Conte sua história › Gustavo de Barros Correia Kyotoku › Minha história
Não creio que seja necessário contar a história da minha ascendência japonesa, pois meu pai já o fez em: (http://japao100.abril.com.br/perfil/465/historia/636/).
Eu tenho um costume de dividir minha vida em fases, o regresso ao Brasil representa uma linha divisória. A partir de 89 já consigo lembrar bem das coisas, das eleições, do impeachment, que eu inclusive participei de uma passeata com a escolinha de artes que freqüentava, fatos históricos do Brasil que eu vi com olhares de uma criança e só soube mais tarde da importância.
Entre 89 e 96 minha vida seguiu um curso mais ou menos padronizado, exceto participar de um coral e depois aprendi inicialmente o violino e mais tarde o piano. Meu irmão e eu e depois minha irmã, também, praticávamos algum esporte e íamos a escolinha de artes.
Nossa família sempre ia para festas da família em Recife e no final do ano, logo depois do natal, quase sempre, íamos para São Paulo e ficávamos, em geral na casa de “obatchian” Hisako, até o final de janeiro.
A vida para um descendente de japonês em João Pessoa, creio eu, é um pouco diferente. Como há poucas as pessoas de origem oriental, sempre despertávamos olhares curiosos, que terminamos nos acostumando, mas meu primo de São Paulo comentou sobre isso quando esteve aqui. Quando nós conhecíamos novos amigos sempre tinham as perguntas padrões, “Você é do Japão?”, “Você já foi ao Japão” e “Você sabe falar japonês?”. Sempre ficava irritado com estas perguntas.
Na escola a gente ia bem, mas quando fazíamos alguma coisa diferente, mesmo que não tivesse nenhuma relação, era coisa de japonês. Lembro que uma vez minha mãe, que não tem ascendência japonesa, falou pra colocar uma moldura com jornal enrolado num cartaz feito de cartolina (na verdade ela que fez isso mesmo, trabalhos de escola que terminam virando tarefa de mãe) e a professora gostou bastante, eu não queria levar pra não parecer muito diferente do pessoal, já achava um pouco desconfortável ter aparência física um pouco diferente. Mas havia coisas que realmente não negavam minhas origens, sempre fazia alguns origamis e dava pro pessoal. Um que fez muito sucesso foi uma máquina de fotografar, a dobradura é bem simples e esta no livro mais conhecido da Mari Kanegae, mas como tem um movimento, é bem divertido pra crianças. Minha professora na época acabou colocando uma nota num jornalzinho da escola com o título: “Coisa de japonês”.
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil