma namorada, e a pessoa não tenha vindo pedir o autógrafo no melhor momento, eu tenho uma noção de como é para aquela pessoa. É claro que eu evito certas coisas. Por exemplo: não vou ao shopping de sábado à tarde, porque aí seria um monte de adolescentes no meu pescoço. Ao mesmo tempo, eu gosto de público, gosto do contato com gente. Quando eu vejo a molecada vindo pedir autógrafo, querendo tirar foto, eu trato eles bem. Vejo como carinho, não como amolação.
Uma das bênçãos de eu ter virado músico profissional foi o de poder ter ido para o Japão. Foi excelente a experiência. A gente se apresentou para um público de mil, 2 mil pessoas, dekasseguis a maioria. Fiquei quase 10 dias, mas deu para ter idéia do que é o país, o povo. Fiz contato com parentes, vi um e outro primo. O povo da minha banda sofreu um pouco com o idioma, com a comida. No terceiro ou quarto dia, eles já queriam voltar. Eu não. Eu me senti muito bem andando naquelas ruas. É outro mundo, né? Uma mistura do antigo com o avançadíssimo. Tudo fantástico, a tecnologia, a educação do povo, o silêncio – no metrô, todo o mundo fala baixinho. Eu queria ter ficado mais umas duas semanas lá.
Mas, apesar de ter adorado o Japão, de ter me amarrado em muitas coisas, não me passa pela cabeça morar lá. Eu gosto muito do Brasil. O povo aqui é mais amistoso. Posso te conhecer hoje e ser teu amigo na semana que vem. No Japão é impossível. O povo brasileiro é muito mais acolhedor, e eu sinto muita falta disso.
Eu sei que existem milhares de problemas, mas eu tenho muito amor pelo Brasil. É uma terra abençoada em termos naturais; a gente não tem essas catástrofes que eles têm lá. Em termos humanos, até pela mistura de povos, é um país muito rico na arte, na cultura, na música. Eu vejo como potência. Inclusive essa é a minha briga com o pessoal que vai morar fora. Eu digo: “Pô, você é um cara bom que está no Brasil e vai morar no Japão, nos Estados Unidos? Você vai fortalecer mais os caras quando podia estar ajudando a gente?” Eu tenho orgulho de ser descendente de japoneses por ser o Japão o país que é. Mas eu prefiro ser brasileiro e ajudar a construir essa trajetória.
Depoimento ao jornalista Xavier Bartaburu
Fotos: Carlos Villalba e arquivo pessoal de Ricardo Di Roberto
Vídeos e áudios: Estilingue Filmes
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil