Conte sua história › Nádia Sayuri Kaku › Minha história
Meus avôs, pais do meu pai, chegaram no porto de Santos em 8 de dezembro de 1932. Vieram com eles, duas filhas pequenas. No interior de São Paulo, eles se estabeleceram e tiveram muitos outros filhos – entre eles, meu pai – e perderam a maioria. A história podia ser triste, mas o futuro trouxe várias alegrias para os netos.
Mas o que eu quero contar é de antes de eles chegarem no Brasil. Diz a lenda que minha batyan era de uma família rica em Kumamoto. Meu dityan era um agricultor pobre que teve um filho com uma mulher e não pode se casar com ela, pois a família dela não aceitou. Quando ele conheceu minha avó e conseguiu se casar, a família dela também não aceitou, por causa da diferenças de classes. O que os dois fizeram, então? Fugiram para o Brasil.
Algum tempo depois, o meu bisavô, preocupado com a filha, mandou um sobrinho para cá, para tentar obter notícias. Ele veio e foi parar no Paraná. Demorou anos para achar minha avó, e olha que até chegou a pôr anúncios nos jornais japoneses da região. Quando encontrou, a busca não tinha mais sentido, e ele acabou ficando por aqui.
Às vezes eu penso que tudo isso significa que eu ainda tenho algum parente rico lá no Japão. Quem sabe um dia eu não vou para lá reclamar minha herança?
Pena que toda essa história está se perdendo. O pouco que eu sei, foi contado pelas minhas tias para a minha mãe. E olha que eu tenho em casa vários documentos que ninguém sabe ler. O que mais me intriga são folhas e folhas de escritos da minha avó (vejas só, vários kanjis e ainda diziam que ela era analfabeta), que ninguém sabe se são cartas que nunca foram enviadas ou anotações pessoais.
Prefiro apostar na primeira hipótese, porque me lembra a história de um dorama da NHK, “Haru e Natsu – As Cartas que não Chegaram”. Quem sabe um dia eu também melhoro meu nihongo a ponto de desvendar os segredos por trás dessas folhas também?
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil