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Nádia Sayuri Kaku

São Paulo / SP - Brasil
38 anos, Estudante

As cartas que não chegaram


Meus avôs, pais do meu pai, chegaram no porto de Santos em 8 de dezembro de 1932. Vieram com eles, duas filhas pequenas. No interior de São Paulo, eles se estabeleceram e tiveram muitos outros filhos – entre eles, meu pai – e perderam a maioria. A história podia ser triste, mas o futuro trouxe várias alegrias para os netos.

Mas o que eu quero contar é de antes de eles chegarem no Brasil. Diz a lenda que minha batyan era de uma família rica em Kumamoto. Meu dityan era um agricultor pobre que teve um filho com uma mulher e não pode se casar com ela, pois a família dela não aceitou. Quando ele conheceu minha avó e conseguiu se casar, a família dela também não aceitou, por causa da diferenças de classes. O que os dois fizeram, então? Fugiram para o Brasil.

Algum tempo depois, o meu bisavô, preocupado com a filha, mandou um sobrinho para cá, para tentar obter notícias. Ele veio e foi parar no Paraná. Demorou anos para achar minha avó, e olha que até chegou a pôr anúncios nos jornais japoneses da região. Quando encontrou, a busca não tinha mais sentido, e ele acabou ficando por aqui.

Às vezes eu penso que tudo isso significa que eu ainda tenho algum parente rico lá no Japão. Quem sabe um dia eu não vou para lá reclamar minha herança?

Pena que toda essa história está se perdendo. O pouco que eu sei, foi contado pelas minhas tias para a minha mãe. E olha que eu tenho em casa vários documentos que ninguém sabe ler. O que mais me intriga são folhas e folhas de escritos da minha avó (vejas só, vários kanjis e ainda diziam que ela era analfabeta), que ninguém sabe se são cartas que nunca foram enviadas ou anotações pessoais.

Prefiro apostar na primeira hipótese, porque me lembra a história de um dorama da NHK, “Haru e Natsu – As Cartas que não Chegaram”. Quem sabe um dia eu também melhoro meu nihongo a ponto de desvendar os segredos por trás dessas folhas também?


Enviada em: 17/10/2007 | Última modificação: 29/02/2008
 
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Comentários

  1. Luiz Fukushiro @ 17 Out, 2007 : 18:02
    eu conheci diversas harumis. duas delas eram harumi tanaka. e não eram parentes.

  2. Johnny @ 17 Out, 2007 : 18:11
    Eu também conheci algumas Harumis...mas eu não sabia que era proibido antigamente registrar só com nome japonês....mas Mayumi francês, hilário..shuuahsuhausha

  3. Sílvio Sano @ 27 Dez, 2007 : 18:11
    O seu texto sobre os nomes mais comuns adotados pela comunidade nikkei no Brasil, remeteu-me a alguns casos curiosos tb para a escolha dos nomes japoneses, influência da cultura ancestral. Um deles é pela ordem de nascimento, como Kazuo (1º homem), Jiro (2º homem), Mitsuo (3º homem) ou Kazushi (4ª paz, por coincidência, meu nome, mas que devido aos caracteres japoneses que o compõe, leva a esse significado - e, na verdade, sou o 4º homem dentre sete, homens e mulheres). Mas o do meu "nissan" (irmão mais velho) é tb interessante: Jorge Tsuneharu. O nome japonês dele tem também outra leitura, naquela língua: Jooji. Ou seja, Jorge "Jooji". Para mim, não foi sem querer que o meu pai, assim, o nominou.

  4. Karen @ 8 Jan, 2008 : 13:08
    Oi Nádia, gostei muito do seu perfil. Achei muito interessante a história das cartas - no dia que você conseguir lê-las, acho que irá ter descobertas muito bacanas. E espero que conte pra gente!

  5. Renzo Morishi-ta @ 14 Jan, 2008 : 08:20
    Belo relato o seu em "Japão ao vivo, a cores e com sons". Muito bem redigido!

  6. Renzo Morishi-ta @ 14 Jan, 2008 : 08:24
    A história que você contou em "Nomes de “japonês”" eu não conhecia. Que abuso de poder, de violência, de arbitrariedades contra os direitos de uma família poder escolher os nomes de seus filhos. O que os japoneses não tiveram que passar!

  7. Norika @ 19 Jan, 2008 : 22:16
    Olá Nadia.Gostei muito dos seus textos.Gostei da procura das nossas raízes.Vou acrescentar mais uma curiosodade sobre nomes japoneses.Na minha época (pós guerra)e talvez só na minha cidade (Pompéia),quando se registravam meninas, os nomes deveriam terminar com a vogal a (fem).Daí o meu nome Norika, minha irmã Kazuka e assim por diante.Mais um absurdo que o Renzo não conhecia.Absurdos que nossos pais tiveram que engolir. Abraços.

  8. Karen @ 24 Jan, 2008 : 11:13
    Oi Nádia, "Haru ga kita" também é uma música que eu ouvia muito quando criança. Aliás, até hoje lembro de muitas músicas, como "Furusato"... acabaram virando parte das lembranças da minha infância! Algum dia vou fazer uma lista dessas músicas. Continue nos contando suas histórias, eu me identifiquei com vários trechos!

  9. maytane @ 26 Jan, 2008 : 02:11
    olá, meu sobrenome tambem é kaku. tenho 18 anos e atualmente moro em santa catarina gostaria de saber mais sobre nossos antepassados se quiser me add no MSN hoshii_m@hotmail.com

  10. Karen @ 28 Abr, 2008 : 17:27
    Oi Nádia, Gostei muito das suas fotos do Japão - adorei a foto do "tadaima", com um monte de sapato amontoado na entrada. Aliás, acho que quem vai para o Japão deveria evitar ao máximo sapatos com cadarço. Eu perdia um tempão amarrando e desamarrando os sapatos na hora de entrar ou sair de casas e prédios!

  11. Bruno @ 11 Abr, 2009 : 14:40
    Olá pessoal, apesar de eu não ter nenhuma descendência japonesa, eu acho muito legal essa interação entre brasileiros e japoneses. Adoro o japão, sua cultura, musica, e etc. Vocês descendentes devem ter muito orgulho disso. obrigado a por lerem. Fiquem com Deus, tchau :).

  12. Adriana @ 23 Jun, 2010 : 12:08
    Minha sobo tb veio de Kumamoto. Obrigada pela música q é linda!!! :)

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