Conte sua história › Daniele Suzuki › Minha história
Acho que ter traços japoneses me ajudou na profissão. O primeiro comercial que fiz foi por causa disso. Queriam várias japonesas diferentes e eu fui escolhida. Tinha 10 anos quando fiz o comercial da Mini Coke na TV. Tenho o filme gravado. Foi aí que comecei a fazer outros comerciais. Com 15 anos, entrei numa agência de modelos, fui da antiga Ford. Depois, comecei a fazer uns musicais. Meu primeiro filme foi o inglês ”Women on top” (2000). Na TV, a primeira novela foi “Uga uga” (2000), na Globo. Antes fiz a série “Sandy e Junior” (1999). Participei de “Malhação” (2003-2005), “Bang Bang” (2005), “Pé na Jaca” (2006) e agora estou gravando “Ciranda de Pedra”.
Na nova novela, faço uma japonesa autêntica, a Alice, que trabalha no escritório de uma metalúrgica, é secretária do Cícero (Osmar Prado), um cara de poder. Ela é muito rápida e eficiente, mas muito tímida. A personagem vai representar a chegada dos imigrantes japoneses na capital de São Paulo, porque nessa época (a novela se passa em 1958) eles já estavam saindo da lavoura para trabalhar na cidade. Nos anos 50, os japoneses começaram a se desfazer daqueles grupos fechados e se casar com outras pessoas de diferentes raças, a se misturar com outras culturas. Por conta da Segunda Guerra Mundial, o país ainda tinha muito preconceito com os japoneses, porque eles apoiavam os alemães, e o Brasil apoiava os americanos. É uma fase em que eles já estavam começando trabalhar nos escritórios. Tive que fazer uma grande pesquisa para a novela, desde 1900, porque não sabia nada sobre a história da imigração japonesa. A família da Alice é do bairro da Liberdade, ela vai morar numa pensão junto com outra galera, porque é muito difícil arranjar uma família japonesa para mim. A única novela em que tive uma família foi “Pé na Jaca”. Eu sempre sou a vizinha, a namorada, alguém que chegou de fora e mora na casa de alguém. Não sei se isso acontece por falta de atores japoneses ou pela postura da TV de abrir pouco espaço para japoneses.
Hoje, como faço muita coisa, ainda não estou totalmente mergulhada na minha personagem em “Ciranda de Pedra”. Não é como o programa que apresento, “Tribos”, no Multishow, que estou com ele nas mãos, já na terceira temporada. Espero que ele tenha vida longa, pelo menos mais um ano.
Na minha vida profissional, nunca me senti “a diferente”, o patinho feio da história. Porque eu esqueço que sou, não me percebo japonesa, só quando alguém me lembra o que sou. Não me olho no espelho e fico dizendo: “Caraca, sou muito japonesa!”. Estou integrada ao meio, vou pra samba, pro forró, não me visto a caráter, não tenho uma cultura em casa, minha comida é arroz feijão e farofa. Quando alguém me chama de “japa”, nem ligo, não é comigo.
Depoimento ao jornalista Paulo Ricardo Moreira
Fotos: Carlos Ivan Siqueira / divulgação da TV Globo / arquivo pessoal
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil