Conte sua história › Raul Kodama › Minha história
Quando eu era criança, não sabia que meus pais tinham vindo do Japão. Eles nunca me contaram nada; só falavam sobre coisas de trabalho. Então, eu brigava com todo mundo que me chamava de japonês. Não admitia ser chamado assim.
Só descobri que era descendente de japoneses aos 10 anos de idade, quando a colônia japonesa começou a chegar a Presidente Prudente. Aí ouvi falar que meu pai, Ryoichi Kodama, tinha vindo para o Brasil no navio Kasato Maru. (Assista ao vídeo da história da viagem de Ryoichi, contada por Alice Kodama, esposa de Raul. Veja também outros vídeos).
Meus pais conversavam entre si e comigo em português. Os costumes em casa eram brasileiros. A gente não fazia festa no oshoogatsu (Ano Novo) como os japoneses. Minha mãe fazia comida especial no Natal: bolo, frango. Nossa alimentação era feijão, arroz, farinha, carne-seca.
Fomos morar em Presidente Prudente, em 1926, eu tinha 9 anos. Meu pai comprou um caminhãozinho “pé de bode” para trabalhar fazendo carreto. Minha mãe lavava roupa para os outros e eu ajudava na entrega.
Quando eu era moleque de rua, entre 9 e 10 anos, tinha uma vida divertida. Brincava de pião, pipa e biroquinha (bolinha de gude) com outros brasileiros. E fazia bico como engraxate, para comprar bala e ir ao cinema.
Com 10 anos, comecei a trabalhar numa oficina mecânica. Aos 15 anos, já trabalhava como chofer de caminhão. Eu sempre consertei tudo sozinho, nunca mandei para a oficina.
Entrei na escola japonesa e não entendia nada. Os outros meninos me xingavam de “bakatarê” (bobo) e eu ria. Quando descobri, comecei a brigar com todo mundo e quebrei a escola. Eu resolvia tudo no braço mesmo.
Depoimento à jornalista Kátia Arima
Fotos: Alexandre Schneider e arquivo pessoal de Raul Kodama
Vídeos e áudios: Estilingue Filmes
Lembranças da infância
O plano de estudar no Japão
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil