Conte sua história › Toshi Hara › Minha história
Aos 17 anos de idade, no dia do seu casamento, Toshi Takemae conheceu Tahiti Hara, com 24 anos, em Nagano-Ken. Para vir ao Brasil era necessário ter no mínimo 3 membros e para isso trouxeram uma filha adotiva (Koome Ogawa que foi registrada como Hara )
Passaram 10 dias em Kobe no Bingoya Ryokan, aguardando a partida do navio.
A família embarca no Wakasa-Maru no dia 07 novembro de 1917 (Taisho Ritinen) na tentativa de encontrar fortuna fácil e retornar logo para o Japão.
Viajaram por mais de 60 dias no porão do navio para chegar a terra prometida, onde uma esteira era dividida pela família, desembarcando em Santos, no dia 23 de janeiro de 1918.
Iniciaram suas vidas na Fazenda Santa Rita em Ribeirão Preto, praticamente como escravos. A casa era de madeira e a cama improvisada com madeiras e colchão de palha de milho.
As despesas com passagens tinham sido financiados pelos fazendeiros no Brasil que seriam descontadas no período de um ano de trabalho. Por mais que trabalhassem, as despesas não davam para custear a alimentação mais as dívidas.
Foi inicialmente trabalhar em lavoura de café, muitas vezes em troca apenas de comida. A falta de entendimento do idioma fazia com que de alguma forma fossem explorados e enganados. Encontraram aqui, um ambiente hostil pelos problemas encontrados e assim o sonho de riqueza fácil e o retorno ao Japão foram ficando distantes.
Tempos difíceis, até os sapatos trazidos do Japão foram vendidos, para poderem comer. Já acostumados a caminhar descalços, estavam sempre pegando algum tipo de doença, como o chamado “bicho do pé”. A alimentação inadequada somada a situação financeira, sempre desencadeava uma série de outras doenças .
O cobertor era dividido ao meio e apesar da abundância de água, tomavam banho em bacias, até conseguirem comprar um tambor improvisando um “ofuro” que era aquecido a lenha.
Após dois anos de trabalho, foram para a Fazenda Suiça em Inachoa, próximo à Tabatinga e Cedral, onde nasceram os primeiros filhos.
A vida foi melhorando aos poucos, quando como meeiro, cultivava café na terra de terceiros, conseguindo acumular um pouco de dinheiro, adquirir casa, terra para plantação de arroz em Marília.
Aí vivia em uma comunidade chamada “Pombo” onde o marido Sr.Tahiti, como presidente acomodava, os professores vindo do Japão em sua casa, despesas que os imigrantes unidos contratavam para ensinar a língua e cultura japonesa, aulas de judô, costura e outras atividades.
Por conhecer muita gente, o marido foi apelidado de “santo casamenteiro” tendo feito “miai” para centenas de casais. Com isso, a “batiam” foi madrinha de casamento de muita gente.
Como contraiu uma doença nas mamas, duas feridas enormes e não tinha recursos para ir ao médico, teve que se curar sozinha, com medicamentos caseiros. Assim, ela não pôde amamentar seus filhos que foram criados com leite de cabra.
Também foi vitima da febre tifoide e precisou se ausentar por algumas semanas da casa, para não contagiar os demais.
Na época existia um livro escrito pelo Dr.Sentaro Takaoka para ajudar os imigrantes na cura de doenças com tratamentos fitoterápicos. A maior parte dos imigrantes possuia este livro e seguiam rigorosamente os conselhos ditados neste livro.
Tinham como alimentação caruru refogado, picão, bordega, iça torrado.
Pelas instruções do livro, bordega era muito bom para eliminar a lombriga.
Para clarear as noites, além da lua, aprendeu a colocar alguns vagalumes em uma garrafa, que por fim virou divertimento das crianças.
As crianças iniciaram o trabalho muito cedo, ajudando nos trabalhos duros como carpir, arar ,semear e colher. Como a escola era distante, achavam que os menores seriam mais úteis na roça.
Visualizando horizontes melhores,mudou-se para Cocuera (Mogi das Cruzes) desta vez fazendo mudas de eucaliptos, e plantando milho e feijão.
Além da dificuldade do idioma, o trabalho era muito duro e os hábitos totalmente diferentes. Os temperos não eram os habituais e a alimentação muito gordurosa para o paladar dos japoneses. Em épocas melhores, verduras e legumes, principalmente batata doce, mandioca, começaram a fazer parte do cardápio , que eram resultados da colheita na sua própria horta, sempre acompanhado de um arroz branco.
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil