Conte sua história › Ruy Ohtake › Minha história
Minha mãe, Tomie (95 anos), veio para o Brasil em 1936 para visitar o irmão que já morava aqui. Aí estourou a guerra da China com o Japão, o que interrompeu as viagens entre os países. Logo depois veio a Segunda Guerra Mundial. Minha mãe foi obrigada a ficar aqui. Casou-se. Eu nasci em 1938 e meu irmão, Ricardo, em 1942. A guerra terminou em 1945, mas ela já havia resolvido ficar no Brasil de vez. Em 1951, Tomie voltou ao Japão para visitar os parentes mais próximos (pais e irmãos) e ficou por lá uns três meses, mas como visitante. Hoje ela se sente mais brasileira do que japonesa, apesar de falar mal o português. Até se naturalizou brasileira para representar o Brasil na Bienal de Veneza, no começo da década de 80. Veja imagens que contam a história de Tomie na Galeria de Fotos.
Aos 40 anos, Tomie começou a desenhar sistematicamente. Estudou técnicas, foi aprimorando seus conhecimentos, participando de exposições, bienais e se tornou uma grande artista plástica. Como o atelier da Tomie sempre foi em casa, Ricardo e eu convivíamos com as formas, as cores e os pintores conhecidos, como Aldemir Martins, Manabu Mabe, Volpi. Talvez isso tenha influenciado na nossa escolha pela Arquitetura.
Durante nossa infância, adolescência e até entrar na faculdade, nós moramos no bairro da Mooca, onde minha mãe começou a pintar. A rua tem um nome interessante: Rua da Paz. Nossa casa ficava no meio da quadra. Quando você entrava no sobrado tinha um pequeno hall, à esquerda ficava a primeira sala e à frente a segunda sala, que virou o atelier da Tomie. Mais ao fundo a cozinha e o quintal e, no meio, a escada que subia para os três quartos e os banheiros. Era uma casa simples, porém acolhedora.
Depois mudamos para o Campo Belo, onde Tomie mora até hoje. Foi um dos primeiro projetos que fiz. É um espaço integrado de arquitetura contemporânea, com praticamente um só material. O piso é de concreto cimentado, o forro é a própria laje de concreto e as laterais são de blocos de concreto. O espaço é preenchido por estantes, sofás embutidos na parede. Ainda existe o meu quarto e o do Ricardo, as demais dependências e um jardim no meio, estilo tropical brasileiro, com plantas doadas por Burle Max, que era muito amigo nosso.
Depoimento à jornalista Juliana Almeida
Fotos: Carlos Villalba e arquivo pessoal de Ruy Ohtake e Tomie Ohtake
Vídeos e áudios: Estilingue Filmes
As opiniões emitidas nesta página são de responsabilidade do participante e não refletem necessariamente a opinião da Editora Abril
Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil