Conte sua história › Daniele Suzuki › Minha história
Recentemente, meu pai me escreveu uma carta contando como os meus bisavós chegaram ao Brasil. Ele contou que meu avô, Toshiharu Suzuki, tinha 7 anos quando os seus pais resolveram vir para o Brasil trabalhar na lavoura, em 1908. Meu pai disse que a grande mágoa do meu avô era saber que os pais não tinham necessidade de vir para cá, porque eram donos de várias propriedades no Japão. Mas eles sonhavam em voltar mais ricos e bem-sucedidos para sua terra natal. Meu avô e o irmão, Shizuo, de 5 anos, ficaram com os tios no Japão, enquanto meus bisavós embarcaram no navio Kasato Maru rumo ao porto de Santos. No dia da partida, meu avô Toshiharu pegou uma lamparina e ficou no meio do mato esperando passar o trem que levaria os meus bisavós de Shizuoka ao porto de Kobe. Quando o trem passou, meu avô correu atrás, gritando pelos pais.
Meu pai conta ainda que, depois de 18 anos, meu avô Toshiharu e o irmão Shizuo vieram ao encontro dos pais, que trabalhavam duro nos cafezais, no interior de São Paulo. Eles foram chamados para tentar alavancar os negócios. Meus bisavós tiveram três filhas e um menino no Brasil. Assim que meu avô chegou, em 1936, a família tratou de arrumar um casamento para ele. Era uma união por miai, ou seja, o futuro casal é reunido para um encontro, se conhece, mas não fala nada. Foi assim que meu avô conheceu a minha avó Toshiko. Eles se casaram e foram morar com os pais dele na fazenda de café.
A carta do meu pai explica que minha avó foi criada na cidade e não conhecia a vida na fazenda. Dizem que ela até adoeceu por causa do trabalho, mas pouco a pouco foi se acostumando.
Meus avós só tiveram o primeiro filho, Mario Key, depois de três anos de casamento. Depois vieram Paulo Mamoru, Minoru, Tiyoko, Hiroshi, Tatsuo e Tomiko. Todos nasceram no interior de São Paulo. Meu pai conta que minha avó queria que os filhos estudassem e dizia sempre que não queria que os filhos se tornassem peões, já que na época eles criavam gado.
Segundo meu pai, o relacionamento do meu avô com o pai dele não era muito bom. Meu avô e minha avó foram morar como meeiros numa terra arranjada pelo pai dela. Meu avô não conhecia a lavoura, porque no Japão ele trabalhava em um jornal. Meus bisavós deixaram de falar com meu avô quando ele e a mulher se mudaram.
Pela carta do meu pai, eu soube que, na tradição japonesa, o filho mais velho é quem herda todos os bens dos pais. Como meu avô saiu de casa brigado, seus pais resolveram entregar a herança a um genro, casado com a filha mais velha, já que o caçula tinha morrido. Só que o cunhado do meu avô acabou com toda a herança e ele, como filho mais velho, resolveu acolher os pais em sua casa.
Depoimento ao jornalista Paulo Ricardo Moreira
Fotos: Carlos Ivan Siqueira / divulgação da TV Globo / arquivo pessoal
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil