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Marcelo Norio Inada

São Paulo
48 anos, médico

De olho no futuro, em São Paulo


Deixei a casa de meus pais com 18 anos para estudar em São Paulo. Decidira fazer Medicina. Foram dois anos de muita dedicação aos estudos para ingressar na faculdade. Olhando para trás, parece fácil, mas na época, abdiquei de muita coisa! A saudade de casa, dos pais, dos irmãos... o conforto de casa... Mas sempre me lembrava de meus avós, viajando para o outro lado do planeta... e eu, a apenas 540 km de casa! Isso me dava forças! Ralei muito! Passei! Fui pra Faculdade Estadual de Medicina de Marília (meu pai me avisara que não poderia me manter em uma particular). De lá tenho muitas boas recordações e amigos que me acompanham até hoje!

Agradeço a meus pais que sempre me incentivaram e fizeram questão de “estudar os filhos”, como minha batiam diz que também sempre fez! Meus três outros irmãos também são médicos! Meus pais se orgulham muito disso e eu sei como foi difícil manter cada um de nós estudando em uma cidade diferente ao mesmo tempo! Mantendo cinco casas! A dele e dos quatro filhos, um em cada cidade.

Acabando a faculdade, comecei a caminhar por conta. Passei dois anos na residência de cirurgia geral e trauma e voltei para São Paulo para fazer o que realmente descobri que gosto: cirurgia plástica. Estudei muito de novo para passar na residência! Muito mesmo! Estudando muitas vezes de dia, à tarde e a noite inteira! Durante toda a semana, e também muitas vezes nos finais de semana! Fora isso, precisava trabalhar para me sustentar. Fui aprovado num dos melhores centros formadores na especialidade: o Hospital dos Defeitos da Face.

Passei mais três anos operando, trabalhando por fora à noite para sobreviver e dando muitos plantões.... Deixava sempre uma mala no carro e roupa no hospital, porque emendava dias sem voltar para casa. Muitas vezes passei dois e até três dias de plantão seguidos, sem voltar para casa! Quem olha de fora, não imagina o quanto trabalhamos (e quase não ganhamos), nós, médicos em formação. Oitenta, às vezes até noventa horas na semana! Mas como disse Lance Armstrong, um campeão do ciclismo: “Trabalho feito um condenado, mas adoro o que faço!”. E, além de operar, tenho que ter um dom artístico!

Para preservar a saúde ainda assim, procuro seguir e recomendar a todos a definição de saúde. Definida como um bem-estar físico, mental e social.

Cuido do físico correndo. Como Platão (428 a.C.) já dizia, e depois a Asics seguiu como lema: "Anima Sana In Corpore Sano" (mente sã em corpo são). Corro 10 km, de três a quatro vezes na semana. Estou treinando para uma maratona! Temos sempre que ter um objetivo para treinar e para a vida! Desde que comecei a correr, sinto-me mais saudável: nem gripado mais fiquei.

Da mente, procuro cuidar seguindo a filosofia da Seicho-no-ie. Não daria para resumir aqui, mas não é difícil achar. Recomendo! Todos precisamos ter alguma espiritualidade em nossas vidas! Independente de qual seja. Respeito todas.

Do social, sempre lembro e procuro estar perto das pessoas que gosto e amo!

Assim, pra resumir: como um “japabrazuca” (porque quando minha irmã foi para o Japão, chamaram-na de brasileira! E aqui somos japoneses!), posso cantar Zeca Pagodinho: "Sou feliz e agradeço por tudo que Deus me deu!”.

E para aquele meu colega da pré-escola que me fez ir pra diretoria, peço desculpas e digo: “Sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor!”.


Enviada em: 11/10/2007 | Última modificação: 11/10/2007
 
Infância em Araçatuba »

 

Comentários

  1. Paulo Katsuda Filho @ 18 Dez, 2007 : 09:52
    Realmente isso é um fato que acontece nas nossas vidas de descendencia japonesa. Meu caso, sou filho de mãe japonesa e pai nissei. Coincidentemente tive minha infância em Araçatuba, onde tive a felicidade de conhecer esse "japonês" (Norio) e realmente acontece exatamente o que ele descreve acima. Parabéns!

  2. willy taguchi @ 26 Dez, 2007 : 11:51
    JAPONES/CALABRES. É interessante que esta expressão, provavelmente foi criada durante a II Grande Guerra e devia se referir a nikkeys - JAPONES e a descendentes de italianos - CALABRES. Por forca dos costumes, ficou EXCLUSIVAMENTE dedicada aos nikkeys.

  3. nelsonsinzato@brturbo.com.br @ 13 Jul, 2008 : 17:15
    Parabéns Sr. Marcelo. O Dr. protagonizou a versão do incrível Hulk japonês. Foi parar na diretoria, mas certamente sentiu com a "alma lavada". Porém creio que o Sr. também "lavou a alma" de outros que foram alvos dessa brincadeira de mau gosto.

  4. Renato Yassuda @ 8 Set, 2008 : 17:47
    Prezado INADA Norio-san; Gostei muito de seus relatos. Apenas gostaria de acrescentar que esta brincadeira infeliz que ouvimos na nossa infancia também ocorria com os descendentes de outras nacionalidades, como frisou o sr. Willy Taguchi em seu comentário anterior ao meu, sobre CALABRES = Italiano. Também ouvi esta fala sobre alemães: "Alemão batata come quejo com barata". Realmente creio que a II Guerra Mundial criou uma ojeriza aos representantes dos povos da Tríplice Aliança que perseguiu seus descendentes até hoje. Mais triste e lamentável é quando vemos estas manifestações entre pessoas adultas, a se referirem com qualquer forma preconceituosa de se referir ao outro. Quantas vezes não vemos estas manifestações preconceituosas em relação a outros povos e percebemos a pobreza de espírito de quem as profere. Pelo menos o senhor manifestou seu repúdio de forma CONTUNDENTE. Parabéns.

  5. Renato Yassuda @ 8 Set, 2008 : 17:55
    Prezado INADA Norio-san; Apenas complementando meu comentário anterior, acho importante que nós, na nossa geração e nas posteriores, possamos ainda mais promover a integração de nossa descendência ao povo brasileiro, contribuindo com a construção deste belo país. Quem já teve a oportunidade de conhecer outros países sabe que por mais dificuldades, defeitos e limitações que encontramos em nosso país, ainda sim são muito mais promissoras as potencialidades futuras deste em relação aos demais países. Cabe a nós fazermos nossa parte para a melhoria deste cenário e tenha sempre em mente que percorrer o caminho é mais importante que como se cruza a linha de chegada. Se puder, por favor leia também meu relato neste site. Ficarei grato e honrado. Saúde e Paz. Atenciosamente; Renato.

  6. Marcelo Norio Inada @ 29 Jan, 2009 : 23:00
    Pessoal!!! Meu site: www.marceloinada.com.br Um grande abraço! Marcelo Norio Inada

  7. Solange Moriwaki @ 17 Fev, 2009 : 10:43
    Nossa Marcelo gostoso ler de sua vida.nem nos conhecemos,mas é bonito de ver uma pessoa de tantos talentos,vejo que vc é um autentico aquariano,rs Bonito ver que vc expoe sua vida particular e profissonal,muitas pessoas fariam o contrario...mas quero q saiba.Que sendo assim vc transmite esperança a muitas pessoas.esperança de um dia melhor,se corrermos atraz dos nossos objetivos venceremos...Por isso,quero Parabeniza-lo e dizer q tenho orgulho de ser Araçatubense... Pq vc tbm nasceu na mesma cidade que eu..e quem sabe podemos ter amigos em comum..Q Deus o abençoe sempre..pq vc é um aquariano ILIMINADO!!

  8. mario katsuhiko kimura @ 17 Fev, 2009 : 12:30
    Parabens nobre sanssei Dr. Marcelo Norio Inada, Tenho uma filha também médica, Letícia Yurie Kimura, atua na área de radiologia junto a Medimage SP (Beneficência Portuguesa) e Grupo São Luiz (SP), também sanssei, nascida em 1978. Pelos seus relatos vejo que na sua região preservou-se mais os costumes do país do sol nascente, pois acho incomum sofrer ainda discriminação na sua geração por ser descendente. Na minha época de nissei era ¨japones calabrês come queijo com barata¨. Gostei da maneira que narra a sua historia, até cômico. Parabéns. Sucesso na sua vida pessoal e profissional. Grande abraço.

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