Conte sua história › Daniele Suzuki › Minha história
Gostaria muito de saber escrever e falar japonês. Se meu pai tivesse sido presente, talvez hoje eu falasse fluentemente. Isso até me ajudaria no meu trabalho. Porque hoje tenho que ter professor particular. Sempre que tenho texto em japonês, preciso buscar professor, ouvir no gravador e ficar repetindo, repetindo...
Sinto que tenho algo genético, porque gosto de coisas manuais, fazer dobraduras, coisas pequenininhas. Isso é uma coisa natural minha, não foi passada pelo meu pai. Gosto de pintar, de desenhar, sou detalhista, isso tudo é meu. Sou bastante paciente, mas não sei se é por causa da família japonesa.
Outro dia, durante uma viagem de avião, eu estava desenhando o jardim da minha casa, e um japonês, sentado ao meu lado, disse que se parecia muito com casa japonesa. Acredito nessa história de herança genética, está no DNA.
Ah, adoro karaokê! Não vou a lugares, mas em casa, quando tem festa, tenho microfone e deixo ligado pra quem quiser cantar. Adoro saquê, só bebo em restaurante japonês, é a única bebida destilada que consumo. Só bebo cerveja, vinho e saquê.
Eu não tinha o hábito de comer comida japonesa. Meu pai fazia umas frituras meio doidas, como amendoim na frigideira, não sei se abobrinha ou berinjela empanada, gostava de comida com bastante shoyu. E minha mãe cozinhava mais macarrão, arroz e feijão. Só aprendi a comer comida japonesa depois de grande. Um namorado me levou a um restaurante japonês e me empurrou para comer. A quarta vez que eu fui ainda não gostava. Hoje em dia, adoro! Gosto de salmão, sashimi, sunomono, as frituras também. Mas meu prato preferido hoje, se for escolher, é batata doce, cozida ou frita, e macarrão com manteiga. Não troco por nada.
Tenho uma moedinha japonesa que meu pai me deu quando eu era criança. Ela tem um furinho no meio. Também tenho um jardim japonês, para a meditação. Mas fui eu que comprei. Tenho aquele gatinho japonês da sorte (maneki-neko) e uma cabecinha vermelha (amuleto daruma) que ganhei de presente. E um Buda na entrada de casa.
Mas, no meu altar, ficam o jardim japonês, o gatinho, o Buda, uma imagem de Nossa Senhora, do Padre Cícero e do Dalai Lama. Quando o negócio aperta, corro pro meu ´Padim Ciço`, Jesus Cristo e Nossa Senhora.
Depoimento ao jornalista Paulo Ricardo Moreira
Fotos: Carlos Ivan Siqueira / divulgação da TV Globo / arquivo pessoal
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil