Conte sua história › Kátia Keiko Harasaki › Minha história
O Japão pós-guerra demonstrou suas faces ímpares, entre uma sociedade totalmente destruída e o renascimento de outra desconhecida para o mundo. Eu, Kátia Keiko Harasaki, meus irmãos, Massami Harasaki e Arthur Tetsuji Harasaki, meus pais, Takao Harasaki e Sugano Harasaki e demais familiares, um dia embarcamos a bordo do desconhecido, a bordo de um sonho e, juntamente com outros milhares de imigrantes japoneses vimos aqui, nas terras brasileiras, um lugar melhor e mais digno para vivermos e construímos nossas vidas. Somos uma família vinda da região de Chugoku da província de Yamaguchi-ken.
A bordo do Brasil Maru II em 1960, os maiores sacrifícios enfrentados por nós e outros imigrantes não estavam nos poucos bens materiais deixados no Japão, e sim em nossas origens, língua, cultura, costumes e o mais sagrado, nossa própria terra. A nossa história imigratória inicia-se tragicamente dias antes do embarque. Meu irmão, Kenji Harasaki, o terceiro entre os quatro irmãos (sendo eu a caçula) na época com 6 anos de idade, vinha a falecer, vitima de uma grave doença, causando-nos uma profunda e irreparável tristeza.
Minha mãe mesmo com a dor da perda prosseguiu nessa viagem e que durariam 42 dias até o porto de Santos. Do porto de Santos fomos até a região de Mato Grosso (hoje Mato Grosso do Sul) hospedando na colônia de Jamic. Na época em que chegamos estava com apenas 1 ano e 8 meses de idade. Sendo a mais nova da família e tendo dois irmãos mais velhos, Arthur Tetsuji com 8 anos e Massami com 10 anos, as dificuldades que encontramos no início foram agravadas pela intoxicação de minha mãe aos agrotóxicos que utilizava na lavoura de algodão, levando meu pai a mudar-se para a cidade de Campo Grande, deixando assim, o trabalho na lavoura, para o meu irmão mais velho.
Em Campo Grande, a primeira profissão exercida pelo meu pai foi no setor civil, como carpinteiro. Após minha família ter conseguido estabilizar-se economicamente na cidade, meu irmão mais velho que estava da colônia Jamic, muda-se para Campo Grande, iniciando também sua profissão na área da construção civil. Ao mesmo tempo em que meu pai e meu irmão mais velho exerciam suas profissões, minha mãe, eu e meu outro irmão trabalhávamos em nossa quitanda comercializando produtos hortifrutigranjeiros. No começo, por não falar bem o português, minha mãe foi ajudada pelos vizinhos que ali viviam. Assim, pela persistência em que levávamos nossas vidas e por ver todas as dificuldades enfrentadas, iniciei meus estudos nas escolas brasileiras.
Ao concluir o ensino fundamental e médio, tive a felicidade de ser aprovada no vestibular para o curso de Odontologia da UFMS. Carreira essa que exerci durante mais ou menos 20 anos. Lembro-me com muita emoção do presente dado pelos meus pais no dia em que formei. Meu primeiro consultório odontológico. Em 1982 me casei com meu marido, Mário Seiti Shiraishi e fomos assim abençoados com três filhos, Marcelo Yukio Shiraishi (hoje com 25 anos), Karin Mayumi Shiraishi (hoje com 23 anos) e Maira Yuri Shiraishi (hoje com 22 anos).
No dia 13 de Janeiro de 1996 meu pai vinha a falecer. Por conseqüência dessa grande perda e também pelo grande amor que existia entre meus pais, minha mãe no dia 13 de Julho de 1997 também vinha a nos deixar. Dois momentos de dores e profundas comoções. Nessas horas da vida é que ela se demonstra complacente ao eterno e puro entre os dois sentimentos, o da perda e do amor.
No dia 1o de maio do ano 2004, a vida me presenteia o meu primeiro neto, Gabriel Yukio Shiraishi. Três anos depois, no dia 25 de Junho de 2007, o segundo neto, Matheus Enzo Shiraishi. Ambos filhos de minha filha Karin. Bem, sobre essas recordações e realidade vivenciada por mim na época da imigração, digo que foram realmente essenciais na construção do que são hoje valores na minha vida e que também repasso aos meus filhos e, agora, aos meus netos.
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil