Conte sua história › Raul Kodama › Minha história
Antes, eu tinha me voluntariado para trabalhar no exército, para poder estudar. Mas o capitão me chamou de vagabundo. Então, eu queria ser expulso do exército e, por isso, só arranjava confusão.
Em 1944 fomos para a guerra, na Itália. Eu não entrei em combate, mas fazia de tudo. Em janeiro de 1945, fui ferido na guerra. Estava levando os soldados para tomar banho, quando explodiu uma bomba.
Quando voltei para o Brasil, pensavam que eu estava louco. Fiquei neurótico e me tratei no Hospital das Clínicas (SP). Como minha família não queria saber de mim, me hospedei num hotel no centro de São Paulo. Às vezes chorava.
Com o dinheiro que ganhei na guerra, pensava em trabalhar como tropeiro. Mas minha mãe precisou gastar tudo. Trabalhei fazendo “bicos”. Fui convidado a voltar para o exército, mas preferi me garantir com o auxílio de invalidez a correr o risco de ser mandado embora.
Me casei em 1958 com Alice [Yoko Yossini]. Freqüentava a casa dela, pois era amigo do irmão dela. Tivemos dois filhos, Nelson e Aristeu. Fui rígido, mas dei liberdade a eles. (Assista ao vídeo em que Kodama fala sobre a educação japonesa)
Fui com meu pai ao Japão, em 1988, convidado pelo governo japonês em comemoração aos 80 anos de imigração japonesa. Eu não queria ir, mas minha esposa insistiu. Fomos recebidos pelo príncipe Akihito, que hoje é o imperador.
Na recepção, todos os japoneses ficavam sentados no chão, mas eu não conseguia. Pensei: sou brasileiro. Fiquei de pé e agradeci a hospitalidade, em português. Todo mundo se levantou.
Hoje me sinto livre. Sou brasileiro e que ninguém fale que não sou. Fui moleque de rua, vim para São Paulo com uma mão na frente e outra atrás; dormi no “Hotel das Estrelas”. Mas consegui.
Depoimento à jornalista Kátia Arima
Fotos: Alexandre Schneider e arquivo pessoal de Raul Kodama
Vídeos e áudios: Estilingue Filmes
Lembranças da infância
O plano de estudar no Japão
As opiniões emitidas nesta página são de responsabilidade do participante e não refletem necessariamente a opinião da Editora Abril
Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil