Conte sua história › Japinha Ricardo Di Roberto › Minha história
Sempre tive bons amigos japoneses, principalmente quando eu era mais novo. Eu era meio quieto e fazia amizade com os quietinhos, me identificava com eles. Já no colegial, era diferente. Fiz colegial técnico em processamento de dados e tinha muito japonês na classe. Eles andavam em bandos. A gente chamava de “colônia”, e eu não me encaixava muito bem nela. Eu já tinha 16 anos, estava mais solto, e gostava de andar com os brasileiros também. Eu me dava bem pra caramba com os descendentes de japoneses, mas eu não queria ficar só com eles. Como eu não era nem japa nem brasileiro, ficava meio dividido. Tanto é que os japoneses nunca me convidaram para os bailes que eles freqüentavam no clube Ipê ou no Monte Líbano. Eu era louco para ir, mas nunca me chamaram.
Não me lembro de ter sofrido muita discriminação por parte dos brasileiros. Mas, quando você é pequeno, e está em formação psicológica, tudo conta. Você põe o pé atrás. Quando vinham uns meninos mais folgados e me chamavam de “china”, de “japa”, tinha horas em que eu encarava numa boa, tinha horas que não. Eu era muito tímido quando era moleque e ficava chateado com essas coisas. Eu acho que nem gostava tanto de ser descendente de japonês.
Hoje sou muito bem resolvido. Adoro ser descendente de japoneses. É lógico que, se um japonês vai num desfile de escola de samba, o povo ainda vê com outros olhos. Esse ano eu saí tocando na bateria da Gaviões da Fiel, e a Leci Brandão fez um comentário: “Tem japonês no samba!”. É um negócio pejorativo que é ruim. Mas, ao mesmo tempo, você está quebrando um paradigma. É o meu caso no rock. Meu apelido é Japinha porque, de mil músicos, tem uns dois ou três que são descendentes.
Talvez isso pese para quem não tem muita segurança, não tem opinião formada. Eu hoje, com 34 anos, tenho o pé no chão e entendo bem o que acontece. Se alguém vem com preconceito, eu nem ligo. Aos poucos, percebi que tudo aquilo que a minha mãe me passava, a disciplina, o gosto pelo estudo, tudo isso me ajuda hoje em dia. De repente eu sou um músico que tem uma faculdade, enquanto os caras da minha banda não têm.
Depoimento ao jornalista Xavier Bartaburu
Fotos: Carlos Villalba e arquivo pessoal de Ricardo Di Roberto
Vídeos e áudios: Estilingue Filmes
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil