Conte sua história › Graziela Mateus › Minha história
Meu nome é Graziela, tenho 28 anos, trabalho em uma das Unidades do Serviço Social do Comércio e estou cursando graduação em Jornalismo.
Sempre me interessei pela Cultura Japonesa. Desde adolescentes, meus irmãos eram obrigados a ouvirem piadas de amigos do tipo:
Olha fulano, fala para sua irmã que vou puxar os olhos para entrar na turma dela ( esse era apenas um dos comentários que tinham que ouvir constantemente).
Quando conheci o meu primeiro namorado (é claro, não poderia deixar de ser oriental) meu pai ficou louco de ciúme. Sempre dizia que não gostava de japoneses, por achá-los frios e materialistas, e eu só para contrariar, dos poucos namorados que tive, todos foram orientais.Meu pai, por sua vez, nunca fez questão de recebe-los bem. Sempre insistiu na idéia de que eram pessoas calculistas.
Um certo dia, estávamos em casa em uma reunião de família (em dias assim, meu pai costumava pegar o violão e tocar modinhas sertanejas) e entre as músicas que ele cantou naquela tarde, houve uma em especial que deixou a minha mãe furiosa.O motivo, ele havia composto quando adolescente para uma namorada "japonesa" de quem havia gostado muito e que foi assassinada pelo próprio pai. Daí então, consegui entender o porquê da implicância com esse assunto.
Hoje, meu pai não está mais entre nós. Tenho certeza que depois que partiu pôde ter um esclarecimento sobre o que aconteceu no passado.
A violência não depende da cultura e sim do carácter, da criação.A violência está presente no Brasil, no Japão, nos EUA, na África e em toda a parte do mundo. Cabe a nós, seres humanos, mudarmos essa situação, educarmos nossos filhos, colocarmos mais amor e diálogos em nossos lares e fazermos com que ela diminua.
Eu, continuo apaixonada pela cultura japonesa, isso é um sentimento que vem da alma, não quero e não vejo como mudar.
Hoje, sou casada com um descendente e tenho um filho lindo chamado Hideo Sato (ele foi um verdadeiro presente de Deus) um pedacinho do Japão que estará para sempre comigo. Se o meu pai estivesse vivo, talvez conseguisse curar essa ferida do passado com a vinda do netinho, e mudar a opinião tão negativa que tinha com relação ao Japão, mas Deus sabe o que faz...
Meu esposo, é uma pessoa maravilhosa, um homem responsável, carinhoso, dedicado (não poderia ter feito escolha melhor).
Atualmente, ele mora em Toyohashi. Embora o Brasil seja um país maravilhoso e rico em muitos campos, existe uma certa deficiência na "área emprego"e se quisermos construir um futuro melhor para o nosso filho, temos que fazer como muitos, desmembrar nossa família, até conseguirmos alcançar nossos objetivos.
Esse seria um grande motivo de orgulho para o meu pai, e uma prova de que não devemos medir o carácter de uma pessoa pela sua origem, e sim por ela mesma.
"...Um homem com coragem o suficiente para deixar o filho e a esposa em um país e ir batalhar pelo futuro deles em um lugar tão distante, é digno de todo respeito e admiração que se possa ter por alguém".
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil