Conte sua história › Marcelo Norio Inada › Minha história
Deixei a casa de meus pais com 18 anos para estudar em São Paulo. Decidira fazer Medicina. Foram dois anos de muita dedicação aos estudos para ingressar na faculdade. Olhando para trás, parece fácil, mas na época, abdiquei de muita coisa! A saudade de casa, dos pais, dos irmãos... o conforto de casa... Mas sempre me lembrava de meus avós, viajando para o outro lado do planeta... e eu, a apenas 540 km de casa! Isso me dava forças! Ralei muito! Passei! Fui pra Faculdade Estadual de Medicina de Marília (meu pai me avisara que não poderia me manter em uma particular). De lá tenho muitas boas recordações e amigos que me acompanham até hoje!
Agradeço a meus pais que sempre me incentivaram e fizeram questão de “estudar os filhos”, como minha batiam diz que também sempre fez! Meus três outros irmãos também são médicos! Meus pais se orgulham muito disso e eu sei como foi difícil manter cada um de nós estudando em uma cidade diferente ao mesmo tempo! Mantendo cinco casas! A dele e dos quatro filhos, um em cada cidade.
Acabando a faculdade, comecei a caminhar por conta. Passei dois anos na residência de cirurgia geral e trauma e voltei para São Paulo para fazer o que realmente descobri que gosto: cirurgia plástica. Estudei muito de novo para passar na residência! Muito mesmo! Estudando muitas vezes de dia, à tarde e a noite inteira! Durante toda a semana, e também muitas vezes nos finais de semana! Fora isso, precisava trabalhar para me sustentar. Fui aprovado num dos melhores centros formadores na especialidade: o Hospital dos Defeitos da Face.
Passei mais três anos operando, trabalhando por fora à noite para sobreviver e dando muitos plantões.... Deixava sempre uma mala no carro e roupa no hospital, porque emendava dias sem voltar para casa. Muitas vezes passei dois e até três dias de plantão seguidos, sem voltar para casa! Quem olha de fora, não imagina o quanto trabalhamos (e quase não ganhamos), nós, médicos em formação. Oitenta, às vezes até noventa horas na semana! Mas como disse Lance Armstrong, um campeão do ciclismo: “Trabalho feito um condenado, mas adoro o que faço!”. E, além de operar, tenho que ter um dom artístico!
Para preservar a saúde ainda assim, procuro seguir e recomendar a todos a definição de saúde. Definida como um bem-estar físico, mental e social.
Cuido do físico correndo. Como Platão (428 a.C.) já dizia, e depois a Asics seguiu como lema: "Anima Sana In Corpore Sano" (mente sã em corpo são). Corro 10 km, de três a quatro vezes na semana. Estou treinando para uma maratona! Temos sempre que ter um objetivo para treinar e para a vida! Desde que comecei a correr, sinto-me mais saudável: nem gripado mais fiquei.
Da mente, procuro cuidar seguindo a filosofia da Seicho-no-ie. Não daria para resumir aqui, mas não é difícil achar. Recomendo! Todos precisamos ter alguma espiritualidade em nossas vidas! Independente de qual seja. Respeito todas.
Do social, sempre lembro e procuro estar perto das pessoas que gosto e amo!
Assim, pra resumir: como um “japabrazuca” (porque quando minha irmã foi para o Japão, chamaram-na de brasileira! E aqui somos japoneses!), posso cantar Zeca Pagodinho: "Sou feliz e agradeço por tudo que Deus me deu!”.
E para aquele meu colega da pré-escola que me fez ir pra diretoria, peço desculpas e digo: “Sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor!”.
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil